Eleição debilita base governista

Feb 01 2007
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Correio da Bahia, 1/2/2007 

BRASÍLIA – A Câmara escolhe hoje seu presidente para os próximos dois anos em meio a uma disputa que rachou a base governista e ameaça a formação de um bloco coeso em defesa dos interesses do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A eleição marca também o rompimento do PCdoB e do PSB com o PT, historicamente ligados, no confronto direto dos candidatos Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP). Qualquer que seja o vitorioso, o embate – decidido em votação secreta – deixará seqüelas para o Planalto administrar.

O pior cenário, no entanto, seria a vitória, embora pouco provável, do terceiro candidato, Gustavo Fruet (PSDB-PR), de oposição. Com o acirramento e as reviravoltas na disputa, a tendência é de que haja dois turnos hoje. Aliados do petista Arlindo Chinaglia (PT-SP) trabalhavam, até ontem à noite, por uma remota chance de vitória no primeiro turno, porém os outros dois candidatos contabilizavam votos suficientes para a disputa em dois turnos.

Coordenadores da campanha do petista avaliavam ontem que uma segunda disputa com Aldo dificultaria a vitória de Chinaglia, por causa de um suposto “sentimento anti-PT” na Câmara. Na única vez em que o partido venceu uma disputa no voto secreto, em 2003, o petista João Paulo Cunha era candidato único a presidente.

No caso de segundo turno, o PSDB, partido de Fruet e com 64 deputados, será decisivo na disputa. O líder dos tucanos, Antonio Carlos Pannunzio (SP), adiantou que a bancada estará liberada para votar no candidato que quiser, caso Fruet fique fora da disputa. “Não há porque dividir o partido. O PSDB liberará a bancada”, afirmou Pannunzio.

Chinaglia conta com o apoio formal do maior número de partidos, mas todos os concorrentes têm votos de dissidentes nas bancadas. O ex-ministro e deputado Ciro Gomes (PSB-CE) foi categórico na previsão de que será impossível recompor plenamente a base: “Há feridas insuperáveis”. Ele avaliou que, no dia seguinte, os derrotados poderão até dizer que a questão está superada porque vão entender que não será o momento de dar o troco. “Mas não estará mais tudo bem”, concluiu.
Do mesmo partido do ex-ministro, o deputado Beto Albuquerque (RS) demonstrou preocupação com o uso da máquina do governo por petistas nas últimas horas antes da eleição. “Espero que o governo obedeça o presidente Lula e mantenha a neutralidade.

Quem ganhou a eleição para a Presidência da República foi Lula, não o PT”, disse.

Com a Câmara cheia de deputados que chegavam de seus estados, os candidatos intensificaram a campanha. O primeiro a registrar a candidatura foi Fruet. O tucano estava acompanhado de alguns cabos eleitorais, inclusive um grupo de Goiás que reclamava de não ter recebido o pagamento prometido pela deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO). “Deputada Raquel Teixeira, fomos contratados e não recebemos. Pague”, dizia a faixa dos manifestantes.