Câmara vive dia de caos político

Mar 25 2004
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Jornal do Brasil

Jornal do Brasil, 25/03/2004
Câmara vive dia de caos político

A base governista na Câmara explodiu ontem. Sem líder, com o PMDB atacando apolítica econômica, PP e PL boicotando a medida provisória dos bingos e os boatos de uma demissão do chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, correndo como rastilho de pólvora durante todo o dia, os líderes governistas batiam cabeça e davam informações desencontradas.

A crise foi tanta que duas reuniões foram marcadas, à noite, para juntar os cacos. Na casa do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), reuniram-se os líderes dos partidos. Na casa do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), a conversa seria institucional, envolvendo os presidentes dos partidos.

– Espero que essa quarta-feira de cinzas se consolide como uma lição. Temos de ter serenidade, colocar o governo e os projetos em primeiro lugar – cobrou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (RS).


A definição de ontem como quarta-feira de cinzas foi dada antes dos ponteiros do relógio marcarem meio-dia. Pelos corredores da Câmara, governistas pareciam perdidos. Um petista acostumado a defender o Planalto lamentava a atitude do chefe da Casa Civil, José Dirceu, que deu uma entrevista bombástica criticando a oposição no mesmo dia em que seria divulgado o relatório final da Comissão de Sindicância do caso Waldomiro.


– Poderíamos capitalizar positivamente o episódio. Mas arrumamos um fato para trazer a crise de volta – afirmou, desconsolado. Líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE) admitiu que a situação estámuito ruim e que a crise havia chegado de vez à Câmara. Confessou que há uma insatisfação muito grande entre os aliados. Acusou uma falta de articulação entre o Executivo e o Congresso, reclamando que os ministros não retornam a ligação feita pelos parlamentares.


– O governo não está nos devendo nada, além do Brasil que nos prometeu.

Sobre a situação de José Dirceu, Múcio acredita que beira a insustentabilidade. Admitiu que os rumores ao longo do dia de ontem sobre a saída de Dirceu paralisaram a agenda política.

– O problema de fevereiro (caso Waldomiro) continua se arrastando.


Pensávamos que havia um projeto de governo. Esperávamos a materialização da agenda do crescimento, geração de emprego e renda – acrescentou.


Responsável pelas negociações da MP dos bingos, o vice-líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), buscou maquiar o racha na base, dizendo que não existia nenhuma divisão. Rendeu-se, contudo, às pressões do PP e PL, que, insatisfeitos com a não-liberação de emendas, impediram a votação da MP na noite de ontem. Um deputado do PL deu a medida da tensão.

– Não se pode pechinchar com a base. Enquanto sua popularidade estiver alta, você tem que ir alimentando os aliados. Se não, quando a curva começar a decrescer, você só vai ficar administrando crises, como agora.