Gaúcho vira unanimidade no olho do furacão
- Posted by: Ass. Imprensa
- Posted in Beto na Mídia
- Tags:
Zero Hora – Porto AlegreZero Hora – Porto Alegre, 7/8/2005
Gaúcho vira unanimidade no olho do furacão
Relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio radicou-se no Paraná em 1964
LUIZ ANTÔNIO ARAUJO
Na tarde de quinta-feira, o depoimento do ex-policial David Rodrigues Alves irritou o circunspecto relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).
Depois de interrogar Alves por 16 minutos, ao longo dos quais perguntou até mesmo se a testemunha tinha apelidos, Serraglio deixou a sala e desabafou aos seguranças da Câmara:
– É ruim. Trouxemos um aí que não sabe nada.
Desde o início das investigações, os momentos de descontração de Serraglio são raros. Aos 57 anos e no segundo mandato de deputado federal, esse gaúcho de Erechim, de fala mansa e olhar reflexivo, assumiu a mais desafiante missão de sua vida. Numa rara unanimidade, as bancadas do PMDB na Câmara e no Senado indicaram seu nome para a relatoria de uma CPI destinada a colocar o governo Luiz Inácio Lula da Silva contra a parede. No Congresso, Serraglio se alinha entre os simpatizantes de Lula. O apoio ao governo e o perfil discreto foram alvo de comentários ácidos no início dos trabalhos.
– Estou doido para me emocionar com a atuação do Serraglio e do Delcídio Amaral – disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), referindo-se também ao senador pelo PT de Mato Grosso do Sul que preside a CPI.
Em poucas semanas, Serraglio tornou-se uma revelação. Hoje, é um dos poucos na mesa da CPI a obter atestado de isenção de governistas e oposicionistas.
– O relator tem sido competente – diz o petista Carlos Abicalil (MT).
– Serraglio é garantia de que a CPI não acabará em pizza – afirma Onyx Lorenzoni (PFL).
O prestígio do relator não foi abalado nem mesmo quando se referiu à lista de sacadores das contas do empresário Marcos Valério de Souza como "pólvora pura". Ou quando citou um longo trecho do orador romano Cícero ("Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?") ao interrogar um aparvalhado Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT.
A receita da blindagem, segundo colegas, é a combinação de firmeza e competência técnica. Esses traços foram temperados desde que Serraglio deixou a casa dos pais, Vergilio e Maria Adriana, em Erechim, para cursar o seminário em Tapera no final dos anos 50. À distância, revalorizou os laços familiares.
– A maioria de meus parentes vive na região de Erechim. Os sobrenomes de solteira de minha mãe são Turra Albertoni. Brinco com o Turra (deputado federal Francisco Turra, do PP) e o Beto (deputado federal Beto Albuquerque, do PSB) que somos parentes – diz Serraglio, lembrando que os parlamentares gaúchos são, respectivamente, tio e sobrinho.
De volta ao município natal, o jovem freqüentou o seminário e o ginásio. Em 1964, trocou Erechim por Curitiba. Cursou Direito na capital paranaense entre 1967 e 1971. Em 1973, deu o primeiro passo na vida pública: radicado em Umuarama, no noroeste do Paraná, assumiu a presidência da Associação dos Professores do Paraná. Sete anos depois, começou a lecionar direito administrativo na Universidade Paranaense. Serraglio fala com paixão da terra adotiva, da qual elegeu-se vice-prefeito em 1992:
– Umuarama significa "lugar alto onde os amigos se encontram" em tupi-guarani. A cidade não nasceu espontaneamente. Foi traçada na floresta, a partir do loteamento de uma companhia inglesa. Tem até ata de fundação.
Ele garante, porém, que não esquece o Estado natal e o Grêmio, time do coração.
– Comparados ao Rio Grande do Sul, os outros Estados são muito assemelhados. O Rio Grande é outro país. Sempre digo que sou deputado federal pelo Paraná, mas gaúcho – assegura.
( laaraujo@zerohora.com.br )