Cresce a pressão do PT por seus ministros

Jan 21 2004
(0) Comments

O Globo

O Globo, 21/01/2004
Cresce a pressão do PT por seus ministros

Cristiane Jungblut, Gerson Camarotti e Bernardo de la Peña

LULA TROCA TIME: Líderes do PMDB e do PSB não escondem impaciência com indecisão do presidente sobre mudanças


Com a demora de Lula, petistas se mobilizam para manter Berzoini e nomear Patrus para o novo ministério social

BRASÍLIA. A demora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para anunciar as mudanças no Ministério acabou provocando ontem novos problemas para o Palácio do Planalto: a pressão dos aliados por uma decisão e o surgimento de novos lobbies em favor de nomes para o primeiro escalão. Os aliados, principalmente do PMDB e do PSB, não escondiam sua impaciência com a
indecisão do Planalto. O presidente não escapou nem mesmo das articulações de seu próprio partido. Parte da bancada petista se mobiliza para manter Ricardo Berzoini no Ministério da Previdência, enquanto os mineiros do partido engrossavam o lobby para o deputado federal Patrus Ananias assumir o Ministério do Desenvolvimento Social, apesar de o nome preferido ser o do atual ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Tarso Genro.

Lula começou o dia numa reunião com o chamado núcleo de coordenação de governo – José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo) – e com os líderes na Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). No encontro, segundo assessores, Lula
fez uma avaliação das pressões e reafirmou sua disposição de anunciar as mudanças até sexta-feira, quando viaja às 17h para São Paulo e, à noite, para a Índia.

Segundo dia de agenda vazia para discutir reforma Pelo segundo dia consecutivo, Lula deixou sua agenda vazia para encontros e contatos relativos à reforma ministerial. O presidente terminou o dia num encontro com Berzoini, o ministro do Planejamento, Guido Mantega, e novamente Palocci e Dirceu. O assunto oficial foi a questão da revisão dos benefícios previdenciários. Mas o destino de Berzoini e a questão do Ministério da Previdência também foram discutidos nas conversas de ontem.

O Planalto identificou movimentos para tentar garantir a permanência de Berzoini na Previdência ou pelo menos no governo. Mas integrantes do governo disseram que Berzoini não irá para o novo Ministério do Desenvolvimento Social. Lula, segundo assessores, mantém firme o propósito de fazer com que a nova pasta sirva para unificar os ministérios da Segurança Alimentar e da
Assistência e Promoção Social, além do Programa Bolsa Família.

Tarso Genro é considerado o nome ideal para assumir a nova pasta. Mas, ontem, a bancada mineira do PT e até o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), saíram em defesa de Patrus Ananias.


– O formato que o ministério social terá vai depender do nome escolhido para ocupá-lo. É uma área-chave do governo – disse um interlocutor do presidente.

O clima de indecisão tomou conta inclusive do Planalto. Cotados para serem ministros, os líderes do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira (CE), e do PSB, Eduardo Campos (PE), saíram de uma reunião com Dirceu afirmando que estavam lá apenas como comandantes de suas bancadas. Dirceu se reuniu com 17 líderes e vice-líderes para discutir a pauta da convocação extraordinária do Congresso.

Vice-líder critica demora nas mudanças no Ministério

Mas o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), deixou a reunião criticando a demora de Lula em anunciar as mudanças.


– Espero que o presidente possa de fato, antes da viagem a Índia, externar ao país a reforma. Uma reforma que demora mais de um mês expõe quem entra e quem sai. Põe todo mundo na frigideira – reclamou Beto Albuquerque, acrescentando que a demora e as especulações só prejudicam ao governo.

Um dos nomes cogitados para assumir o Ministério da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos foi diplomático ao falar do assunto.

– Não devemos apressar o presidente. Temos que deixá-lo à vontade.

Quem sair ainda terá meios de ajudar o governo


Ao chegar à Granja do Torto para participar de uma festa, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), defendeu a reforma ministerial e disse que a saída de ministros do partido do governo não vai afetar o companheirismo na legenda. Segundo Mercadante, alguns poderão perder a função pública, mas continuarão tendo espaço para contribuir com o governo.

– Tem hora que temos que trocar o time para ganhar o jogo – resumiu o líder do governo no Senado.


Hoje, Lula se encontra com os governadores de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves, e de Santa Catarina, o peemedebista Luiz Henrique.