Aliados do governo vão divididos nos Estados
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JORNAL VALOR ECONÔMICO
Segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010 Pag. A5
Raymundo Costa
Brasília
Aliados no Congresso, os partidos que se declaram integrantes da base de sustentação política do governo chegam divididos às eleições de 2010 na maioria dos Estados, apesar do pedido de unidade feito em mais de uma ocasião pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Casos como o de Pernambuco, onde a candidata do PT terá palanque único e forte, são a exceção. A regra é o Rio, onde o PT abriu mão de um projeto local em favor do PMDB, ou a Bahia, onde PT e PMDB devem ter cada qual o próprio palanque – os dois, dizem, de apoio à candidata chapa branca Dilma Rousseff.
O PT formalizou a pré-candidatura de Dilma no sábado, de acordo com um cronograma cuidadosamente traçado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e auxiliares próximos. A ministra já superou o patamar dos 20% nas pesquisas, como previsto. O ponto fora da curva são os palanques estaduais.
Para eleger Dilma, o presidente Lula não hesitou em sacrificar pretensões do PT nos grandes colégios eleitorais, responsáveis pela maior parte dos quase 30% de preferência que o partido detém entre os eleitores. Se ela perder, o que faz parte da disputa, o PT pode ficar longe do poder também nos maiores Estados.
Para assegurar o palanque do governador Sérgio Cabral (PMDB) no Rio, por exemplo, o PT abortou a tentativa do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias , de se candidatar ao governo estadual. Mas nem isso está sendo suficiente para acalmar Cabral, agora inquieto com o namoro de Dilma com Anthony Garotinho, o pré-candidato do PR, outro partido “da base”.
O PP, sigla cuja identidade está mais associada ao ex-governador Paulo Maluf (SP) que a Lula, também é “da base”, mas aguarda a decisão do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, para se posicionar na disputa carioca. Se Aécio estiver na chapa presidencial do PSDB, é certo que o partido apoiará os tucanos na eleição.
As avaliações divergem no PT. O ex-governador do Acre Jorge Viana defende que o partido não poderia deixar de disputar em pelo menos um dos três Estados do chamado Triângulo das Bermudas (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais). Mas o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP) argumenta, por outro lado, que o importante é Dilma ter pelo menos um palanque aliado forte em cada Estado. E dois, onde não for possível um.
Trata-se de avaliação corriqueira no PT, cujo pressuposto é que o partido não dispõe de apostas, nesses Estados, tão fortes quanto Dilma já é para presidente. O risco é apostar muito alto que as desavenças locais não serão suficientes para afastar os aliados da candidatura oficial: conta como certo, por exemplo, o apoio do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, à candidatura Dilma Rousseff, como antes dava como certo que ele não se lançaria contra a reeleição do governador Jaques Wagner (PT).
Há divisões carregadas de simbolismo. No Acre, o PT decidiu lançar o senador Tião Viana à sucessão do atual governador Binho Marques, também petista, numa aliança eleitoral com o PV da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que disputa com Dilma a cadeira de Lula no Palácio do Planalto.
Segundo Tião Viana, o PT local deve apoiar a ministra da Casa Civil na eleição presidencial, embora tenha um candidato ao governo local escolhido de comum acordo com Marina.
No outro extremo do país, no Rio Grande do Sul, o PT até agora é um partido isolado na eleição. O deputado Beto Albuquerque, do PSB, tenta costurar uma aliança com o PP e o PCdoB (também siglas da base) para reivindicar o governo estadual.
“O Rio Grande do Sul vive um Grenal (Grêmio e Internacional, os dois rivais gaúchos no futebol) político que está nos afundando”, diz Beto, numa referência à polarização entre PT e PMDB na política gaúcha. “Já tivemos 10% do PIB nacional; hoje, temos 6%, o que significa que a solução não está nessa hegemonia”.
De volta ao Norte, a base de Lula ameaça rachar no Amazonas com a decisão do presidente de apoiar a candidatura de seu ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, quando o governador Eduardo Braga (PMDB) prefere a indicação de seu vice, Omar Aziz (PA). Enquanto isso, o PSB articula uma aliança com o DEM e o PSDB em torno do nome do ex-prefeito de Manaus Serafim Correia.
O PT se diz confiante na rejeição dos amazonenses a uma suposta intenção do pré-candidato tucano José Serra de acabar com a Zona Franca de Manaus. Mas hoje considera-se improvável a diferença de 1 milhão de votos que o Estado deu a Lula sobre Geraldo Alckmin, em 2006.
O Amazonas é um colégio pequeno, mas esta é uma diferença que pode ser decisiva numa eleição plebiscitária. Não é à toa que demistas e tucanos negociam com Serra um gesto tributário de boa vontade de São Paulo em relação ao Amazonas.
No vizinho Estado do Pará, o pemedebista Jader Barbalho reluta em se aliar à governadora Ana Júlia Carepa (PT) – as pesquisas de intenção de votos registram Jader com 30 pontos à frente da governadora, que, por sua vez, detém um dos mais altos índices de rejeição entre os governadores.
Na negociação com o PMDB, o PT entrou com a pedida mínima – a reeleição nos Estados já governados pelo partido (Acre, Pará, Bahia, Sergipe e Piauí). A rivalidade histórica justifica a separação da base no Rio Grande do Sul, onde o PT concorre com chances com o ex-ministro da Justiça Tarso Genro.
O PT também teria chance em Minas Gerais, já que em São Paulo ou o candidato é Ciro Gomes ou o partido apresenta um figurante já de olho na eleição municipal de 2012. Tanto Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, como Patrus Ananias, atual ministro do Desenvolvimento Social, são nomes com tradição na política mineira.
O problema, em Minas, é que o PMDB quer usufruir sozinho a condição de “candidato governista” com o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Não será surpresa a “solução baiana” dos dois palanques – e a promessa de que PT e PMDB limitarão a troca de safanões a Minas e se compõem na eleição para presidente.
No Espírito Santo, se o deputado Ciro Gomes (PSB) for candidato a presidente, o palanque de Dilma será o de Ricardo Ferraço, candidato do governador Paulo Hartung. Caso Ciro não seja candidato ou dispute o governo de São Paulo, além do palanque de Ferraço a candidata contará também com o do senador Renato Casagrande, que disputa o governo do Estado