Crise – Pesquisa é arma da oposição
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O Estado de Minas
O Estado de Minas, 28/03/2004
Crise – Pesquisa é arma da oposição
Queda de popularidade do governo Lula, confirmada em levantamento encomendado pela CNI, é creditada à política econômica e ao caso Waldomiro. Base tenta minimizar resultados
Jefferson Peres condena atuação do governo no caso Waldomiro e diz que a queda de popularidade do presidente Lula mostra que o maestro está sendo responsabilizado pelos erros da orquestra
Lados opostos, interpretações diferentes. A queda nos índices de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no nível de confiança em seu governo revelada em pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e divulgada sexta-feira, foi interpretada, pelas lideranças governistas, como um alerta que deve ser levado em conta, mas que não coloca em dúvida os rumos adotados para o País.
Para a oposição, os números – a aprovação caiu de 66% para 54% – comprovam insatisfação com a política econômica e refletem a indignação provocada pelo escândalo envolvendo o ex-subchefe de assuntos parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, e a insistência em impedir instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso para investigar as denúncias.
O presidente Lula está vulnerável, o que destrói a crença de que sua imagem seria inabalável. Cedo ou tarde fica claro que, se a orquestra desafina, o maestro tem sua responsabilidade. Acredito que a população até daria um crédito de confiança em relação às promessas ainda que não foram cumpridas, mas não vejo como ela possa aceitar o PT traindo seu discurso, explica o senador Jefferson Peres (PDT-AM), um dos principais defensores da CPI dos Bingos.
Para o ex-governador e atual secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, derrotado por Lula nas eleições de 2002, o caso Waldomiro é apenas um dos aspectos que pesam contra o governo. Ele defende a tese de uma paralisia administrativa. Nada funciona. O que existe hoje não é um ministério, e sim um derrotério. Não somos radicais. Fazemos oposição construtiva. Não é contra o presidente, é para ajudá-lo. Embora o governo federal maltrate a gente, não temos rancor, garantiu no programa semanal de
rádio que mantém em uma emissora carioca.
O presidente do PPS, Roberto Freire, que já havia manifestado sua insatisfação antes mesmo da divulgação da pesquisa, preferiu creditar, à política econômica, os resultados esfavoráveis da pesquisa da CNI e cobrou uma mudança de atitude. Não há projeto de mudanças, a economia não cresce e daí vem o desgaste, justificou o deputado federal pernambucano, em São Paulo, durante abertura do congresso nacional do PPS, que deve confirmar hoje sua recondução à presidência.
No mesmo evento, o ex-líder do governo na Câmara, Miro Teixeira, que agora representa a legenda, exigiu uma postura mais agressiva do governo, em todos os setores. A queda de popularidade não é boa, nem desejável. Se tivesse de dar uma sugestão, proporia um maior enfrentamento. Tudo é feito com conhecimento e segurança, mas é preciso refletir sobre certas decisões. A aceitação ao presidente Lula pode cair ainda mais conforme os próximos
passos que ele seguir. A eleição criou uma expectativa grande, e de curto prazo, de que todos os problemas seriam resolvidos da noite para o dia. O governo sabia que isso ia acontecer, explicou o deputado federal fluminense.
Base aliada fala em normalidade
Repetindo o discurso adotado pelo ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, as lideranças governistas procuraram encarar a queda nos índices de popularidade mostrada pela pesquisa com naturalidade e admitem que a pesquisa da Confederação Nacional do Transporte, feita pela Sensus, e que será divulgada amanhã, seguirá o mesmo caminho.
Prefeita Marta Suplicy e ministro Olívio Dutra recebem pesquisa com naturalidade, mas não escondem um certo desgaste.
Através de uma nota divulgada ontem, Gushiken disse que os resultados são um alerta para o governo de que ainda há muito a ser feito, mas preferiu valorizar as ações em curso. Por mais que o governo tenha sua pauta de realizações em andamento, é normal que haja oscilações em pesquisas de opinião quando um assunto negativo permanece na agenda do País por muito tempo. Estamos votando as reformas, liberamos R$ 1,6 bilhão para o setor de
habitação, investimos na recuperação de rodovias e renegociamos as dívidas do crédito educativo, justificou.
Sinal Passamos um momento negativo, mas isso existe e pode ser perfeitamente superado, garantiu a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, durante cerimônia de assinatura de convênio com a Caixa Econômica Federal, para a construção de moradias populares. O ministro das Cidades, Olívio Dutra, que também participou do evento, definiu a pesquisa como um sinal
importante de que o governo não está agradando a todos, mas acredita que isso se deve ao fato de que as propostas contrariam determinados interesses.
Estamos em um esforço gigantesco para recuperar a economia. Realmente existem demandas urgentes que não conseguimos atender, mas não será necessário alterar nossa orientação. O governo está executando uma partitura com vários movimentos e, entre os próximos, estão programas de geração de emprego e renda, comentou.
Um dos vice-líderes do governo na Câmara, o deputado gaúcho Beto Albuquerque, do PSB, comparou a pesquisa CNI/Ibope a uma fotografia e lembrou que ela reflete um momento específico, marcado por algumas circunstâncias negativas. Albuquerque prefere creditar o panorama ao bombardeio de críticas da oposição nas últimas semanas e cobra, dos adversários, empenho para discutir os verdadeiros problemas nacionais. Se a oposição contribuir, será possível reduzir a taxa de juros e caminhar para o crescimento, complementando o esforço do ano passado para preparar o caminho. A maioria da população está com o governo, como estava na eleição e, no final de 2004, a fotografia será certamente bem diferente.