Esquenta a guerra pela sucessão

Sep 21 2005
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Jornal do BrasilJornal do Brasil, 21/09/2005
Esquenta a guerra pela sucessão

PSDB e PFL rompem acordo e consolidam aliança em torno da candidatura de José Thomaz Nonô para substituir Severino

BRASÍLIA – Toda tranqüilidade política que a Câmara precisa para vencer o atual turbilhão vai tornar-se pura peça de retórica com a deflagração da guerra pela sucessão da presidência da Casa. A cadeira de presidente nem esfriou ainda – Severino Cavalcanti (PP-PE) só renuncia hoje no fim da tarde -, mas todos os partidos políticos se estapeiam para herdar o espólio político do guru do baixo clero. A oposição quer José Thomaz Nonô (PFL-AL), o PMDB ensaia Michel Temer (SP) e guarda Osmar Serraglio (PR) na manga. O PT apresenta quatro candidatos: Arlindo Chinaglia (SP), José Eduardo Cardozo (SP), Sigmaringa Seixas (DF) e Paulo Delgado (MG). E até PDT, PSB e PTB sentem-se no direito de apresentar suas alternativas.

– Meu amigo, a barata está voando pela sala – resumiu o deputado Eduardo Campos (PSB-PE), numa imagem que dá a exata noção do quadro.

O tempo escasso para a tentativa de um acordo torna a situação ainda mais tensa. Após a renúncia de Severino, Nonô tem um prazo de cinco sessões para convocar novas eleições, período que se encerra em uma semana. O pefelista pretende reunir o Colégio de Líderes amanhã para discutir as regras do novo pleito. E avisa, para evitar antipatias, que não vai dar encaminhamentos a processos de impeachment sem base política, jurídica ou popular, um dos temores do Planalto.

Mas ninguém parece estar disposto a ouvir. O PTB, de José Múcio Monteiro (PE), vai apresentar Luiz Antônio Fleury Filho (SP) como pré-candidato, para medir a popularidade. Vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (RS) diz, há uma semana, que topa ir para o confronto.

– A Câmara tem que refletir o pensamento do país, não das cúpulas partidárias – resumiu Beto.

Vagas na Mesa Diretora viraram objeto de negociação. Tucanos e pefelistas calculam que têm 100 votos. Com a ‘promoção’ de Nonô, ficaria vaga a primeira vice-presidência, posto que poderia ser negociado com legendas medianas, como PTB, PP e PL, em busca de votos para o pefelista. A avaliação é de que uma candidatura competitiva precise de 150 votos, no mínimo.

A celeuma está criada. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), preocupado com o tumulto, propõe a efetivação de Nonô na presidência e, por acordo, a entrega da vice-presidência para o PT. O líder petista na Casa, Henrique Fontana (RS), reuniu-se na manhã de ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ouviu de Lula a preocupação com a unidade da bancada governista, para evitar novos traumas e disputas políticas.

A abnegação petista, contudo, tem limites. Embora alguns aliados e até adversários admitam que a não-candidatura de algum parlamentar do PT poderia representar um sinal positivo de diálogo, a coordenação da bancada pensa justamente o inverso. Para não parecer arrogante, definindo internamente um nome para avaliá-lo posteriormente junto às demais legendas, resolveu apresentar seus quatro nomes e passar a sensação de flexibilidade. Mas a cúpula petista alerta.

– Não queremos cometer os mesmos erros do início do ano. Somos a maior bancada e não podemos ficar de fora, novamente, da Mesa Diretora – afirmou Fontana.

A candidatura de Michel Temer (PMDB) provoca urticária em governistas e oposicionistas. O PMDB tem a presidência do Senado (Renan Calheiros), a presidência do Supremo Tribunal Federal (Nelson Jobim) e vai filiar o vice-presidente da República, José Alencar. Se Temer ganhar a presidência da Câmara, estariam nas mãos do partido os quatro principais cargos na linha sucessória da Presidência da República.

Um dos nomes cogitados para a presidência da Casa, estimulado pelo Planalto – que só vai trabalhar abertamente após a renúncia oficial de Severino – é o do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Escaldado pelos dias de fúria vividos quando era ministro da Coordenação Política, Aldo não parece muito disposto a assumir a missão.

– Quero ajudar na solução, não fazer parte do problema – resumiu.