Deputados gaúchos falam sobre CPI da corrupção

May 24 2005
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Jornal do Comércio

Jornal do Comércio, 24/5/2005
Deputados gaúchos falam sobre CPI da corrupção

Esta semana, o governo Lula viverá, provavelmente, os momentos mais difíceis desde que assumiu a presidência da República. Ao que tudo indica, amanhã será lido, no Congresso Nacional, o requerimento para a criação da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) para investigar denúncias de corrupção nos Correios. Mesmo com o grande leque de alianças partidárias articuladas desde os primeiros meses de governo, Luiz Inácio não conseguiu evitar que seus aliados assinassem o requerimento, demonstrando uma total incapacidade de articulação política da sua equipe.

O deputado federal do PDT, Alceu Collares, diz que em toda a sua história como parlamentar, jamais viu tamanha crise institucional como a atual. Ele acredita que o que está em jogo são as instituições democráticas como um todo, e enumera uma série de fatores que contribuem para o descrédito do governo Lula: “os métodos de aliciamento partidário utilizados pelo presidente que desestruturam os partidos, a eleição do presidente da Câmara de Deputados, Severino Cavalcanti, cuja postura coloca em risco toda a instituição, principalmente por conta da sua incontinência verbal e, o mais grave de todos, a onda de corrupção que assola o governo”, sentencia Collares.

O deputado acredita que com a abertura da CPI dos Correios, a pretensa reeleição de Luiz Inácio está definitivamente comprometida. “Mais que nunca, o Lula e os integrantes do governo terão que ter muita competência para contornar o escândalo de corrupção. Não será com chantagem e pressões para a retirada de assinaturas do requerimento de abertura da CPI ou com medidas provisórias criando foro privilegiado para figuras do governo que Lula evitará a apuração das denúncias. Há uma quantidade de fatos que comprometem o presidente de forma moral, principalmente no que diz respeito às alianças partidárias e o troca-troca de favores”, afirma o deputado.

Outra liderança gaúcha, o deputado federal Mendes Ribeiro Filho, se confessa preocupado com a falta de comando do governo: “A incapacidade de articulação política chegou ao limite. Prova disso é que o próprio governo faz questão de não votar matérias por não ter segurança sobre os resultados”, relata o parlamentar. Para Mendes Ribeiro, a denúncia de corrupção nos Correios é apenas uma ponta da crise governamental: “Certamente, a CPI vai ampliar as investigações para outros órgão do governo e, quando isso acontecer, o meu maior temor é que as investigações acabem por influenciar a economia”.
O deputado federal Beto Albuquerque (PSB), da base de apoio do presidente Lula, diz que o governo federal tem apresentado uma conduta inovadora de desbaratamento e desmonte de quadrilhas através da Polícia Federal com o apoio do Ministério Público. Em relação aos Correios, ele argumenta que a própria Polícia Federal já está fazendo a apuração das denúncias para descobrir “os verdadeiros envolvidos no processo”, garantiu.

Segundo Beto Albuquerque, o governo não teme a instalação de CPIs. “Achamos que tudo o que precisar ser feito para apurar os fatos deve ser feito. Só que nesse caso, há uma precipitação da oposição que quer conturbar as coisas e não buscar a verdade”, alegou. Segundo ele, o PTB não pode ser previamente condenado. “Nem o partido, nem seu presidente Roberto Jefferson devem ser punidos antes de qualquer investigação da Polícia Federal. Não vamos cair nessa armadilha por conta de um sacana que falou no nome de Jefferson”, defendeu.

O ministro do Controle e da Transparência da Controladoria Geral da União, Waldir Pires esteve em Porto Alegre na sexta-feira, quando informou que os Correios já vinham sendo submetidos à avaliação de auditores antes das últimas denúncias sobre o esquema de propina, que mudaram ao rumo das investigações, disse o ministro. Waldir Pires informou que oito servidores foram designados para auditoria, que acontece paralelamente à sindicância que está sendo feita na estatal. Segundo ele, serão ouvidos também todos aqueles que autorizaram despesas administrativas. A auditoria que investiga a corrupção nos Correios estará concluída em 60 dias, afirmou.

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