Aberto o feirão da barganha na Câmara

Sep 26 2005
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Zero Hora – Porto AlegreZero Hora – Porto Alegre, 26/09/2005
Aberto o feirão da barganha na Câmara

Eleição para presidente da Casa será na quarta-feira

FÁBIO SCHAFFNER/ Agência RBS/ Brasília

Por trás da profusão de candidaturas à presidência da Câmara surgidas na última semana se esconde uma prática corriqueira no Congresso: a barganha política. Ela se intensificou com a polarização da eleição em torno de José Thomaz Nonô (PFL-AL) e Aldo Rebelo (PC do B-SP). A maioria dos candidatos-fantoche abandonou ou está prestes a desistir de disputar a eleição, marcada para quarta-feira. Mas quer algo em troca do apoio.

O governo respondeu bancando a liberação de R$ 500 milhões em emendas individuais dos parlamentares ao Orçamento.

– Em política se admite tudo – confessa o deputado João Caldas (PL-AL), o primeiro a registar candidatura.

As encenações começaram pelo PSDB. A sigla lançou o nome de Jutahy Júnior (BA) para, em seguida, afiançar apoio a Nonô. Em troca, os tucanos esperam a fidelidade do PFL nas eleições presidenciais.

No PT, o líder Henrique Fontana afirmava que o partido não abriria mão de ter candidato. Chegou a lançar quatro, afunilou em Arlindo Chinaglia (PT-SP) e terminou sem nenhum, ciente da resistência que um petista enfrentaria na eleição. Na tática engendrada pelo Planalto, foi preciso fritar Chinaglia para que seu desafeto Beto Albuquerque (PSB) retirasse a candidatura em nome de um suposto consenso da base aliada em torno de Rebelo. Dessa forma, o governo pariu um candidato sem assumir sua paternidade.

Governo e oposição alimentam ainda uma eterna cisão no PMDB. Para turbinar a candidatura de Rebelo, na sexta-feira o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ao Palácio do Planalto os três ministros do partido e articulou uma negociação com dois influentes aliados: os senadores do PMDB José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL).

Já PFL e PSDB costuram uma aliança com a cúpula peemedebista. Com a candidatura alvejada no tiroteio político, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), pode desistir da disputa nesse final de semana e apoiar Nonô.

– O PMDB não tendo candidato, poderá definir o futuro presidente da Casa – comenta o líder do PSB, Renato Casagrande (ES).

Entre os nanicos, os objetivos de cada candidatura variam. Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Alceu Collares (PDT) desejam apenas holofotes. João Caldas tenta repetir o fenômeno Severino Cavalcanti. Discursa para o baixo clero e fala até em vencer no primeiro turno, mas sabe que sua candidatura é natimorta.

PTB lança Fleury de olho na vice-presidência da Casa

Afilhado político de Severino, Ciro Nogueira (PP-PI) espera retribuição dos colegas pelas benesses distribuídas em três mandatos como integrante da Mesa Diretora. Era ele o responsável pelo controle dos apartamentos funcionais, muitos dos quais continuavam sendo usados por ex-deputados após o final das legislaturas.

Dos candidatos avulsos, o de maior envergadura é Luiz Antonio Fleury (PTB-SP). À frente de uma bancada de 45 deputados, ele disputa o primeiro turno para vender caro o apoio no segundo. Seu desejo é a vice-presidência da Câmara. Para tanto, deve fazer uma permuta de votos com o PFL. Sobre o decantado candidato de consenso, a unanimidade em ética que surgiria na Casa após os escândalos do mensalão e do mensalinho, Fleury faz piada:

– O deputado Consenso não se elegeu. Ficou na suplência.

( fabio.schaffner@rbs.com.br )

Frases
João Caldas deputado (PL-AL)
"Em política se admite tudo."
Luiz antonio Fleury deputado (PTB-SP)
"O deputado Consenso não se elegeu."