ELEIÇÃO – Partidos ajustam planos para 2006
- Posted by: Ass. Imprensa
- Posted in Beto na Mídia
- Tags:
Correio BrazilienseCorreio Braziliense, 27/11/2005
ELEIÇÃO – Partidos ajustam planos para 2006
Rudolfo Lago e Eumano Silva
A decisão sobre a verticalização ajudará a definir a disputa pelo Palácio do Planalto. Já há pelo menos três certezas: Lula vai concorrer, os tucanos serão seu grande adversário e o PFL não terá candidato próprio
Aécio, FHC, Tasso, Presidente do partido, e Serra: convenção do PSDB mostrou que a sigla é a que tem maior número de bons presidenciáveis
Na última quarta-feira, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), geralmente calmo e sereno, não conseguia esconder o tamanho da sua indignação. O empate parcial no Supremo Tribunal Federal (STF), que dava nova sobrevida ao deputado José Dirceu (PT-SP), tumultuava a votação no plenário da Casa. O principal item da pauta, a emenda constitucional que propõe a queda da verticalização — o sistema que hoje obriga que as alianças estaduais repitam as coligações feitas no plano federal — estava adiado, diante da confusão. E, com isso, estava adiada também a largada da sucessão presidencial de 2006.
Chateavam Aldo as acusações de leniência quanto às interferências do Supremo. Mas frustrava também o presidente da Câmara o adiamento da votação. Seja para o pequeno PCdoB de Aldo Rebelo, seja para o grande PMDB do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), ou para qualquer outro dos partidos do país, a decisão sobre a manutenção ou não da verticalização é fundamental para a definição dos planos eleitorais para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A opção sobre quem apoiar — e de que forma — está diretamente ligada, em cada partido, à resposta quanto a qual será o grau de liberdade que as legendas terão para fazer alianças diferentes nos estados.
Muitos candidatos
O quadro sucessório está de tal forma ligado à discussão sobre a manutenção da regra que os cenários imaginados mudam completamente dependendo de qual seja a decisão que o Congresso tomar sobre a emenda constitucional que deverá começar a ser votada na terça-feira. Se a verticalização cair, é possível que o país tenha um leque de opções para a Presidência da República menor apenas do que viu na primeira eleição direta, em 1989. Se a verticalização for mantida, tudo indica que o número de opções será mínimo. E bem grande e inédita a quantidade de partidos que ficará fora da eleição federal, sem dar apoio formal a ninguém para presidente (leia quadro).
Na tarde da última terça-feira, foram juntos os presidentes do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e do PMDB, deputado Michel Temer (SP), pedir a Aldo que colocasse na pauta a votação da emenda que busca derrubar a verticalização. Mesmo entre os maiores partidos do país, a discussão sucessória depende dessa decisão. Numa conversa recente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Renan Calheiros disse que a queda da verticalização seria a última esperança de ainda se poder discutir alguma aliança para a reeleição. Ela abriria, segundo ele, uma chance de 5%. Sem a verticalização, a chance se torna zero. O PMDB é um partido de líderes estaduais muito fortes. Vários candidatos potenciais a governador. Com adversários locais petistas que jamais admitirão apoiá-los.
No caso do PFL, a queda da verticalização resolveria na maioria dos casos o que ainda resta de dilema para apoiar ou não o candidato do PSDB na eleição presidencial. Ainda assim, há algumas complexidades. Especialmente na Bahia. Embora tucanos e pefelistas sejam ali inimigos figadais, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) deseja a verticalização. No caso, para impor aos seus adversários tucanos que permaneçam na mesma chapa que ele. De modo a não se unirem com outros adversários contra ele. “Há muito de cálculo individual na votação da verticalização. Isso a torna um pouco imprevisível”, comenta o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM).
Muitos deputados
Cálculo individual que, acusam outros partidos da base de sustentação do governo, faz hoje a bancada do PT posicionar-se a favor de manter a verticalização. Para o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), a posição da bancada petista tem a ver com seus próprios projetos de eleição. Diante de um PT atingido pelas denúncias, os deputados estariam dispostos a limitar ao máximo a chapa de Lula para não dividir com aliados os votos puxados pelo presidente. Mesmo que não consiga se reeleger, Lula certamente terá uma grande votação. Se a verticalização for mantida, esse projeto tem boas chances de dar certo. Além de ficar fora o PMDB, a mesma idéia de não apoiar Lula ganha força entre seus parceiros menores, mesmo aqueles que sempre foram aliados tradicionais dos petistas, como o PSB.
No caso, o que pesa é a necessidade que esses partidos menores terão de ultrapassar a cláusula de barreira. Esse outro dispositivo da legislação eleitoral estabelece que só terão direito a receber dinheiro do fundo partidário, a ter horário de TV e espaço de liderança no Congresso os partidos que conseguirem um desempenho eleitoral de, no mínimo, 5% nos estados. Ultrapassar o limite é, portanto, questão de vida e morte para os partidos, que ficarão obrigados a fazer as coligações mais convenientes em cada estado para conseguir esse objetivo. Se estiverem amarrados ao PT, a tarefa ficará bem mais complicada.
* Estratégias
Veja os planos dos principais partidos para a eleição presidencial do próximo ano
PT
Plano único: reeleger Lula
Falta só o presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficializar, mas ele é candidatíssimo à reeleição. E o PT sequer discute alguma outra possibilidade. Resta saber o tamanho da aliança que se formará em torno dele. Ela dependerá fortemente da queda ou não da verticalização
PMDB
Plano A: ter candidato próprio à Presidência
A possibilidade vai ficando a cada dia mais concreta. Se for mantida a verticalização, é quase certo que o PMDB sairá com um candidato próprio, muito mais com o propósito de fortalecer as suas várias campanhas nos estados. O ex-governador do Rio Anthony Garotinho é o que mais se empenha para ser o candidato, mas não tem apoio na cúpula do partido, e pode vir a se tornar inelegível. Os governadores do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, e o presidente do STF, Nelson Jobim, são as outras opções discutidas
Plano B: apoiar a reeleição de Lula, ficando com a vice na chapa
A chance já foi maior. Com a verticalização, a possibilidade dessa aliança é próxima de zero. Sem a verticalização, há chance de se discutir. No caso, os nomes mais fortes para a opção seriam o do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), ou o de Nelson Jobim
Plano C: apoiar o candidato do PSDB
O PMDB é um partido tão dividido e heterogêneo que mesmo essa opção é discutida. É a chance mais remota de todas, mas não deve ser completamente descartada
Plano D: não ter candidato
Diante da constatação de que é tarefa quase impossível, a turma mais ligada ao PSDB prega, então, que o partido fique sem nome próprio na sucessão presidencial para se concentrar nas disputas regionais
PSB e PCdoB
Plano A: apoiar a reeleição de Lula
Embora seja a hipótese mais provável, a manutenção da verticalização pode atrapalhá-la. Se der certo, o PSB trabalha para tentar emplacar o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, como vice de Lula
Plano B: não apoiar ninguém
Os dois partidos precisam desesperadamente superar a cláusula de barreira, mantida em 5% de desempenho eleitoral nos estados. Para isso, pensam — principalmente o PSB — em ficar livres de qualquer aliança na eleição presidencial para poderem fazer as coligações mais convenientes em cada estado. Por isso, uma candidatura de Ciro à Presidência é muito improvável
PL, PP e PTB
Plano A: não apoiar ninguém
Os três partidos ficaram com a imagem muito comprometida por conta do escândalo do mensalão. Por isso, planejam fugir do plano federal e apostar suas fichas nos estados em que têm mais força para atingir a cláusula de barreira
Plano B: apoiar Lula
Podem manter o apoio ao presidente, principalmente o PL. Mas isso depende também de ser derrubada a verticalização
PSDB
Plano A: eleição com José Serra
O prefeito de São Paulo é o que aparece mais bem colocado nas pesquisas. Mas muitos consideram que isso é apenas recall da eleição anterior. Há quem ache que ele tem um eleitorado sólido, mas seria, das opções do partido, a que menos agrega novos eleitores
Plano B: eleição com Geraldo Alckmin
O governador de São Paulo poderia ter maiores condições que Serra de agregar novos eleitores. Mas há quem avalie que o fato de ser também de São Paulo seja agora um elemento delimitador das suas chances. Ainda é pouco conhecido nos outros estados
Plano C: eleição com Aécio Neves
O governador de Minas Gerais trabalha para ser a opção fora de São Paulo. Ainda não foi bem testado nas pesquisas. Mas há quem imagine que seja o nome com mais chances de agregar novos eleitores
Plano D: eleição com Fernando Henrique Cardoso
Opção menos provável. O próprio ex-presidente não parece muito animado
PFL
Plano único: acompanhar o PSDB na eleição
Esqueça-se qualquer pretensão de candidatura própria. Embora ainda não tenha anunciado oficialmente, o PFL estará com os tucanos em 2006
PDT, PPS e PV
Plano A: formar uma aliança ampla
Essa possibilidade vem sendo discutida. Seria um ensaio para a formação de uma federação entre os partidos, como forma de atingir a cláusula de barreira. O problema é que há diferenças programáticas e ideológicas entre as três legendas
Plano B: ter candidato à Presidência
Isso provavelmente acontecerá caso caia a verticalização. Mesmo assim, porém, não é fácil. O PDT ainda tem brizolistas renhidos que torcem o nariz para as opções, especialmente para o senador Cristovam Buarque (DF), mas também para o senador Jefferson Peres (AM). Por isso, lançam o improvável nome do deputado Alceu Collares (RS). No PPS, o nome discutido é o deputado Roberto Freire (PE)
Plano C: não apoiar ninguém
Hipótese discutida no caso da manutenção da verticalização