Conspiração dentro de casa

Jun 07 2008
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Correio Braziliense, 07/06/2008

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e parlamentares governistas estão certos de que há motivação política por trás das acusações feitas pela ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu contra a ministra Dilma Rousseff. A principal suspeita é de fogo amigo, destinado a minar o prestígio da "mãe do PAC" e a possibilidade de ela ser a candidata do governo nas eleições presidenciais de 2010. Como no caso do suposto dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro José Dirceu (PT) é apontado como possível mentor da denúncia. Não é à toa. Denise chegou à Casa Civil, em 2003, pelas mãos de Dirceu.

O petista também foi o responsável pela ida de José Aparecido Nunes Pires para a Secretaria de Controle Interno da Presidência da República. Foi Aparecido que enviou um e-mail com dados sigilosos do governo anterior a André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). "Em casos como esse, é muito mais fácil acreditar em conspiração do que em coincidência", diz um aliado de Dilma.

Em público, os governistas descartam a tese do fogo amigo. Preferem alegar que Denise agiu por "ressentimento", devido à sua demissão da Anac. Ontem, a própria ministra reforçou o coro entoado para consumo externo. "Não acredito em fogo amigo. Acho que, mais uma vez, isso partiu de fogo inimigo. Existia um grande apelo de diversos segmentos da sociedade para que a Varig fosse salva. Realmente, ela ia se esfacelar. O que fizemos foi, através da Lei de Falência, garantir a mínima chance de venda", declarou a ministra em entrevista à Rádio Gaúcha.

Denúncia

"Denise Abreu tinha que ter feito a denúncia quando estava investida do cargo de diretora da Anac", acrescentou o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo na Câmara. Para um grupo governista, há a possibilidade de Denise, que trabalhou no governo de Mário Covas (PSDB) em São Paulo, ter agido sob a batuta da oposição. A ex-diretora teria feito a denúncia no momento político mais oportuno, já que nesta semana a CPI dos Cartões chegou ao fim, sem implicação criminal para a ministra, e a Anac decidiu reabrir a discussão sobre a legalidade da participação do fundo de investimento Matlin Patterson no controle acionário da Varig.

"Isso é fogo de falso amigo. A motivação política é clara", afirmou Albuquerque. No Palácio do Planalto, a disposição é de defender a ministra com todas as forças. Entre outros motivos, porque partiu do presidente a decisão de salvar a companhia aérea. Quando foi detonada a crise do suposto dossiê, aliados do presidente disseram que o caso serviria para testar a capacidade da ministra para o embate político. Serviria para ver se ela sobreviveria à chuva. O problema é que a tempestade não passa. E a "mãe do PAC" corre o risco de ficar mais de dois anos sob relâmpagos e trovoadas. "Se ela chegar à Presidência será inusitado. O grande adversário da Dilma é o tempo", declara um ministro. (DP e GK)