A incrível terra da leitura no Brasil
- Posted by: Ass. Imprensa
- Posted in Beto na Mídia
- Tags:
Gazeta do Povo – Paraná, 28/10/2009
Passo Fundo realiza até a próxima sexta-feira a 13.ª Jornada Nacional de Literatura, com a presença de convidados de 11 países
Cristovão Tezza vive dias de glória. Instantes após desembarcar do avião, no aeroporto de Passo Fundo, o escritor catarinense radicado em Curitiba foi abordado por alguns leitores que pediam autógrafos. Tezza, que acaba de retornar de temporada europeia, onde permaneceu por 16 dias, para lançar o romance O Filho Eterno(Record) em três idiomas (francês, catalão e holandês), também foi a mais concorrida celebridade da noite da última segunda-feira (26), durante a cerimônia de abertura da 13.ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (RS).
O escritor, colunista da Gazeta do Povo, foi tão, talvez até mais, aplaudido, do que o ministro da Educação, Fernando Haddad. Tezza venceu a 5.ª edição do Prêmio Zaffari & Bourbon, com o romance O Filho Eterno, e recebeu, das mãos do prefeito de Passo Fundo, Airton Langaro Dipp, um cheque de R$ 100 mil.
André Sant’Anna lendo. Fernando Molica conversando com Alcione Araújo. Ignácio de Loyola Brandão concedendo uma entrevista após a outra. Eis algumas cenas de escritores brasileiros de variadas gerações, que antecederam a cerimônia de abertura do evento realizado na cidade que tem o maior índice de leitura do Brasil, 6,7 livros por ano – seis vezes mais que a média nacional (1,8).
A jornada existe desde 1981 e só acontece devido a um esforço que reúne a Universidade de Passo Fundo (UPF), a prefeitura municipal, os governos estadual e federal e a iniciativa privada. O acontecimento, este ano com participação de convidados de 11 países, tem como cenário o campus da UPF, cinco quilômetros distante do centro da cidade, que tem 195 mil habitantes e está situada no norte gaúcho, a 300 quilômetros de Porto Alegre.
Estilo
A organizadora da Jornada, a professora e doutora em Teoria Literária Tânia Rösing, é carinhosamente chamada de “trator”. “É ela quem impulsiona esse evento”, afirma Luis Augusto Fischer, professor e escritor gaúcho. Dezesseis autoridades, incluindo deputados estadual e federal, um vereador, e – entre outros – o escritor Pedro Bandeira, estavam no palco durante a cerimônia de abertura, que aconteceu dentro da maior lona (quase como se fosse um circo) do evento. Todos elogiaram Tânia. Foi ela, por exemplo, quem conseguiu um avião particular para levar e trazer Chico Buarque, a atração de 2007.
Tânia, na presença da secretária de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, Mônica Leal, criticou o fato de a Jornada acontecer, “apesar da crise, da gripe suína, das chuvas da primavera e da ausência dos recursos da lei estadual de cultura”. Toda vez que algum convidado pronunciava o nome Yeda Crusius, governadora do estado, a plateia vaiava. “Fora Yeda” é uma inscrição constante nos muros de Passo Fundo.
O ministro da Educação afirmou que o governo federal pretende divulgar, em todo o Brasil, o exemplo, segundo ele, “paradigmático” de Passo Fundo, “que precisa ser disseminado porque contribui para elevar os índices de leitura.”
O estudante de Jornalismo da UPF Afonso Gobbi, de 20 anos, confirma que os programas de leitura, estimulados durante o ano na cidade, formam leitores. “A leitura é um hábito disseminado na cidade, em todas as classes sociais”, afirma. Ele, natural de Lajes (SC), ao ver o Cristovão Tezza, também lajeano, abriu um sorriso e parabenizou o premiado e célebre escritor. “É uma honra conhecer, pessoalmente, não apenas o mais ilustre cidadão nascido em Lajes, mas o escritor mais importante do Brasil neste momento”.
O jornalista viajou a convite da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo.
Um Brasil diferente
Saiba mais sobre o que está acontecendo em Passo Fundo
Miragem?
Um político sendo aplaudido? Pois é, o deputado federal Beto Albuquerque, responsável por articular apoios para o evento, foi muito aplaudido durante a cerimônia de abertura.
Lonas
Além da lona principal, há outras quatro “loninhas”, como se fossem pequenos circos, onde acontecem alguns eventos da Jornada. Há, ainda, um pavilhão coberto, em que editoras estão com estandes, incluindo espaço para sessões de autógrafos.
A união
No Rio Grande do Sul, a união faz a força. Em Passo Fundo, a prefeitura, aliada à universidade, articulou apoios. A organizadora da Jornada, Tânia Rösing, lamentou a falta de verbas da lei estadual de cultura, mas convidou o governo, que enviou a secretária da Cultura para participar. Apesar da crítica, no Rio Grande dos Sul, todos conseguem conviver, no mesmo espaço.
Um olhar
É possível sentar em um banco, em ruas do centro de Passo Fundo, sem ser incomodado por pedintes, algo cotidiano em qualquer grande cidade brasileira. O transporte público de Passos Fundo inclui ônibus novos, com passagem a R$ 2. Dentro dos coletivos, tem rádio que toca rap; os passageiros conversam muito entre si.
Despertador
No Hotel San Silvestre, onde estão hospedados muitos dos convidados da Jornada, é possível acordar com o badalar do sino de uma igreja. Há pelo menos uma dúzia de churrascarias nas imediações.