Dificuldades? Força para recomeçar

Aug 02 2009
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Diário da Manhã – Passo Fundo, 01/8/2009
Recordista brasileiro no halterofilismo na categoria até 52kg, Celso Leandro Monteiro dá uma lição de vida sobre a cadeira de rodas

Corria o ano de 2002. Aos 32 anos, Celso Leandro Monteiro levava uma vida desregrada. Sem emprego fixo, se virava entre empregos temporários, pequenos bicos e “briques” de carros. Até que a vida dele mudou. No dia 24 de outubro, Leandro conduzia uma motocicleta na rua Bento Gonçalves, quando um caminhão cortou a sua frente, seguido de uma colisão e queda do então motociclista. O saldo foi trágico: trauma toráxico com pressão de medula, uma vértebra quebrada e outras duas trincadas. Passaram-se 15 dias no hospital, cirurgias, pneumonia e infecção. Aí veio a notícia: paralisia dos membros inferiores.

“Pensei que tudo tinha acabado” lembra. Os quatro meses seguintes foram os mais difíceis. Rejeição, revolta, depressão, stress emocional e brigas constantes com o pai, Para Celso e a mãe, Vani. A indicação era de que Leandro procurasse a reabilitação no Hospital Sarah Kubitschek, referência no serviço. A conquista da vaga foi difícil, mas com auxílio do deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), Leandro pôde passar por um mês de tratamento na unidade de Brasília. Com atenção de psicólogo, psiquiatra, fisioterapia, enfermeiros e urologistas, aprendeu como seria conviver com a cadeira de rodas. “Eu não sabia nada, tive que aprender coisas simples, como entrar no carro e ir ao banheiro” afirma.

Na volta a Passo Fundo, decidiu que iria mudar o estilo de vida. Aproveitando que um ônibus coletivo adaptado (novidade de então) passava em frente ao edifício, seguia diariamente para o Dapne (Departamento de Assistência a Portadores de Necessidades Especiais), à época localizada no antigo quartel do exército. Lá encontrou outro cadeirantes e retomou a socialização, perdida no acidente. Sob sugestão de João Luiz Horn, secretário da Dapne e também cadeirante, iniciou a prática esportiva, com jogos de basquete.

O início no esporte

Em 2004, fã do basquete diário na Dapne, Leandro viu uma possibilidade de crescer no esporte: os Jogos Abertos, voltados a portadores de necessidades, que ocorreriam em Porto Alegre. Junto com uma delegação de Passo Fundo, rumou para a Capital. Participou de três modalidades (halterofilismo, natação e tiro olímpico) trazendo ótimos resultados (medalha de ouro no halterofilismo com a marca de 70kg, prata e ouro na natação e quarto lugar no tiro). Lá mesmo, em contato com outros desportistas, recebeu o incentivo para ingressar, de verdade, no halterofilismo, “pelo biotipo”.

Já em 2005, com o grande desempenho nos Jogos Abertos, conseguiu uma vaga para o Regional de Halterofilismo, que ocorreu em Itajaí (SC). Ergueu 76kg, obteve classificação e foi para o Rio de Janeiro disputar o Brasileiro.  “Eu era filiado à Associação de Porto Alegre e viajamos de avião cedido pela Força Aérea Brasileira, um luxo” recorda, empolgado. Só que o resultado na Cidade Maravilhosa não foi empolgante e bateu uma frustração.

Treinos e conquistas

Incentivado pelos pais e pelos amigos, Leandro concentrou-se nos treinos. Entrou 2006 mergulhado nos treinos com o propósito de ser o melhor no esporte. Fixou carga de treinos, delimitou um programa de alimentação e competiu. Novamente classificado para o Brasileiro disputado em Uberlândia (MG), levou a medalha de bronze, erguendo 100kg na categoria até 56kg.

Nos anos seguintes, os índices cresceram. Em 2007 o Brasileiro foi disputado em São Paulo. Primeiro título nacional, erguendo 105kg. Em 2008, em Fortaleza (CE), alcançou o recorde brasileiro da categoria até 52kg: 112,5kg. Em 2009, na seletiva de Brasília para o Brasileiro, quebra do próprio recorde, ao levantar 113kg. Na competição, seu peso era de 50,7kg. Assim, obteve um excelente índice de 2,18, estabelecendo-se no 6ª lugar do ranking total do halterofilismo nacional. Em paralelo, também competiu – e venceu – diversos torneios e campeonatos dentro do Rio Grande do Sul, preenchendo uma sala com troféus e medalhas. Para o futuro, almeja a disputa do Parapan de 2011 (no México) e das Paraolimpíadas de 2012 (em Londres, Inglaterra).

Aliando a vida profissional

Se a vida esportiva era próspera, a vida profissional seguia o mesmo caminho. Antes desregrada e sem perspectivas, com um jeito extrovertido Leandro passou a ser convidado a dar palestras sobre conscientização no trânsito. Assim ingressou em uma auto-escola, onde agora é colaborador. Já fez curso para instrutor (é o primeiro cadeirante em Passo Fundo) e almeja participar do concurso para a guarda municipal de trânsito. “Quero muito mais e vi que ser cadeirante não era o fim. Era o começo. Agora sou independente, tenho meu carro adaptado, viajo, realizo as tarefas diárias e consegui a minha independência financeira, coisas que eu não tinha antes” expõe.

Treinos e alimentação

A carga semanal de treinos é de três vezes (segundas, quartas e sextas-feiras). Nas segundas e sextas, são treinos específicos no supino. Nas quartas-feiras, os outros grupos são treinados. As atividades são voltadas aos ombros, costas, dorso e supino reto inclinado. Para sustentar, a alimentação é a base de carne de frango, peixe, ovos, cereais e frutas. São seis refeições diárias: café da manha, fruta, almoço, lanche, janta e cereal antes de dormir. Nada de carne bovina, “porque me sinto estufado” justifica. 

Ajuda de patrocinadores

Para poder competir, Leandro conta com o apoio de diversas empresas que custeiam passagem, alimentação, materiais esportivos, roupas e ainda garantem um ganho mensal. “Sem eles, não tem troféu” reconhece. Autotec, Disfonte, Posto Jardim, Marekis, Terres & Grazziotin Incorporadora, Vilmar Terres, Basso Park, Fifo Auto Som, Ricciplast, DCE da UPF, Natupharma, Probiótica Suplementos, Bottoli, Caren Modas, Academia Simbiose, Associação Cristã de Deficientes – ACD, Fruteira Cimarosti, Elton Cabeleireiro e Agromac são os apoiadores.

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