Entrevista a Zero Hora
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Zero Hora – Porto Alegre, RS – 20/2/2007
Partidos
"Nós, gaúchos, devemos ser um pouco mais mineiros"
Entrevista: Beto Albuquerque, deputado do PSB e vice-líder do governo na Câmara
VIVIAN EICHLER
Quinta-feira é o dia de PSB e PC do B apresentarem a conta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por fazer parte da base governista. O encontro será no Palácio do Planalto. Vice-líder do governo na Câmara no exercício da liderança, o deputado federal Beto Albuquerque (PSB) quer assegurar duas pastas para a sigla – hoje à frente da Integração Nacional e da Ciência e Tecnologia. Na reunião, o partido também vai pedir que Albuquerque assuma o posto de líder do governo na Câmara.
De Florianópolis, onde descansa com a família, o gaúcho conversou ontem com Zero Hora por telefone. A seguir, os principais trechos:
Zero Hora – PSB, PDT e PC do B formaram um bloco de apoio a Aldo Rebelo (PC do B-SP) para a presidência da Câmara. Essa disputa deixou seqüelas na união com o governo e o PT?
Beto Albuquerque – Não há qualquer seqüela. Era uma disputa interna da Câmara e não estava em jogo o governo, mas a presidência da Câmara. Está superada. Não creio que disputas na Câmara prejudiquem relações dos partidos com o governo. O bloco tem hoje 70 deputados, oito senadores e cinco governadores. Nosso esforço é manter a unidade para além das relações dentro da Câmara.
ZH – A demora da reforma ministerial é um sinal de debilidade da coalizão de Lula?
Albuquerque – Todo bom jogador de xadrez pensa muito antes de mexer as pedras. Lula está agindo corretamente. O presidente está comandando o processo.
ZH – O presidente não está sendo pressionado pelo PMDB?
Albuquerque – Está dado o recado de que quem pisar muito no acelerador pode ficar sem a corrida. Tem de ter paciência.
ZH – O PSB aceitaria perder o Ministério da Integração Nacional para PT ou PMDB?
Albuquerque – O PSB talvez seja o único que não está pondo espada sobre a cabeça de Lula em troca de cargos. Tampouco está apaixonado por Lula só de três meses para cá. Tem gente apaixonadérrima. Pena que essa paixão venha 20 anos depois. Estamos com Lula desde 1989. Esperamos na quinta-feira um tratamento digno de verdadeiros aliados.
ZH – Quais são as credenciais do partido para se manter num posto como o Ministério da Integração Nacional, que deve crescer com o PAC?
Albuquerque – Um conjunto de obras só está no PAC porque foi trabalhado antes. O programa de irrigação tão defendido pela governadora Yeda Crusius tem no ministério e no PAC recursos de R$ 200 milhões para serem implementados na Bacia do Rio Santa Maria.
ZH – E o Ministério da Ciência e Tecnologia?
Albuquerque – O Brasil só é hoje uma porta aberta para semicondutores porque o ministério investiu na construção do Ceitec (Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada, em Porto Alegre). São R$ 180 milhões. Quinta-feira passada, Lula transferiu R$ 14 milhões para a produção do primeiro chip de TV digital nacional, que será feito em Porto Alegre. O PSB soube conduzir com Lula o processo de priorizar o Ceitec.
ZH – Sua escolha como líder do governo seria uma forma de se compensar uma eventual perda de ministérios?
Albuquerque – Não estamos discutindo nesses termos. O PSB tem expectativa de exercer a liderança do governo como forma de equilibrar as forças no Congresso, o que é imprescindível para a governabilidade da coalizão. Estou há quatro anos como vice-líder do governo, atualmente sou líder (o líder anterior, Arlindo Chinaglia, tornou-se presidente da Câmara) e hoje meu nome parece ser natural.
ZH – Se for escolhido líder, como poderia ajudar o Estado?
Albuquerque – É preciso ter, de parte do governo estadual, uma clara vontade de entendimento e não apenas de demarcação de diferenças, como no passado. O início deste governo (Yeda Crusius) já começou assim de novo.
ZH – É possível renegociar a dívida?
Albuquerque – Não, porque implicaria rever as garantias dadas internacionalmente pelo Brasil. Mas é possível discutir uma nova repactuação, sem alterar valores, fundamentos. Nisso há espaço para diálogo.
ZH – Mas o equilíbrio nas contas estaria condicionado à ajuda de Brasília?
Albuquerque – Na área de responsabilidade fiscal não se pode tapar o sol com a peneira. O Espírito Santo estava talvez pior do que o Rio Grande do Sul e hoje é um Estado absolutamente reequilibrado porque houve esforço. Há solução, desde que não se fique fazendo disputa política.
ZH – O caminho de reformas que a governadora escolheu é suficiente?
Albuquerque – Não sei, mas sou simpático a se perseguir ajuste fiscal, estabelecimento de metas e correção de caminhos tortuosos. Temos de vencer a crise e não apenas driblá-la.
ZH – Isso é possível sem uma ação efetiva do governo federal?
Albuquerque – Primeiro, tem de fazer o tema de casa. Em alguns momentos, acho que nós, gaúchos, devemos ser um pouco mais mineiros.
ZH – Como assim?
Albuquerque – Os mineiros arrumam, negociam, resolvem sem estardalhaço. Gostamos muito da ponta da faca, do conflito. Mas não faltará sensibilidade do governo em ajudar.
ZH – Para 2008, quais as chances de o bloco PSB-PC do B-PDT disputar unido a eleição municipal em Porto Alegre?
Albuquerque – Se tivermos êxito em mantê-lo funcionando, tendo paciência todo ano na Câmara, provavelmente teremos chances de ver parcerias se repetindo em várias cidades brasileiras, inclusive Porto Alegre.
ZH – O senhor seria o principal nome?
Albuquerque – Vieira da Cunha (PDT) é um nome que considero muito. Manuela (D'Ávila, deputada federal pelo PC do B) também. Assim como (José) Fortunati (PDT) também tem de estar. Se formos capazes de manter a coesão, podemos ser protagonistas na eleição presidencial de 2010.
ZH – Com Ciro Gomes (PSB)?
Albuquerque – É um dos nomes. Poderão surgir outros. Assim como Eduardo Campos (governador de Pernambuco) e outros.
ZH – O seu?
Albuquerque – O meu nome sempre está disponível. O fato é que iniciamos uma relação que não é só para ficar. Estamos querendo namorar.