Desgaste petista

Mar 07 2007
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Correio Braziliense, 7/3/2007

O PT cometeu um erro grave no esforço para arrumar uma vaga no ministério de Lula para a ex-prefeita Marta Suplicy. Forçou a situação em público e fez com que o presidente se sentisse emparedado. Essa é uma das coisas que Lula mais detesta. Nas conversas reservadas que teve nos últimos dois dias, o presidente não escondeu sua irritação com a estratégia do PT e a má vontade em encaixar a ex-prefeita na equipe ministerial. Isso não quer dizer que Marta não será convidada. Muitos petistas vêm agindo como bombeiros e tentado convencer Lula da importância estratégica de dar visibilidade a um dos poucos quadros que o partido tem como possíveis candidatos à sucessão presidencial. Mas acham remotas as chances de ela obter os cargos que ambicionava, como os ministérios das Cidades ou Educação. No máximo, ocupará uma pasta de importância secundária, como Turismo.

Lula deixou seu estado de espírito bem claro na reunião que teve segunda-feira à noite com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, que lhe entregou a lista de reivindicações do partido para o ministério, encabeçada pelo nome de Marta. O presidente foi seco e disse que iria estudar, mas que a decisão final será dele. E ainda listou para Berzoini todas as pastas que são ocupadas hoje pelo PT, numa demonstração de que o partido já está bem atendido.

Nos últimos dois dias, Lula conversou com os governadores petistas que estiveram em Brasília para a reunião de ontem na Granja do Torto. Não viu neles nenhum sinal de apoio às pretensões de Marta. Os governadores acham que a articulação em torno da ex-prefeita foi mais uma jogada precipitada do PT de São Paulo.

Aliados

O presidente deu sinais de que já decidiu o que fazer com os partidos da base aliada. Informou ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que o PSB vai perder mesmo a Integração Nacional — será entregue ao PMDB. Em compensação, o partido receberá uma nova pasta, que cuidará da estrutura de portos e aeroportos no país. Será um ministério com grande orçamento e estratégico para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O favorito para o cargo é o deputado Beto Albuquerque (RS), que deixou ontem a função de líder interino do governo na Câmara.

Outra decisão praticamente tomada é a da transferência do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, para a coordenação política do governo. Ele ocupará a pasta das Relações Institucionais, em lugar de Tarso Genro, que vai para a Justiça. O ministro vai deixar o PTB e examina um caminho a seguir. Ontem o comando do PR dava como certa sua adesão. (GK)