Beto está disposto a concorrer à Presidência da Câmara

Sep 11 2005
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O Nacional – Passo FundoO Nacional – Passo Fundo, 11/9/2005
Beto está disposto a concorrer à Presidência da Câmara

O deputado federal (PSB) Beto Albuquerque está disposto a renunciar à
vice-liderança do governo para concorrer à Presidência da Câmara dos
Deputados, caso ocorra eleição. A afirmação foi feita durante entrevista
exclusiva feita, nessa sexta-feira, pelo O Nacional. O deputado defende a
punição de todos os envolvidos nos esquemas de corrupção. Para ele, o que
alimenta a corrupção e a sonegação é a impunidade. Por isso, o deputado
acredita que se deve ser implacável e ostensivo na punição dos envolvidos,
estabelecendo no país novas normas que nos permitam enxergar uma outra
eleição. Confira a entrevista:

O Nacional – Gostaria que o senhor fizesse uma avaliação da atual crise
política que estamos vivendo hoje no país?
Beto Albuquerque – Estamos vivendo uma crise muito grande que tem como
motor a questão ética. Infelizmente, a alta cúpula dirigente do PT decidiu
repetir práticas inaceitáveis e promíscuas na relação partidária e acabou
procurando constituir uma maioria que era necessária para a
governabilidade. Porém, utilizou-se de meios de relacionamento
absolutamente reprováveis na relação com os partidos que não participaram
historicamente da caminhada que levou Lula até à Presidência. Lógico que
crise tem seu lado ruim, mas também tem seu lado bom. É o momento em que
podemos ver as mazelas, os problemas e corrigir os rumos. O meu alento é
perceber que a sociedade, hoje organizada, a própria imprensa e as
instituições estão bem maiores do que os princípios de corrupção.

ON – O senhor defende a "degola" de todos os envolvidos nos esquemas de
corrupção? Como os envolvidos devem ser punidos?
BA – Os primeiros, os que detêm o mandato – que são os parlamentares –
precisam perde-los. Para os que não têm mandato, as CPIs precisam ter
responsabilidade, não ficar apenas atrás de fazer espetáculos, do tipo Big
Brother, mas sim, juntar provas e documentos para que o Judiciário e o
Ministério Público, depois das CPIs, possam ter instrumentos para arrolar
todas essas pessoas em crimes que são previstos pelos códigos Penal ou
Criminal.
Nós temos um fato novo agora, que seria a renúncia do presidente da
Câmara, Severino Cavalcanti. Sobre ele, pesa uma incontestável acusação
documentada e com prova testemunhal. Ele não tem mais nenhuma condição
administrativa, política e moral de presidir a Câmara, ainda mais neste
momento, quando temos uma lista com 18 deputados para serem cassados. Não
vai ser o presidente da Câmara, completamente sob uma acusação
indesculpável, que poderá prejudicar esse processo. Então, precisamos
antecipar a cassação também do Severino, essa que seria a décima nona.

ON – O que deve ser feito para combater esse problema que acaba denegrindo
a imagem do nosso país?
BA – A corrupção é irmã gêmea da sonegação. Não existe caixa 2 sem
sonegação fiscal. Não temos problemas de corrupção ou de má conduta apenas
dentro das quatro paredes do Congresso Nacional. Isso é uma fotografia de
um ambiente. A honestidade não é um valor coletivo, ela é um pressuposto
de vida das pessoas e dos indivíduos. O que alimenta a corrupção e a
sonegação é a impunidade. Portanto, precisamos ser implacáveis, ostensivos
na punição dos envolvidos e estabelecer no país novas normas que permitam
projetar uma outra eleição, um outro mandato, mais protegido da mazela da
corrupção.
O exemplo que poderia citar seria do projeto que acabei de relatar e
aprovar na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, e que já foi
aprovado no Senado, que estabelece, nas três esferas do poder, a exigência
de prestação de contas em tempo real, on-line através da internet de toda
a execução orçamentária, despesas e receitas. Temos que avançar nos meios
de controle e diminuir gastos de campanha. Isso significa que serão
eleitos e terão espaço no debate político aqueles que têm história antes
da campanha eleitoral.

ON – O deputado colocou o seu nome à disposição para concorrer à
Presidência da Câmara?
BA – Como ficou inevitável a renúncia de Severino, que, se dependesse de
mim, nunca teria sido presidente, pois todos sempre souberam de sua
inaptidão, do seu discurso ultrapassado. Nós nunca poderíamos ter
permitido isso. Perdemos uma votação, na qual a irresponsabilidade da
maioria, a pretexto de derrotar o governo, acabou dando a alguém sem
condições a Presidência do terceiro cargo da República. Eu estou
apresentando o meu nome para a inevitável sucessão que deverá haver,
porque, uma vez que Severino renuncie ou seja cassado, o vice-presidente
da Câmara assume. Em cinco seções, porém, é preciso realizar novas
eleições. Estou apresentando o meu nome baseado em dois anos e meio de
muito trabalho, diálogo e abertura com o governo e oposição, para que
escapemos, nesse momento de crise, de disputas partidárias. Precisamos
eleger um perfil que seja capaz de conduzir a Câmara a sua dignidade. Se
for necessário, renunciarei da vice-liderança do governo para ficar livre,
promovendo uma disputa, um debate sério e, quem sabe, chegar à Presidência
da Câmara Federal e assim ajudar o Brasil a retomar sua normalidade.

ON – O que a população deve fazer mediante a essa crise?
BA – A população não pode perder as sua capacidade de indignação, mas
também não pode fazer a política da generalização, cometer injustiça ao
considerar todos de forma igual. Existem homens dignos e honestos, tanto
no meio privado como no meio público. A população precisa fazer justiça e
separar o joio do trigo e exigir meios de participação popular nas
administrações. A população está preparada para enfrentar esses assuntos e
tem uma capacidade de organização e indignação mais aprimorada do que os
próprios casos de corrupção. O que nós não podemos é jogar a toalha.
Porque se nós, que desejamos fazer as coisas corretas, desistirmos,
cairmos em desalento, então as coisas ficarão só nas mãos daqueles que não
se importam com os outros ou que não se importam sequer em se envolver em
casos de corrupção. A eleição, sempre é uma boa hora, porque quando se
troca um voto por um favor ou por brinde, mesmo que de forma diminuta,
começa um processo de corrupção. Temos que ter eleições limpas, nas quais
os critérios das idéias e das propostas tenham mais valor do que qualquer
outro tipo de artifício.

ON – Faça uma avaliação do seu mandato como parlamentar e também como
vice-líder do governo na Câmara?
BA – Eu sempre me caracterizei como alguém que se dedica de forma inteira
ao que faz. Fiz assim nos meus mandatos de deputado estadual, secretário
dos Transportes no estado e tenho feito isso no meu mandato como deputado
federal. Meu mandato é de idéias, não é mandado vinculado às coisas do
varejo. É um mandato que dialoga com setores organizados da sociedade.
Procuro mantê-la sempre com uma visão de um mandato que realiza e não
somente de fala, de opinião e de discurso. Precisamos realizar. Ao longo
desses 15 anos, temos diversos números de conquistas e avanços importantes
que podemos exemplificar. Eu nunca acreditei em um mandato que promete
milagres e vende ilusões; sempre tratei objetivamente das coisas que são
possíveis.
Como vice-líder do governo, tenho mantido a independência de ajudar o
governo nos seus compromissos com a sociedade brasileira. Acho que o
governo do presidente Lula realizou avanços importantes e contará com o
meu apoio enquanto o presidente Lula não titubear em buscar a verdade por
inteiro.

ON – Em relação ao PSB, qual é a expectativa para as eleições de 2006?
BA – O PSB, como todos os partidos, terá um grande desafio no ano que vem.
O partido que não fizer 5% do eleitorado brasileiro para deputado federal
vai desaparecer. Somente sete partidos no Brasil poderão ultrapassar essa
margem e a nossa tarefa é repetir esse feito, como fizemos na última
eleição, e, com certeza, nós nos transformaremos, a partir da próxima
legislatura, em um dos maiores partidos de esquerda do país. Estamos
crescendo. Aqui no estado, queremos discutir com outras forças políticas
uma nova oportunidade de um novo debate para o Rio Grande do Sul. Eu sonho
muito com a possibilidade do PSB, PCdoB, PTB e PL formar uma frente capaz
de oferecer ao estado uma proposta que tire o Rio Grande do Sul da
estagnação. Nós vamos discutir aqui um novo formato e, em nível nacional,
acompanharemos o desenrolar do processo eleitoral, ainda mais que temos em
nosso quadro uma reserva política tão brilhante e importante, como é o
nosso ministro Ciro Gomes.

ON – O senhor pretende ser candidato nas eleições de 2006?
BA – Eu vou concorrer em 2006. O primeiro chamamento que o partido faz é
que eu concorra à reeleição de deputado federal. A meta de 5 mil votos em
nível federal passa pela contribuição dos estados, esta é a minha tarefa.
Eu, obviamente, ainda sendo bastante cedo para qualquer decisão, sinto-me
preparado, experimentado e amadurecido para qualquer disputa que
porventura possa o partido me determinar.

ON – Como o senhor avalia a atuação do PSB na administração Dipp/Corralo?
BA – O PSB está contribuindo muito com a atual administração.
Orgulhamo-nos de integrar essa frente bastante ampla que tem
responsabilidade de curto, médio e longo prazo.Tivemos a inteligência e a
capacidade de superar inclusive divergências políticas e ideológicas para
construir um projeto para a cidade de Passo Fundo, um projeto regional.
Temos quadros muito qualificados cumprindo de forma exemplar com as suas
tarefas. Eu tenho ajudado muito, em Brasília, aproximando os interesses da
cidade em todas as suas áreas. O PSB está colaborando decisivamente, vamos
continuar fazendo isso.

Eu nunca acreditei em um mandato que promete milagres e vende ilusões,
sempre tratei objetivamente das coisas que são possíveis.