Alerta de João Paulo adia votação do mínimo

May 26 2004
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Correio Brasilense

Correio Brasilense, 26/05/2004
Salário – Alerta de João Paulo adia votação do mínimo

Rudolfo Lago e Helayne Boaventura

Presidente da Câmara dos Deputados identifica risco de derrota e adverte o
governo para a conveniência de explicar detalhadamente aos parlamentares por que não fixou valor superior a R$ 260.

Podem ser palavras de alguém ainda magoado com a derrota que sofreu na
semana passada. Mas também pode ser a análise de alguém que aprendeu a
sentir o pulso dos deputados. A avaliação do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), sobre as chances de aprovação da medida provisória que fixa em R$ 260 o valor do salário mínimo, porém, funcionou como um sinal amarelo para os líderes governistas. O governo precisa explicar e justificar muito bem ao Congresso as razões do salário mínimo de R$ 260.

Precisa nos dizer da forma mais detalhada possível por que não há recursos para mais, disse João Paulo.

A sensação de que João Paulo, seja ou não pelas seqüelas da derrota na emenda que buscava estabelecer a reeleição dos presidentes da Câmara e do
Senado, traduz o sentimento dos deputados sobre o tema fez com que o governo concordasse com um novo adiamento na votação do salário mínimo.

Na semana passada, já se acertara o adiamento da votação prevista para esta semana. O governo esperaria o retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Brasil, e daria uma semana para que a Câmara curasse as feridas da votação da reeleição. Ontem, os líderes combinaram um novo adiamento. A emenda já não será mais votada na semana que vem. Na semana seguinte, haverá um feriado na quinta-feira (Corpus Christie), o que talvez leve a um
esvaziamento do plenário. Prenúncio de um novo adiamento.

Em conversas com os deputados mais ligados a ele, João Paulo já comentou que acha que a oposição foi eficiente na armadilha que preparou para o governo.

O PFL e o PSDB defendem um valor de R$ 275 para o mínimo. No ano passado,
durante a elaboração do orçamento, o próprio relator, deputado Jorge Bittar
(PT-RJ), chegou a dizer que havia recursos orçamentários para levar o mínimo
a até R$ 280. Ou seja, a oposição fixou-se em um valor teoricamente exeqüível. Se tivesse partido para um número demagógico, seria mais fácil
para o governo combatê-lo.

É por isso que João Paulo afirma que será necessário o governo explicar
muito bem quais são os limites que impedem a concessão de um valor mais alto
para o mínimo. Na política, nunca é uma palavra muito dura para ser usada.
Muitas vezes, encontramos resistências que vão sendo vencidas ao longo do
caminho, disse o presidente da Câmara.

As palavras de João Paulo provocaram reações de outros líderes governistas.
Valeria inverter a questão colocada. Os que querem um valor maior é que
deveriam provar de onde vão tirar o dinheiro, disse o vice-líder do governo, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS). O governo já explicou os limites que tem. Se pudesse dar um aumento maior, é claro que o presidente o faria, reafirmou o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.

A verdade, porém, é que as dificuldades pipocam em todas as bancadas.
Inclusive no PCdoB do próprio Aldo. Esse valor, de fato, não anima, disse o líder do PCdoB, Renildo Calheiros (AL). Fez coro com seu irmão, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). Esse valor não é nada animador, avaliou Renan.

O governo precisa explicar e justificar muito bem ao Congresso as razões do
salário mínimo de R$ 260, João Paulo Cunha, presidente da Câmara.