Enquanto isso, Dilma atrai o PT
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Correio Braziliense, 14/6/2008
Daniel Pereira – Da equipe do Correio
ESCÂNDALO NO AR
Sem se preocupar com as acusações de tráfico de influência no caso Varig, a "mãe do PAC" começa a se aproximar dos partidos da base aliada na tentativa de fortalecer candidatura à sucessão de Lula
Dilma: reuniões com o PT e as legendas da coalizão ocorrerão com mais freqüência daqui para a frente
No mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, como o nome do PT para 2010, a ministra moveu uma peça importante para melhorar a relação com o partido. Logo depois do depoimento da ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu no Senado, no qual ela reafirmou ter sofrido pressão de Dilma para aprovar a venda da Varig, a "mãe do PAC" jantou, na quarta-feira passada, com cerca de 30 deputados petistas. Convidada especial do encontro, brindou-os com uma análise da conjuntura e projeções sobre o futuro do país.
Além disso, chegou à conclusão, com os colegas de mesa, de que o PT precisa intensificar os esforços para reconquistar a confiança e o apoio dos integrantes do chamado bloquinho de esquerda, formado por PCdoB, PDT e PSB. A meta inicial é consolidar uma parceria na capital paulista com as três legendas, que apoiariam a petista Marta Suplicy na disputa pela prefeitura paulistana. Se o acerto for selado, seria mais fácil atrair o trio para eventual chapa encabeçada por Dilma na próxima sucessão presidencial. Participaram do encontro, entre outros, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), e o deputado Cândido Vaccarezza, um dos generais do exército parlamentar de Marta.
Se depender de aliados de Dilma, as reuniões com o PT e os outros 13 partidos da coalizão governista ocorrerão com mais freqüência daqui para a frente. As conversas servirão para reduzir as resistências internas do PT à ministra, devido à sua alegada falta de participação na vida partidária. Tal falha curricular foi apontada publicamente pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, que também nutre o desejo de concorrer ao Palácio do Planalto. O senador Delcídio Amaral (MS), por exemplo, proporá à bancada petista no Senado, na próxima terça-feira, que convide Dilma para um jantar. "Será importantíssimo para os dois lados", declara Delcídio.
Cafezinho
Os encontros também podem aumentar o apoio político de outras siglas à ministra. "Nós nunca tivemos uma conversa com ela como bancada. A ministra deveria se sentar com todas as legendas e assim conhecer as informações do outro lado da rua", diz o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo na Câmara. Ele brinca que topa até mesmo um mero cafezinho. "Conversar é bom para qualquer coisa. Seja para governar, seja para tricotar sobre política", acrescenta.
O líder do governo na Casa, deputado Henrique Fontana (PT-RS), e o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, estão entre os aliados de Dilma que trabalham para aproximá-la dos partidos e levá-la para os palanques nas eleições municipais.
Os dois querem dotá-la do tal jogo de cintura e da sustentação partidária que lhe faltariam, conforme os críticos. "Se o presidente disse que ela é o nome do PT, a ministra terá, em algum momento, de intensificar as conversas sobre política. Esperamos um convite dela, mas ela está muito envolvida com o PAC", afirma o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). "Em 2009, a Dilma certamente começará a fazer a boa política. Ela tem competência, qualidade técnica, lealdade, caráter e conduta irretocável. O que lhe falta é um pouco mais de convivência política e partidária", complementa o peemedebista.
análise da notícia
Entre a chuva e a fogueira
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva gosta de submeter seus escolhidos à exposição pública antes de agraciá-los com cargos de expressão ou projetos políticos. Como se diz no Palácio do Planalto, Lula tem como hobby colocar os aliados na chuva para ver se pegam pneumonia ou se têm força suficiente para representar o governo. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, seria apenas mais um nome a confirmar a regra não fosse um detalhe que a diferencia dos casos anteriores.
O presidente transformou a "mãe do PAC" em alvo preferencial da oposição e do fogo amigo quase três anos antes das eleições presidenciais. A título de comparação, um parlamentar só teve de agüentar 30 dias para assumir um posto de comando na base aliada no Congresso. A disparidade de tempo justifica o ceticismo de governistas em relação à eventual candidatura da ministra. "O tempo é o principal adversário da Dilma", diz um ministro. "Se ela chegar a 2010, terá de ser estudada pela academia", acrescenta. (DP)