Cerca de 900 crianças e jovens são vítimas de leucemia por ano

Feb 08 2009
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Correio Braziliense, 08/02/2009 por Rodrigo Couto 

Considerada uma das maiores promessas do basquete brasileiro, a pivô Michelle Splitter morreu na última segunda-feira, aos 19 anos, em virtude de complicações de uma leucemia linfoide aguda (LLA). A jovem, que lutava contra a doença desde 2004, não conseguiu vencer o câncer que atingiu células de seu sangue. Durante três anos de tratamento, a jogadora chegou a perder 17kg, mas conseguiu se recuperar e voltar a jogar em outubro de 2007. A garra e a determinação foram recompensadas com a convocação para a Seleção Brasileira, que defendeu em amistosos contra Cuba. Em março do ano passado, exames detectaram a recorrência da leucemia. Após intensa campanha da família para encontrar um doador, ela foi submetida a um transplante de medula óssea em 14 de janeiro, em Campinas (SP). “Ela cooperava com os médicos, treinava e se cuidava. Mas, infelizmente, não resistiu”, lamenta o irmão, Thiago Splitter, 23 anos.

Ainda muito abalado com a morte de Michelle, Thiago, que é jogador da Seleção Brasileira de basquete e do time espanhol Tau Cerámica, conta que os pais ainda tentam superar a grande perda. Michelle estava sendo tratada no Centro Boldrini, em Campinas, e ficou hospedada, nos últimos meses de vida, na casa de Paulo Bassul, técnico da seleção, e da treinadora Mila Rondon, em Americana (SP). “Quero deixar um agradecimento público ao Paulo e a Mila”, diz Thiago. Sob aplausos, a jogadora de 1,98m foi sepultada na quarta-feira passada no Cemitério da Igreja Luterana, centro de Blumenau (SC), sua cidade natal.
A história de Michelle se parece com a de muitos jovens brasileiros. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que entre 900 e mil crianças e jovens de até 19 anos devem perder a vida para a leucemia anualmente no país. Os números mais recentes são de 2006, quando foram 963 vítimas nessa faixa etária. No Distrito Federal, foram registrados 17 óbitos no mesmo período. Considerando todas as faixas etárias, os diferentes tipos de leucemia mataram 5.460 pessoas naquele ano em todo o país e 93 em Brasília. A previsão para 2009 é de 9.540 novos casos. Para Brasília, a estimativa é de que 120 pessoas desenvolvam a doença.

Lei

Inspirado pelo drama de seu filho Pietro Albuquerque — que também morreu aos 19 anos, vítima de leucemia mieloide aguda (LMA) —, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) apresentou, em 2008, o Projeto de Lei 4.383, que institui a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea. A proposta foi aprovada na última quarta-feira pelo plenário da Câmara, um dia depois da morte do jovem, que recebeu o diagnóstico do mal em dezembro de 2007. A proposição prevê que a semana seja realizada de 14 a 21 de dezembro, com atividades de esclarecimento e de incentivo à doação.

Mais comum em adultos, a LMA é a forma mais grave da doença. Enquanto procura forças para superar a perda de Pietro, Albuquerque pretende retomar sua rotina na Câmara nesta semana, quando deve se reunir com o presidente do Congresso Nacional e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para pedir a aprovação imediata do projeto pela Casa. “Não podemos perder mais tempo contra a leucemia. É preciso que o Ministério da Saúde comece a trabalhar logo na realização da semana de mobilização”, diz o deputado (leia depoimento).

Um número maior de doadores significa mais esperança para os pacientes com leucemia, que apesar de agressiva tem cura (veja infografia). Ronaldo Gregório, 18 anos, é um dos que conseguiu vencer a doença. Morador do Riacho Fundo I, o adolescente começou a sentir os primeiros sintomas em maio de 2006. “Pensei que fosse caxumba, pois estava com infecção na garganta. Em duas semanas perdi quase 20kg”, conta. O diagnóstico de LMA ocorreu quando o estudante tinha 15 anos, depois de uma série de exames realizados no Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
Para a sorte de Ronaldo, seu irmão, Renato, tinha 100% de compatibilidade para o transplante de medula, realizado em outubro de 2006, em São Paulo. Hoje, o adolescente leva uma vida normal. Joga bola com os amigos e não descuida da malhação. “A musculação me ajudou a recuperar a resistência”, diz, com um largo sorriso no rosto e alguns quilinhos a mais. “Estou com 79kg, um pouco acima do ideal, mas vou ficar em forma até o fim do verão”, promete.