Beto diz que êxito da coalizão depende do fim de disputas
- Posted by: Ass. Imprensa
- Posted in Beto na Mídia
- Tags:
Jornal do Comércio – Porto AlegreJornal do Comércio – Porto Alegre, 4/12/2006
Beto diz que êxito da coalizão depende do fim de disputas
Gisele Ortolan
Mostrando-se disposto a atender um convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para integrar o primeiro escalão no novo mandato, o vice-líder do governo na Câmara Federal, deputado Beto Albuquerque (PSB), confessa que se sentiria à vontade se estivesse à frente da pasta dos Transportes com a qual "tem mais identidade", sem descartar, entretanto, a possibilidade de ser convocado a assumir a liderança do governo na Câmara. Reeleito para o terceiro mandato, o deputado federal Beto Albuquerque confia na possibilidade do PSB ver a sua participação no governo ampliada para dois ministérios, com a possibilidade de manter a pasta da Ciência e Tecnologia. Diz que o partido, que conseguiu superar a cláusula de barreira na última eleição, já se prepara para as eleições de 2008 e 2010, e não esconde a intenção de disputar o governo gaúcho na próxima corrida eleitoral. Ao analisar a proposta de coalizão, que vem sendo implementada pelo presidente Lula, afirma que ela não acontecerá entre "o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios se não for impedida a colisão dentro da Câmara e do Senado".
JC – Como o senhor interpreta a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de montar um governo de coalizão?
Beto Albuquerque – Está correto o desejo do presidente Lula de buscar um governo de coalizão tendo como metas bem definidas o desenvolvimento do País, o equilíbrio das contas públicas, e o aumento da capacidade de investimento. É preciso tranqüilidade política para poder avançar na governança e nos investimentos, portanto no desenvolvimento. O fato do presidente Lula não ser candidato à reeleição em 2010, também traz certa tranqüilidade no governo que inicia. Chamar a responsabilidade para uma base parlamentar bastante ampla, através da composição de um governo com a participação de diversos partidos, que terão inteira responsabilidade nas áreas em que estarão atuando, é um esforço no caminho do desenvolvimento.
JC – Como o senhor avalia uma participação substantiva do PMDB no segundo mandato do presidente Lula?
Beto Albuquerque – O PMDB é um grande partido no País e, sendo assim, é natural que sejam reservados importantes espaços. Também é natural que se exija do PMDB um grande esforço para estar, de fato, vinculado ao projeto que colocaremos em curso. Mas, é preciso que o PMDB participe também com o sentimento de repartir as responsabilidades e os esforços. É natural que isso ocorra dessa forma, assim como uma composição de equidade das forças políticas que todos representam.
JC – Isso será suficiente para que sejam aprovados temas fundamentais como as reformas política e tributária?
Beto Albuquerque – A coalizão só faz sentido se for para vencer entraves, como para aprovar as reformas que são necessárias. A reforma política deve ser a primeira na pauta do ano que vem. Ainda falta, evidentemente estabelecer que tipo de reforma política será votada. Falta esta identificação e o consenso em torno desta questão. Mas, é necessário tornar as estruturas políticas do País mais transparentes, menos vulneráveis e mais comprometidas com algumas idéias importantes com o fim da reeleição e com um programa de fidelidade partidária. Com isso, vamos viabilizar a possibilidade de o eleitorado votar em idéias, e não apenas em pessoas.
JC – Uma das críticas à formação de governo de coalizão é que partidos da base perderiam espaços. Esse é o caso do PSB também?
Beto Albuquerque – Perdem espaços aqueles que têm muito. Não é o caso do PSB, que já não contava com muito espaço no atual governo, embora tenhamos nos dedicado inteiramente em favor dos projetos do governo Lula. Sabemos que haverá uma diminuição do espaço ocupado pelo PT para que haja uma melhor e equânime distribuição de tarefas e responsabilidades. Isso já foi dito pelo presidente. O PSB estima ter dois ministérios no próximo governo. Não sabemos que áreas são. Mas, nos colocaremos à disposição do presidente Lula, em uma reunião com a direção do partido, para ouvir dele qual será o papel que o PSB terá que cumprir.
JC – Cogita-se que os ministérios cotados para o PSB seriam o dos Transportes e da Ciência e Tecnologia, isso poderá se confirmar?
Beto Albuquerque – Isso ainda é especulação. Há áreas com as quais muitos de nós, eu inclusive, temos mais identidade, como é o caso dos Transportes. Mas, essa é uma escolha que cabe exclusivamente ao presidente Lula. Somos aliados programáticos e vamos ajudar o governo. Para isso, buscamos uma justa participação. Se eu for convidado, muito me honrará assumir uma tarefa no executivo, já que cumpri durante quatro anos ininterruptos, a tarefa de líder do governo Lula na Câmara de Deputados. Particularmente, sinto-me preparado para ter um protagonismo maior neste próximo governo. Para quem foi, durante quatro anos, vice-líder do governo e, em alguns momentos, líder, a possibilidade de assumir definitivamente a liderança também é plausível, e o PSB conversa sobre esta hipótese.
JC – O ex-ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB), também está cotado para voltar a fazer parte do novo ministério de Lula?
Beto Albuquerque – Ciro Gomes é um nome natural, uma grande liderança dentro do nosso partido, o PSB. Mas, ele mesmo, examina a possibilidade de não integrar o governo. Para nós, o nome de Ciro Gomes deve ser bastante preservado para 2010, quando poderá ser um nome à disposição das esquerdas na sucessão do presidente Lula.
JC – O PMDB decidiu nomear o governador Germano Rigotto como interlocutor na questão das reformas, principalmente a tributária. O senhor acredita que ele terá êxito?
Beto Albuquerque – O governador Rigotto é um homem de história política, com boa conduta e interlocução. Seguramente, não há outro nome mais indicado para a tarefa. Fico muito feliz com a escolha, pois foi feita em torno de uma liderança que dialoga e que tem competência. Rigotto também conhece muito os temas das reformas que estarão em pauta, principalmente a tributária. Ele conhece a necessidade de algumas mudanças importantes como, por exemplo, a unificação do ICMS para acabar com a guerra fiscal que coloca em desvantagem estados mais periféricos, ou com dificuldades estruturais, como é o caso do Rio Grande do Sul. Infelizmente, outros governadores e, muito particularmente, os que respondem aos interesse da elite econômica de São Paulo, que concentram renda e desenvolvimento, impediram que pudéssemos avançar ainda mais nesta pauta durante os quatro anos do primeiro mandato de Lula.
JC – Como representante do Rio Grande e interlocutor do governo federal, o senhor acredita que o Estado terá suas demandas atendidas, principalmente no que se refere às questões dos repasses e renegociação da dívida?
Beto Albuquerque – O resultado das urnas nunca deve ser entrave para nada. Os primeiros movimentos da governadora Yeda Crusius foram pensando no PSDB, no momento em que a prioridade for o Rio Grande do Sul, as coisas vão melhorar. Ela já participou de três atos, já falou em ser oposição, já participou de uma reunião em São Paulo para apresentar um plano de desenvolvimento para o Brasil. Quando as coisas deixarem de ser focadas na linha parlamentar e passar a ser uma relação de Executivo com os interesses do Estado, vamos trabalhar. Eu mesmo disse à Yeda, na posse da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que estava à sua inteira disposição e que meu desejo de êxito de seu governo era sincero. Tenho certeza de que há disposição em nível federal para o diálogo e que o entendimento será possível, o que não podemos é querer jogar a culpa no outro. Os recursos que a governadora eleita está buscando para a agricultura no Rio Grande do Sul são bastante irrisórios. Depois não adianta ela tentar justificar que o problema da agricultura é só federal. Todos nós temos a nossa parte para fazer de forma concorrente e parceira. Uma das metas principais que temos que focar é a vocação eletroeletrônica que está sendo potencializada com a construção do Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), em Porto Alegre. O Rio Grande do Sul é hoje um pólo de informática, tem centenas de pequenas e médias empresas vinculadas a isso. Não podemos ficar pensando somente nos mega investimentos que custam incentivo fiscal. A partir da microeletrônica com a consolidação do Ceitec, teremos um mercado de agregação de valores e emprego qualificado.
JC – O presidente Lula tem sido cobrado quanto ao crescimento econômico. O senhor acha que a meta de crescimento de 5% pode vir a ser uma realidade nos próximos quatro anos?
Beto Albuquerque – Passamos quatro anos fazendo obras, arrumando a casa, pagando as contas e, portanto, criamos um ambiente que nos faz acreditar no desenvolvimento. É bom lembrar que desde 2002, reduzimos em 50% a taxa de juros que era de 26% e agora está em 13%. Controlamos a inflação. Pela primeira vez, nos últimos 15 anos, o Brasil tem controle de inflação e saldo em contas correntes. Aumentou suas reservas cambiais e acabou com a vulnerabilidade de risco internacional. O Brasil hoje é um País acreditado, que está investindo muito em políticas alternativas. Vai se tornar o número um em biocombustíveis e investirá muito nos próximos quatro anos, ou seja, investimento próprio em habitação e infra-estrutura. No próximo ano, teremos R$ 15 bilhões de investimentos em educação, marca histórica nunca antes alcançada no País. Desoneramos a cadeia produtiva da construção civil e vamos ter um grande investimento público na área de infra-estrutura, poderemos chegar a patamares de R$ 40 bilhões, além das ferrovias que contam com a participação privada e que acrescentarão muitos outros recursos. Ainda quanto à infra-estrutura, contando com investimentos públicos e privados, chegaremos seguramente ao montante de R$ 60 bilhões. Estamos no caminho certo. Ninguém está se sentindo pressionado pelos 5%, mas evidentemente há uma meta de crescimento responsável, sem soluções que possam provocar qualquer retorno inflacionário. Acho que o governo vem fazendo a sua parte nas taxas de juros e está chegando a hora do empresariado ajustar as taxas no varejo.
JC – Na reunião desta segunda-feira, o PSB deve tratar das questões partidárias, entre elas a cláusula de barreira. Que avaliação o senhor faz do resultado das urnas na última eleição para o partido?
Beto Albuquerque – Ultrapassamos a cláusula de barreira na última eleição, quando atingimos os 5% de representação. Nos organizamos e planejamos para isso, porque a lei que instituía a cláusula e fixava a eleição de 2006 como prazo final, existe há dez anos. Cumprimos a cláusula e somos um dos sete partidos que a ultrapassaram. Não deixaremos de ser solidários com partidos históricos que, embora não tenham alcançado a cláusula de barreira, têm o que dizer a sociedade. Há muitas legendas como o PCdoB, por exemplo, que têm história e que, portanto, poderiam ter uma consideração distinta.
JC – O PSB pode se colocar à disposição destes partidos e chamá-los para ampliar uma frente de esquerda?
Beto Albuquerque – Estamos de portas abertas para o diálogo com partidos que não cumpriram com a cláusula. Somos solidários à luta jurídica, tanto que subscrevemos ação direta de inconstitucionalidade, mas não vencido o debate legal, buscaremos o diálogo. Inclusive, estamos dialogando com muitos parlamentares de vários partidos sobre este momento político que estamos vivendo. Agora, a cláusula de barreira era uma imposição legal conhecida por todos há dez anos. Aliás, uma lei feita pelo Congresso Nacional.
JC – Na eleição de 2010 o senhor planeja se candidatar ao governo gaúcho?
Beto Albuquerque – Vamos traçar algumas metas na direção estadual do PSB, inclusive, temos uma reunião no próximo dia 16. Organizaremos o partido e vamos iniciar o diálogo com outras siglas no Rio Grande do Sul, ampliando muito os contatos políticos com o PDT, PTB, PCdoB, MD (fusão do PPS-PHS-PMN). Queremos ampliar esse diálogo e, pessoalmente, quero estar na proa desse debate para que, no futuro, possamos disputar as eleições municipais, visando principalmente a prefeitura de Porto Alegre. Acho que deve haver um esforço para traçar estratégias tendo em vista 2008 e 2010. Por isso, vamos nos preparar pensando em disputar as eleições. Vamos fixar metas para, em 2008, o PSB retomar a presença em todas as principais câmaras de vereadores do Estado, aumentar o número de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Essa é uma tarefa que, somada ao diálogo que vamos abrir imediatamente com diversas forças políticas, projetará o que faremos em 2010. Em nível federal, estamos montando o governo de coalizão e, para que isso ocorra, devemos evitar a colisão que pode acontecer na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A coalizão entre o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios não acontecerá se não impedirmos a colisão dentro da Câmara e do Senado que pode acontecer.
JC – O senhor se refere ao PMDB, que quer a presidência da Câmara e do Senado Federal em 2007?
Beto Albuquerque – Quem entra na presidência da Câmara e do Senado tem que ter menos espaço de atuação na Esplanada, isso é uma questão de entendimento. Agora, coalizão significa estarem ao redor de uma mesa todos os partidos e chegarem a um comum acordo. Quando um ou dois dos partidos entram em disputa, já não é mais coalizão.