Fica pra outra hora

Mar 30 2005
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Jornal da Globo

Jornqal da Globo, 29/03/2005
Fica pra outra hora
 
Muito calor e pouca luz. Depois de uma agitadíssima noite na Câmara dos Deputados, nada ficou decidido sobre a Medida Provisória 232.
 
O governo viu que não conseguiria derrubar a medida, e, pior, viu que poderia perder mais uma batalha para a oposição. O plenário quase aprovou um requerimento para votar em separado a correção da tabela do Imposto de Renda. Prevendo a derrota, os líderes do Palácio do Planalto entraram em processo de obstrução, ou seja, a decisão ficou para quarta-feira.
Para o governo faz diferença esperar até amanhã, são mais algumas horas para negociar e tentar conter a rebeldia da base aliada.
 
O repórter Júlio Mosquera conversou com dois dos protagonistas do debate desta noite de terça-feira, vice-líder do PFL, deputado Antonio Carlos Magalhães Júnior e o vice-líder do governo, deputado Beto Albuquerque.
 
Jornal da Globo: Por que o PFL decidiu de última hora tentar aprovar apenas a correção em 10% a tabela do IR?
Antonio Carlos Magalhães Jr: Porque esta era a única forma de evitarmos o aumento de impostos e ao mesmo tempo preservamos a correção da tabela de imposto de renda. Era impossível conseguir as duas coisas, então nós tínhamos que preservar o direito da classe média.
 
Jornal da Globo: Não era possível aprovar apenas a correção da tabela do Imposto de Renda?

Beto Albuquerque: Não podemos ser irresponsáveis do ponto de vista fiscal. O Brasil é regido por uma norma clara de responsabilidade. Não é possível criar despesa sem indicar pra onde pagaremos essa despesa. Nós compreendemos o apelo, como base do governo, que deveríamos rejeitar toda a medida provisória pelo clamor popular e nos comprometemos a enviar imediatamente um novo projeto de lei, assegurando a correção da tabela do IR e equacionando o foco para acharmos o recurso que pagaria essa conta no combate a sonegação fiscal. Por isso não podemos compreender esse jogo demagógico e irresponsável do ponto de vista fiscal de querer gerar despesa sem dar origem ao recurso que vai cobrir.
 
Jornal da Globo: É possível aprovar um projeto de lei que aumente a carga tributária para corrigir a tabela?

Antonio Carlos Magalhães Jr: de forma alguma, a Câmara dos deputados já deu demonstrações que não vai aceitar, de forma alguma, aumento na carga tributária. Qualquer medida que o governo encaminhe para a casa que signifique aumento de impostos vai contar com a rejeição não apenas das oposições, mas como também de partidos da base aliada. O governo tem uma retórica bem montada, mas não está fundamentando as suas decisões. Se o governo queria a aprovação da correção da tabela, tinha que ter votado hoje e ter dado esse presente a sociedade brasileira.