Candidatura em São Paulo é fofoca, diz Ciro

Jun 18 2009
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Jornal do Comércio – Porto Alegre, 18/6/2009

Ao palestrar ontem na reunião-almoço Tá na Mesa da Federasul, em Porto Alegre, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) classificou como “fofoca” a possibilidade de substituir a sua pré-candidatura presidencial pela disputa ao governo de São Paulo em 2010.

No entanto, disse que irá analisar a hipótese que, segundo ele, teria sido levantada por duas frentes. Uma tentando afastá-lo da eleição nacional e outra interessada em uma alternativa para interromper os quatro governos consecutivos do PSDB no estado paulista.

“Minha disposição de ser candidato a presidente segue firme, tanto que estou no Rio Grande do Sul e não na Moca (bairro de São Paulo). Meu título de eleitor não foi transferido para São Paulo. Ainda está no Ceará. Prefiro ser cabeça de lagartixa a rabo de jacaré”, comparou o deputado, ao reafirmar a preferência pelo embate ao Palácio do Planalto.

O ex-governador do Ceará argumentou que, embora o PSB seja da base do governo Lula, não há conflito numa candidatura contra Dilma Rousseff (PT) em 2010 quando, segundo ele, está em jogo a institucionalização dos programas sociais implantados pelo governo.

“Lula não conseguiu fazer isso porque optou pela sustentabilidade política dramaticamente heterogênea, que só tem força para o trivial. Estas maiorias amorfas são amorfas e fazem mal para o Brasil. Compreendemos os avanços importantes em todas as áreas. Algumas mais intensamente, outras mediocremente. Isso é verdade se olharmos pelo retrovisor. Mas, em 2010, será necessário olhar o futuro”, argumentou Ciro Gomes.

Ele criticou duramente, e por várias vezes, a aliança nacional realizada entre PT e PMDB e a possibilidade de reeditá-la no próximo pleito. “Não é possível que se reúna numa candidatura a base de Lula. A aliança PMDB-PT congelou a agenda política e não apresenta alternativas de futuro. O Brasil ainda vai ter notícias muito amargas desta aliança que está se processando. Posso garantir que não estarei com Jader Barbalho, Orestes Quércia e José Sarney (todos do PMDB). E nem com (o deputado federal Eliseu) Padilha numa disputa nacional”, disse.

Tendo ao lado o deputado federal Beto Albuquerque, pré-candidato do PSB ao Palácio Piratini na próxima eleição, Ciro Gomes sustentou que no Rio Grande do Sul a tendência é por um alinhamento semelhante ao experimentado na eleição de 2008 em Porto Alegre, em que o PSB concorreu numa aliança formada por partidos como o PCdoB e o PPS. “Há setores nestes partidos que têm força e estão descolados dos demais projetos. Isso aumenta as possibilidades de que se agreguem ao PSB num projeto ao Executivo gaúcho”, projetou.

Para deputado, é preciso mudar o modelo de desenvolvimento

Ao falar aos empresários sobre o tema Conjuntura político-econômica brasileira, na Federasul, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) defendeu que o Brasil deve trabalhar para diminuir assimetrias nas áreas tributárias e previdenciária, mudando também o modelo de desenvolvimento se quiser se tornar um player mundial e superar defasagens nos campos tecnológico e comercial.

Segundo o deputado, existe atualmente uma relação desigual entre o padrão de consumo disseminado pela globalização e as condições de produzir os bens. “O consumo é global, mas as condições de empreender são nacionais e seguem agravadas”, disse, citando a perda de participação do País em mercados como o de calçados, que não conseguiu manter uma grande escala de produção.

Ciro também pontuou que o modelo atual de exportação, centrado em commodities de baixo valor agregado, não suporta o atual perfil de consumo brasileiro, com 80% da população no meio urbano.

Na avaliação do parlamentar, o Brasil perdeu competitividade no mercado internacional porque se deixou superar tecnologicamente, perdendo terreno para países como a Coreia do Sul. “Isso aconteceu porque colocaram ênfase na educação e fizeram um esforço nacional para atuar em uma plataforma global de desenvolvimento”, argumentou.

O ex-ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e da Integração Nacional no primeiro mandato do presidente Lula acredita que o Brasil deve investir em poupanças internas, coordenar o governo e o setor privado em suas estratégias e trabalhar fortemente em educação a fim de recuperar terreno.

O presidente em exercício da Federasul, Ricardo Russowsky, salientou que a modernização e o aumento da competitividade da economia brasileira não foram acompanhados por reformas capazes de tornar as legislações fiscal e tributária mais justas com quem produz.

“Essa agenda de reformas tem um preço incalculável. Que no debate a ser aberto no ano que vem, nas eleições presidenciais, os diferentes candidatos tenham a grandeza de estabelecer um acordo mínimo em torno das reformas”, defendeu.