Bertolucci diz que PP deve ter candidatura própria
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Jornal do Comércio – Porto Alegre, 9/11/2009
Guilherme Kolling e João Egydio Gamboa
“Não tenho dúvida nenhuma de que a governadora é candidata (à reeleição)”. Foto: Ana Paula Aprato/JC
O presidente estadual do Partido Progressista (PP), Pedro Bertolucci, vai comandar o partido nas eleições de 2010. Apesar de o PP ser responsável pela articulação política do governo de Yeda Crusius (PSDB) – com o chefe da Casa Civil, Otomar Vivian, e o líder do governo na Assembleia, Pedro Westphalen – ele não garante que a sigla estará com os tucanos na disputa ao Piratini. Apenas aponta que será parceiro da governadora até as definições para o pleito, no ano que vem.
Bertolucci entende que o primeiro turno é o momento de as legendas atenderem a seus interesses internos – no caso, candidaturas próprias – e o segundo turno é quando são feitas as composições. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o ex-prefeito de Gramado projeta um eventual apoio a Yeda no segundo turno e fala das propostas para sua gestão na sigla.
Jornal do Comércio – O PP ganhou espaço na articulação política do governo, após a reforma no secretariado. O partido estará com Yeda se ela buscar à reeleição?
Pedro Bertolucci – Não sei se o partido saiu fortalecido nessa troca. Hoje, fazemos um trabalho muito maior para a governadora – é bom para ela, Otomar é um excelente nome. Mas não sei até onde é bom. A posição do Celso Bernardi era melhor para o partido.
JC – Mas a Casa Civil é um espaço importante.
Bertolucci – A visibilidade da Casa Civil é muito boa. Mas Celso Bernardi tinha contato com todos os prefeitos do Rio Grande do Sul. De qualquer forma, contribuímos mais uma vez para o governo. Isso não quer dizer compromisso de nos coligarmos (em 2010). Primeiro, vamos pensar nos interesses do partido, que é um dos maiores hoje no Estado: 149 prefeitos e 1.300 vereadores, nove deputados estaduais e cinco federais.
JC – Há possibilidade de candidato próprio?
Bertolucci – Sim. E uma terceira via está caindo de maduro. Mas isso vamos trabalhar lá na frente. Hoje estamos preocupados em honrar a parceria com a governadora, somos aliados. Mas o partido tem que cuidar dos seus interesses e isso vai acontecer a partir do momento em que as bases decidirem.
JC – A articulação às eleições será em sua gestão…
Bertolucci – Vamos fazer uma gestão diferenciada, por sermos um partido cuja matriz é o Interior, os prefeitos e presidentes municipais da legenda. Estamos organizados em quase todos municípios do Estado. Vamos ouvir primeiro essa gente, para saber qual o caminho a seguir. Temos regiões como a Fronteira, em que nosso adversário é o PT, e outras regiões em que o adversário é o PMDB. Essa conjugação tem que ser feita para que o partido saia bem do primeiro turno. No segundo, podemos fazer composições.
JC – O partido tem alguns nomes citados para o Palácio Piratini como Francisco Turro, os deputados Jerônimo Goergen, Vilson Covatti e o prefeito de Pelotas, Fetter Júnior.
Bertolucci – São quatro nomes bons. Goergen está trabalhando para a candidatura a deputado federal. Fetter seria outro nome forte. E temos o deputado Luís Carlos Heinze, que foi muito votado, e Covatti. Francisco Turra tem um trânsito muito bom no Interior e poderia ser a terceira via.
JC – O PP é líder em prefeitos e vereadores. Por que seus candidatos ao Piratini não deslancham?
Bertolucci – São duas causas: gestão e planejamento. Ninguém dá certo hoje se não tiver gestão e planejamento. A gente se descuidou nesse aspecto, que é chave, tanto para o público quanto para o privado.
JC – Como o senhor avalia o governo Yeda?
Bertolucci – É de resultados, a governadora está sendo uma boa gestora. É a primeira vez que o Estado conseguiu ver gestão, com todo o respeito aos outros governadores. A governadora buscou caminhos, exemplo disso é o Banco Mundial, que apostou nessa modernização e liberou recursos. E essas novas políticas anunciadas por ela – capacitação e melhorias ao funcionalismo público – serão um ganho fantástico para o Estado. Ela (Yeda) vai terminar o governo com um resultado bom.
JC – E as denúncias sistemáticas da oposição?
Bertolucci – O Rio Grande do Sul peca por essa política raivosa. Se observarmos os outros estados, veremos o quanto eles estão andando na frente, porque não têm essa prática política. O dia em que acabarmos com isso, nosso Estado vai se tornar muito melhor.
JC – E a CPI da Corrupção, na Assembleia Legislativa?
Bertolucci – Algum dia já se viu resultado em CPI? Isso é uma política de maus resultados, é muito ruim. Ao invés de fazer um pacto econômico, de governabilidade, tem que fazer um pacto político. Terminadas as eleições, vamos começar a governar o Estado. Todos, os que ganharam e os que perderam.
JC – Yeda vai estar no páreo em 2010?
Bertolucci – Que ela é candidata não tenho dúvida nenhuma. Sobre as chances, espero que chances as tenha. Mas é muito cedo para fazer uma avaliação.
JC – Se o PP ficar até março de 2010 no governo e lançar candidato, não vai ser estranho e difícil de explicar ao eleitor?
Bertolucci – Mas o PMDB também está fazendo isso, todos os partidos que estão juntos no governo. O segundo turno é para acomodar as situações. No primeiro, é para acomodar os interesses do partido.
JC- Integrantes do PP foram citados na fraude do Detran, casos de Antônio Dornéu Maciel, além dos deputados Frederico Antunes e José Otávio Germano. Como administrar esse caso para que não haja efeito negativo em 2010?
Bertolucci – Estou entrando no partido com uma visão para frente. Sobre esse passado, existe um processo no Ministério Público Federal e a Justiça vai responsabilizar quem teve algum deslize. Se isso pode dar algum reflexo? Não vai ter. Tanto José Otávio quanto Frederico não têm envolvimentos graves que possam comprometer a candidatura deles, nem a do partido. Inclusive houve o desbloqueio dos bens (de José Otávio).
JC – O PP perdeu 14 mil filiados de 2008 para 2009. Por que houve essa queda?
Bertolucci – Vamos começar um recadastramento da base partidária, informatizar o partido, temos filiações muito antigas. E ter uma conversa muito próxima com nosso eleitor.
JC – Fala-se muito na participação da mulher na política. Como é no PP?
Bertolucci – É um braço muito forte do partido, um movimento grande que, com certeza, vai seguir adiante cada vez mais nos municípios. O partido pode crescer através desses dois segmentos:mulheres e juventude.
JC – O PP preenche a cota de 30% para mulheres?
Bertolucci – Isso depende mais das mulheres. Vamos fazer um esforço para que elas preencham o total das cotas. O problema é que a nossa cultura ainda está devagar nessa parte. Mas a cada ano o nosso partido vai ganhando, temos uma boa expressão de prefeitas e vereadoras. E vamos ter um número bom de candidatas a deputada.
JC – Para a Assembleia, fala-se na secretaria estadual de Cultura, Mônica Leal, a primeira-dama de Pelotas, Leila Fetter, e a deputada Silvana Covatti.
Bertolucci – São três nomes excelentes.
JC – E para o Legislativo, é melhor ir sozinho ou fazer coligação?
Bertolucci – Vamos colocar em pauta. Tem que saber fazer a composição. É matemático.
JC – Qual é a meta?
Bertolucci – Na Assembleia, temos nove deputados, o partido não pode ficar na zona de conforto. Queremos dez, onze deputados estaduais e seis federais.
JC – E no plano nacional. O PP vai de José Serra (PSDB) ou Dilma Rousseff (PT)?
Bertolucci – Não sei que tipo de envolvimento vamos ter nessa campanha. Vamos cuidar do interesse do partido aqui embaixo. Então, o partido não vai fechar com ninguém por enquanto, nem com Serra nem com Dilma. Se não fechar com a governadora, como é que vamos fazer isso? É temerário (uma definição agora). A tendência, a simpatia é para um lado – Serra. Isso não quer dizer que o partido vá fechar. Temos 149 prefeitos e muitos interesses. A nossa matriz – o Interior – vai ser ouvida para não ter uma dissociação do que falamos para o que pensamos. Muitas vezes, acontece exatamente isso: a cúpula do partido faz uma coisa mas a base não apoia. Aí, na hora da eleição termina dispersando cada um para um lado.
JC – O cuidado será para ter unidade na eleição?
Bertolucci – Exatamente.
JC – E as rodadas de conversas com os partidos aqui no Estado, como estão?
Bertolucci – Conversamos com Beto Albuquerque (PSB), Sebastião Melo e Odacir Klein (PMDB), e com Cláudio Diaz (PSDB). Conversamos com todo mundo em uma linha de que ninguém tem nada para dar e ninguém tem nada para pedir.
JC – E o PDT e o PTB?
Bertolucci – Ainda não.
JC – Até agora só visitas de cortesia?
Bertolucci – Só gentileza, nada mais do que isso. Mas estamos trabalhando e o nosso foco é em cima das eleições proporcionais.
JC – E as disputas internas no PP, estão superadas? O senhor foi chamado para apaziguar os ânimos.
Bertolucci – A disputa interna é normal dentro dos partidos. Mas as vezes se atende só a um lado, deixa outros companheiros mal atendidos, isso torna o partido menor, já que se atende a interesses pessoais. É um problema. Temos que inverter esse processo. O partido é que deve ser o grande. E o deputado tem que ser engajado nesse processo do partido.
JC – As divergências estão resolvidas?
Bertolucci – Tem os atropelozinhos que sempre acontecem. As grandes brigas sempre foram dentro dos grandes partidos. Mas agora não temos nada, cada um está cuidando da sua candidatura.
JC – O senhor já foi prefeito quatro vezes. Como avalia a situação dos municípios neste momento de crise e queda de repasse no Fundo de Participação (FPM)?
Bertolucci – Sempre pratiquei um tipo de gestão diferente, priorizando a arrecadação própria do município. Quanto mais dependente do Estado e da União, mais riscos o município vai ter. Em Gramado, por exemplo, começamos com 20% da arrecadação própria. Entreguei no último ano (2008) com 60% de receita proveniente do IPTU e do ISSQN. Como? Bastante serviços. Fomos buscar e cobrar de quem não pagava. Aumentamos a base de arecadação sem elevar os impostos.
JC – E a revisão do Pacto Federativo?
Bertolucci – Passaram todos os encargos para o município e poucos recursos. Na saúde, por exemplo, até pouco tempo o Estado fazia isso também. Hoje está se recuperando mais, assessorando na educação e com transporte escolar. Na União, o que se precisa fazer é usar os encargos dos municípios. O município tem que receber ajuda. A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) tem feito um trabalho bom de advogado dessas causas e com bons resultados. Mas se o município depender de ICMS, vai ficar gravitando em torno do governo, não vai ter grandes obras. Os municípios precisam perseguir a arrecadação própria. E a CNM e a Famurs, brigar um pouco mais pelo que estão nos tirando.
JC – Gramado é um dos principais destinos turísticos do País. O que o governo estadual poderia aprender para se desenvolver mais o Rio Grande do Sul nesta área?
Bertolucci – O turismo é uma das atividades econômicas mais importantes do Brasil. Não sou eu quem está dizendo, o mundo está provando isso. Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Gramado, no ano passado, disse para ele que não eram muitas cidades no País que tinham pleno emprego. E Gramado tem.
JC – Como?
Bertolucci – Pelo turismo. E não é fazer festa para os outros, é fazer festa para que sua economia crie empregos. Conseguimos em Gramado que 90% da economia dependa do turismo. É uma cidade de 32 mil habitantes que recebe 2 milhões de turistas por ano. Isso é fruto de um trabalho de muito tempo, de gestão, de buscar, de criar desenvolvimento.
JC – É um destaque nacional.
Bertolucci – Fomos escolhidos como a quinta cidade mais importante do turismo brasileiro. E aí estamos falando de uma disputa com São Paulo, Curitiba, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Ceará, Bahia. Somos o terceiro destino turístico mais desejado no Brasil hoje. Olha só a importância: é Fortaleza (CE), Florianópolis (SC) e Gramado.
JC – Por que não se prioriza o turismo?
Bertolucci – Quando tem uma dificuldade social muito grande, é difícil que os gestores pensem em turismo. Mas eu sempre pensei na contramão disso. Só faço o social pensando no turismo.
JC – E no Estado?
Bertolucci – O governo do Estado tem uma boa administração no Turismo, bons secretários passaram por ali, são todos muito competentes. O problema é que o Estado ficou muito pobre em recursos, o que dificulta fazer a venda da imagem, que é fundamental para o turismo. Tem que vender o Estado como um produto, isso está difícil. Em Santa Catarina, por exemplo, há um trabalho espetacular feito pela Santur (empresa de turismo do governo catarinense) na venda da imagem do seu Estado na Argentina, Portugal, Espanha, no Nordeste do Brasil. Mas nós aqui temos poucos recursos, o governo prioriza outras áreas.Entendo que deveríamos investir mais em turismo, é o caminho mais rápido para oxigenar a economia. Temos um grande potencial que poderia ser utilizado. E turismo é isso: vender imagem, vender serviço. Chegaram a criar um fundo aqui, mas foi muito fraco. Se não tiver recursos não vai resolver. Santa Catarina tem um percentual estabelecido no ICMS.
Perfil
Pedro Henrique Bertolucci, 64 anos, é natural de São Francisco de Paula (RS). No início da adolescência foi para Gramado, onde iniciou sua vida pública fazendo política estudantil. É administrador de empresas, formado pela UCS. Filiou-se à Arena, onde integrou a Ala Moça do partido. Candidatou-se pela primeira vez em 1968, quando se elegeu vereador de Gramado. Em 1972 foi reeleito pela Arena, com a maior votação de um parlamentar da história do município (12,5% dos votos).
Em 1982, já no PDS, sucedâneo da Arena, venceu a disputa pela prefeitura de Gramado para o mandato de 1983 a 1988. Em 1992, obteve seu segundo mandato pelo PDS para comandar a cidade. Bertolucci ainda foi eleito mais duas vezes chefe do Executivo de Gramado. Em 2000, no PPB, e em 2004 pelo PP – ele sempre foi do mesmo partido, a sigla é que mudou de nome.
No ano passado, Bertolucci elegeu seu sucessor em Gramado, Nestor Tissot. E passou a se dedicar à sua empresa da construção civil e a palestras sobre turismo em todo Brasil. Mas terá que conciliar as atividades com a presidência estadual do PP – vai comandar a sigla nos próximos dois anos. Em 2006, ele também exerceu o cargo interinamente por seis meses no período das eleições.
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