Berfran: falta visão política à crítica da aliança PPS/PCdoB
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Portal Vermelho, 22/8/2008
Em entrevista publicada nesta quarta (20) no Jornal do Comércio, o candidato a vice-prefeito de Manuela D’Ávila (PCdoB), pela coligação Porto Alegre é Mais, Berfran Rosado (PPS), fala sobre os ataques à aliança entre os dois partidos e dispara: ”é uma falta de visão política, pois quando os diferentes se unem em favor da cidade, é uma mostra de amadurecimento”.
Befran ainda comentou como se deu o proceso de inclusão de seu partido na coligação liderada pela candidata comunista. ”Encontramos nessa coligação a possibilidade de concretizar nosso sonho de mudança. Se por 16 anos um partido não resolveu, e, por outros quatro, uma administração também não superou alguns limites, é óbvio que nenhum dos dois vai me dar garantia de que agora vai fazer”, explica.
Liderança com larga experiência na questão do transporte, Berfran nasceu em Rosário do Sul há 48 anos, é casado e tem dois filhos. Estudou em Santa Maria, onde concluiu o segundo grau. Posteriormente foi para Pelotas, formando-se em Engenharia Civil. Estudou Arquitetura não chegando a colar grau. Veio para Porto Alegre aos 22 anos.
Contratado pelo programa do Bird, em seu primeiro trabalho foi responsável pela implantação dos corredores de ônibus das avenidas Farrapos e Assis Brasil. Paralelamente, fes pós-graduação em Planejamento Urbano e Planejamento de Transporte na faculdade de Arquitetura da UFRGS. Berfran trabalhou 12 anos no setor de transportes da prefeitura de Porto Alegre. Também foi contratado pelo IBTU, CBTU e Geipot, todos organismos federais ligados à área de transporte urbano.
Em 1984, ingressou na Trensurb para implementar o projeto de integração ônibus-trem na Grande Porto Alegre. No governo de Pedro Simon, assumiu a diretoria de transportes da Metroplan, foi diretor da secretaria de Obras do Estado. Na gestão de César Schirmer como presidente da Assembléia, Berfran assumiu a diretoria-geral e o gabinete da presidência do Legislativo. Em 1992, por indicação do PMDB, voltou para a Trensurb como diretor administrativo, chegando à presidência em 1995. Também ocupou a presidência da Corsan e, em 1996, assumiu como secretário do Trabalho. Em 1998, elegeu-se deputado estadual pelo PMDB e reelegeu-se em 2002 e 2006 pelo PPS.
Leia abaixo a íntegra da entrevista:
Como o senhor responde a questionamentos sobre as diferenças nas trajetórias dos partidos que integram sua coligação?
Berfran – É uma falta de visão política. Quando os diferentes se unem em favor da cidade, é uma mostra de amadurecimento político. Esses antagonismos foram nocivos para a cidade. Teve um tempo no Rio Grande do Sul em que um grupo foi obrigado a ser contra a GM e a Ford, e outro grupo era contra a participação popular. As duas coisas são necessárias. Isso (aliança entre PPS e PCdoB) é fruto de uma exigência da população de que seja feita uma política que responda às necessidades e não às vaidades partidárias. Quem cobra isso está atrasado politicamente, porque nenhum de nós abre mão das nossas idéias. O que fazemos é colocar as nossas forças em favor de um projeto para a cidade.
Como surgiu o convite ao PPS para compor a chapa com Manuela D’Avila (PCdoB)?
Berfran – Em 2004, o PPS veio com uma proposta de respeitar o que havia sido feito, mas propondo um projeto de mudança. Mas o prefeito José Fogaça (ex-PPS, hoje PMDB) estava muito mais para manter o que estava bom do que para mudar o que era preciso. Quando ele abandonou, primeiro, os nossos sonhos de mudança e, depois, o PPS, óbvio que ficamos decididos a ter um protagonismo na eleição de Porto Alegre. Tentamos construir a candidatura de Nelson Proença (deputado federal do PPS). Mas fomos procurados pela Manuela, pelo PSB, do deputado federal Beto Albuquerque, e pelo PR, que já estavam juntos. E teve um gesto nobre do PSB e PR de abrirem mão da condição de vice para atrair o apoio do PPS. Encontramos nessa coligação a possibilidade de concretizar nosso sonho de mudança. Se por 16 anos um partido não resolveu, e, por outros quatro, uma administração também não superou alguns limites, é óbvio que nenhum dos dois vai me dar garantia de que agora vai fazer.
Se a sua coligação passar para o segundo turno, pelo menos um dos representantes das experiências que o senhor critica – Maria do Rosário (PT) e José Fogaça (PMDB) – estarão fora?
Berfran – Nossa aliança é agregadora. Estamos dizendo apenas que os problemas continuam e estamos pedindo oportunidade de enfrentá-los. Isso não significa que não possamos estar juntos. Não somos sectários, intransigentes. Ao contrário, somos a prova explícita de que as diferenças podem se unir pelo bem de uma comunidade.
Sua coligação tem sete partidos. Com a vinda de outras siglas em um segundo turno, a administração não ficaria engessada?
Berfran – As experiências nos dão conhecimento para não repetir os mesmos erros. Quem vier apoiar, pode complementar um projeto. Mas não é aceitável que as secretarias estejam desconectadas, que as secretarias embarguem uma obra da própria prefeitura, como aconteceu no projeto do camelódromo. É uma prova explícita da total desarticulação interna da prefeitura.
O senhor assumiu essa postura oposicionista, mas seu partido continua na gestão municipal. Não há uma contradição?
Berfran – O PPS não participa da administração. O diretório municipal decidiu que não apoiaria Fogaça. Tanto que o PSS apresentou um vice a Manuela. Mas, se as pessoas físicas, filiadas ao PPS, ficam na administração, é por conta delas. Se fizerem campanha pra outro candidato estarão submetidas às penalidades do nosso conselho de ética.
Qual será o seu papel na prefeitura?
Berfran – Além das atribuições legais – substituir o prefeito nos impedimentos -, fazer parte deste projeto para superar os problemas que a cidade tem nesses 20 anos: falta de planejamento, problemas no sistema de saúde, segurança pública, educação.
Qual sua idéia de planejamento para a cidade?
Berfran – A cada administração, o Plano Diretor é revisado e se discutem os detalhes menos significativos sob o ponto dos desenhos da cidade. A discussão sobre a altura do prédio, o recuo, se a sacada é aberta ou fechada. Isso é importante, claro, mas há outros debates que precisamos fazer. Como vamos revitalizar determinadas áreas? Como vamos induzir uma ocupação urbana que seja capaz de amenizar os problemas de trânsito no nosso sistema viário? A gente não ouve esses debates nas definições do Plano Diretor. Porque a forma de construção desse processo de planejamento é tão fragmentada que impede uma visão de toda a cidade.
E a questão viária?
Berfran – Depois dos corredores de ônibus e do Trensurb, em 1985, o que aconteceu no sistema de transporte da Região Metropolitana de Porto Alegre? Nada. Não há planejamento. Uma das razões é essa polarização, que opõe metade da cidade sempre. Então, metade governa e outra metade joga contra. Ônibus ou metrô é um debate que só tem levado prejuízo à população. Achamos que têm de ser os dois, integrados.
O que a candidata Manuela chama de falsos dilemas…
Berfran – Essas contraposições são impeditivas da solução. Qual a medida concreta para o planejamento? Primeiro, um bom diagnóstico para, depois, construir uma solução. De nossa parte, há clareza quanto à necessidade de um planejamento integrado, conjunto e único para a cidade, para ter essa visão de cidade.
Como avançar no transporte público?
Berfran – Tem que implantar os projetos e parar de discutir se é metrô ou não. A Copa do Mundo é em 2014. Uma obra de metrô leva uns quatro anos para ficar pronta. Então, tem que começar em 2010.
Qual o projeto para agilizar a tramitação no licenciamento de empreendimentos?
Berfran – A idéia é criar um protocolo único. Quem quer fazer o investimento na cidade não tem de estar submetido a um calvário de secretaria em secretaria. A prefeitura tem que encontrar respostas. As restrições são as impostas pela lei. As compensações têm que ser únicas, não uma em cada secretaria.
Como a prefeitura vai administrar o Orçamento Participativo e o programa Governança Solidária?
Berfran – A participação popular é uma conquista da cidade e um vínculo que a comunidade estabeleceu com a administração municipal. É imprescindível preservá-la. Um avanço destes instrumentos é a maior participação do poder público. Ao invés de uma secretaria do OP e de Governança impregnar esse conceito de participação na administração a tal ponto que cada secretaria faça a sua governança e promova o seu processo de participação.
E a questão da segurança pública, como pode ser resolvida?
Berfran – Em Porto Alegre, há uma defasagem de 50% do efetivo da Brigada Militar, enquanto que a média geral do Estado é de 30%. Essa diferença significa mais de mil policiais. Quando se viu prefeito de Porto Alegre reclamar que não tem brigadianos porque a secretaria não colocou? Não é crítica, é cobrança. É um direito do município, que os outros fazem e levam.