Após 16 anos, o risco de perder no Sul
- Posted by: Ass. Imprensa
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Estadão , 05/01/2004
No quarto mandato seguido em Porto Alegre, petistas já dão sinais de fraqueza ELDER OGLIARI PORTO ALEGRE – A cidadela do PT está vulnerável. É o que acredita a oposição de Porto Alegre, que antevê na campanha eleitoral de 2004 uma chance rara de desalojar da prefeitura uma administração que já chegou ao seu quarto mandato consecutivo.
O discurso está pronto e vai apontar crises na saúde e nas finanças municipais, além de explorar a derrota petista para o governo gaúcho e as contradições entre o candidato do partido, Raul Pont, e o governo federal. Apesar do otimismo, o páreo será duro. Diferentes pesquisas confirmam o índice de um terço do eleitorado como cativo do PT. O primeiro sinal de que o vigor petista não era mais o mesmo surgiu no segundo turno da eleição para o governo do Estado, no ano passado. O candidato do PT, Tarso Genro, que renunciou ao cargo de prefeito para concorrer, não só perdeu a eleição como não confirmou o favoritismo que tinha na capital, onde ficou apenas 3,3 mil votos à frente de Germano Rigotto (PMDB). O resultado antecipou a largada para a sucessão municipal. O PDT saiu na frente, lançando em março do ano passado a candidatura do deputado estadual Vieira da Cunha. O PFL decidiu concorrer com o deputado federal Ônyx Lorenzoni e o PP antecipou a indicação do deputado estadual e ex-governador Jair Soares. Há duas semanas o PMDB encaminhou a escolha do deputado federal Mendes Ribeiro Filho. A candidatura do PT foi entregue ao ex-prefeito e atual deputado estadual Raul Pont – um dos líderes da corrente interna Democracia Socialista, que critica a política econômica do mdsinistro Antônio Palocci. Dos maiores partidos, só o PSDB, o PPS e o PTB ainda não têm candidato definido. Talvez por isso sejam as siglas mais abertas a coligações ainda no primeiro turno. O PSDB tem a deputado federal Yeda Crusius como primeira opção, enquanto o PTB pode concorrer com o vereador Cassiá Carpes, a ex-vereadora Sônia Santos ou o deputado estadual Eliseu Santos. A montagem de alianças passará por um quadro curioso em Porto Alegre. Aliados do PT no governo federal, como o PMDB, o PPS e o PTB querem distância do partido no Rio Grande do Sul e podem estar numa frente para retirá-lo da prefeitura de Porto Alegre. Ameaça – Outra ameaça pode vir de um tradicional parceiro do PT no Estado.
O PSB vai concorrer com o deputado federal Beto Albuquerque, que chega dizendo que sua candidatura é cem por cento Lula e não só na hora boa e que Porto Alegre quer mudar de jeito, mas não de lado, referindo-se à tradição esquerdista da cidade. O candidato do governo federal sou eu, rebate Pont, destacando que defende Lula como todo o PT. Ele já se prepara para dar troco às cobranças que deverá receber pelas críticas à política de Paolloci e pelo voto que deu contra a expulsão dos radicais do PT. O candidato petista prefere dizer que todos têm direito a dar opinião, mas que os rebeldes deixaram de cumprir decisão coletiva. Disciplinado, ele discorda da expulsão, que considerou inoportuna, mas se submete à vontade da maioria. O debate nacional, no entanto, tende a ficar em segundo plano. Entre os temas locais o surpreendente déficit deste ano, estimado em R$ 30 milhões, de uma prefeitura que vinha exibindo saúde financeira vai estar entre os temas prediletos da oposição. As dificuldades financeiras levaram a prefeitura a suspender o reajuste bimestral dos salários do funcionalismo e a recorrer ao caixa do Departamento Municipal de Águas e Esgotos (DMAE) para pagar o 13º salário, programando a devolução do dinheiro para janeiro, quando começa a entrar a arrecadação do IPTU. Fila – Além disso, o início de 2004 promete ser conturbado para o PT. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Municipal vai investigar a lentidão dos serviços de saúde na cidade. Os vereadores da oposição dizem que há 26 mil pessoas na fila de espera por uma consulta e que o tempo de espera chega a passar de um ano. A Secretaria Municipal da Saúde discorda dos dados e diz que a CPI tem caráter político.
A deterioração do centro, a segurança pública e a existência de 500 meninos de rua devem estar nos debates. Mas o PT também tem trunfos. Durante a campanha, obras vistosas, como a duplicação da Terceira Perimetral e da avenida Juca Batista, a construção de um prédio anexo ao Hospital de Pronto-Socorro e a Estação de Tratamento de Esgotos de Belém Novo estarão próximas da inauguração.