Dúvidas do PT sobre reforma

Nov 25 2005
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Correio BrazilienseCorreio Braziliense, 25/11/2005
Dúvidas do PT sobre reforma

Rudolfo Lago

Na tarde de quarta-feira, a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) cruzou o Salão Verde para cobrar do senador Tião Viana (PT-AC), seu aliado no Acre, algum argumento lógico para a decisão da bancada petista na Câmara, que decidira fechar questão em favor da verticalização — a regra que determina que as alianças feitas no plano federal têm de ser repetidas nos estados. “Como é que o PT faz isso? Quer prejudicar a eleição do presidente Lula?”, perguntou Perpétua. “Pois é”, respondeu Tião Viana, constrangido. “Isso ajudaria o Lula. E, se ajudaria o Lula, ajudaria a gente também”, respondeu.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, tentou convencer os demais deputados do partido a seguir o argumento usado por Tião Viana. Está na pauta da Câmara uma proposta de emenda constitucional (PEC) que derruba a verticalização e deixa as alianças livres. Caso isso aconteça, as chances de outros partidos se aliarem a Lula aumentam. Os petistas, porém, resolveram manter-se a favor da verticalização, mas sem obstruir a votação. A PEC deverá ser votada na próxima terça-feira.

“Como partido do governo, nós tivemos de abrir mão de muitas posições programáticas para adotar posições pragmáticas”, diz o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS). “O PT defende a verticalização porque defende o fortalecimento dos partidos. E porque deseja uma reforma política de fato, e não apenas um casuísmo eleitoral”, continua.

Burrice

Para outros partidos da base do governo e que podem estar na chapa de Lula, porém, a posição dos deputados petistas nada teria de “programática”. Novamente, seria “pragmática”. Não para Lula e suas chances eleitorais. Mas para o PT e para eles mesmos. “Isso faz parte do eterno projeto petista de hegemonia absoluta nas esquerdas. Querem nos sufocar. Impedir a nossa possibilidade de crescimento para reinarem sozinhos. Só que pensar nisso arriscando a própria candidatura de Lula, não é inteligente. O PT é burro”, ataca o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS).

Não apenas do PSB e do PCdoB vêm as críticas à posição petista. “Isso é suicídio. Se for mantida a verticalização, nós, desta vez, estaremos fora da chapa de Lula”, adverte o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Em 2002, o PL foi o principal parceiro na chapa presidencial, indicando inclusive o vice, José Alencar, hoje no PMR. “Acho que eles não estão pensando muito no presidente”, completa o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Lula almeja ter os peemedebistas a seu lado nas eleições, aliança hoje remota.

No caso dos partidos menores, o que complica aliança com o PT na verticalização é outra regra eleitoral prevista para 2006: a cláusula de barreira. Ela determina que os partidos terão de ter um desempenho mínimo de 5% de votos em cada estado. Do contrário, não terão direito ao fundo partidário, nem a cargos de liderança na Câmara, nem horário gratuito de rádio e TV. Ou seja: ficarão fadados a desaparecer.