Ciro busca tempo na TV para se viabilizar

Sep 24 2009
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O Estado de S. Paulo, 24/9/2009por Marcelo de Moraes e Christiane Samarco, BRASÍLIA

PSB tem apenas 1 minuto e 11 segundos diários em cadeia nacional

Apesar da boa performance nas pesquisas de intenção de voto, aparecendo em alguns cenários à frente da pré-candidata do governo, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) tem dois grandes desafios para viabilizar a sua candidatura ao Palácio do Planalto. Ele terá de construir palanques competitivos nos Estados e ainda conquistar legendas que lhe garantam tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV.

Sozinho, o PSB tem apenas 1 minuto e 11 segundos diários em cadeia nacional, tempo que pode dobrar com a ajuda dos partidos que não lançarão candidato. Isso, porém, não sustenta uma campanha competitiva. Nesse cenário, está nos planos do deputado uma coligação com o PDT e o PC do B, partidos que integram o chamado "bloquinho" de esquerda.

Há, porém, arestas a aparar e complicadores. Um dos exemplos é o PDT, que na eleição passada lançou o senador Cristovam Buarque (DF) na corrida presidencial. Agora, setores do partido defendem que se repita a candidatura própria em 2010.

Outro fator a ser solucionado é o racha da base aliada do governo Luiz Inácio Lula da Silva em 2010. Ninguém acredita que a eventual aliança entre PSB, PDT e PC do B possa ser definida à revelia de Lula. Apesar do bom desempenho de Ciro, com pesquisas apontando chances concretas de ele chegar ao segundo turno, petistas apostam que o presidente não vai liberar as legendas para a composição.

PARTILHA

A distribuição do tempo do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV é feita entre os partidos proporcionalmente ao número de deputados eleitos na última votação. O PSB não foi dos piores, mas, mesmo assim, ficou em sexto lugar.

Não existe ainda definição da partilha de tempo, mas um cálculo preliminar, levando em conta que todos os 27 partidos existentes apresentem nomes para a sucessão de Lula, deixaria o PSB com 1 minuto e 11 segundos, dentro de um horário total de 25 minutos. Esse tempo certamente será maior, já que o horário destinado aos partidos que não lançarem candidatos será dividido, também proporcionalmente ao tamanho das bancadas eleitas, entre as legendas que concorrerem.

Essa conta indica, de pronto, dois problemas. O PSB de Ciro teria hoje praticamente um terço do tempo a que o PT tem direito (3 minutos, no cenário com 27 candidatos) e também menos que o PSDB (2 minutos e 27 segundos). Como a tendência é de que os partidos da base se unam em torno de Dilma e os de oposição se aliem ao governador paulista, José Serra (PSDB), Ciro terá muito menos tempo para sua propaganda eleitoral na TV. Ou seja, se não se tornar o "plano A" do presidente Lula, precisará desesperadamente de coligações para aumentar a sua exposição.

PALANQUES

Outro problema é a falta de palanques regionais fortes. Por ser um partido médio, as ambições regionais do PSB são mais limitadas que as das principais legendas, como PMDB, PT e PSDB. Concorrendo apenas com o apoio do PSB, Ciro teria à disposição hoje poucos palanques garantidos. Um deles é Pernambuco, onde o governador Eduardo Campos (PSB) seria um importante aliado. No Ceará, seu irmão, o governador Cid Gomes (PSB), também é apoio certo.

Fora desses Estados, começam as incertezas. Ainda que o PSB lance mais candidaturas majoritárias, como a do senador Renato Casagrande, no Espírito Santo, ou a do deputado Beto Albuquerque, no Rio Grande do Sul, os maiores Estados estão descobertos. Ciro não teria espaços consolidados de apoio em São Paulo e no Rio.

Em Minas, Ciro pode contar com o apoio do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), seu amigo pessoal. Mas sabe que pode precisar dividir o seu apoio com outros candidatos.

Na semana passada, Ciro se reuniu com Lacerda e alguns dos principais dirigentes do PSB mineiro, além de integrantes do Diretório Nacional, no gabinete de Casagrande. No encontro, ficou decidido que o diretório mineiro terá autonomia para fechar os acordos regionais que considerar necessários para o fortalecimento do partido no Estado. Mas deverá garantir um palanque para Ciro, mesmo que este não seja exclusivo. Afinal, Lacerda foi eleito na capital mineira bancado por uma insólita aliança sustentada pelo governador tucano Aécio Neves e pelo prefeito petista Fernando Pimentel.

Apesar dessas dificuldades futuras, não existe dúvida que o mais importante para Ciro era impedir que o seu nome terminasse rifado já nas primeiras discussões sobre candidaturas. Aparecendo até com melhor desempenho do que Dilma em algumas pesquisas, o deputado conseguiu bloquear o primeiro movimento para que a sua candidatura fosse vetada pelo Palácio do Planalto e até mesmo pelo seu partido, em prol de uma unidade da bancada governista.