Geral – “Meu voto será pela cassação de Dirceu“
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ABC Domingo – Vale dos Sinos
ABC Domingo – Vale dos Sinos, 27/11/2005
Geral – “Meu voto será pela cassação de Dirceu“
O deputado federal Beto Albuquerque (PSB) é taxativo: mesmo sendo a personalidade mais conhecida do PSB no Rio Grande do Sul, não vai concorrer ao Palácio Piratini. Um pouco adiante, entretanto, dá crédito aquilo que chama de “novidades que a política pode criar, com a sua dinâmica”. Uma destas potenciais “novidades” está sendo gestada no Congresso Nacional. O PSB, como a maior parte das legendas menores, está ansioso por alcançar a cláusula de barreira de 5% dos votos no País. Mas, mesmo depois de decorrido o prazo para alterações na legislação para as eleiçÕes de 2006, uma reforma temporona tramita no Congresso para mudar as regras do jogo, mesmo na prorrogação. Entre outras modificações, a emenda propõe que a exigência caia de 5% para 2%. Se a emenda for aprovada, as metas de votação diminuem e políticos puxadores de votos como Beto Albuquerque poderão alçar vôos mais altos — e até concorrer à cadeira de Germano Rigotto. Em entrevista ao ABC Domingo, Luiz Roberto de Albuquerque, o gaúcho nascido em Passo Fundo em janeiro de 1963, revelou suas impressões a respeito do governo de Rigotto, falou do processo de cassação de José Dirceu e da tarefa de ser vice-líder do governo Lula em plena crise.
O senhor é candidato ao governo do Estado?
Beto Albuquerque – Não. A minha candidatura hoje é a deputado federal. Primeiro porque o ano que vem nós temos cláusula de barreira e o partido que não fizer 5,1 milhões de votos para deputado federal em nível nacional vai deixar de ter representação. O PSB nacional está fazendo um chamamento a suas principais lideranças para a disputa a deputado federal. Esperamos eleger pelo menos quatro deputados estaduais e dois federais. Sou candidato a reeleição, exceto novidades que a política possa criar, com a sua dinâmica…
O PSB poderia reeditar a Frente Popular, concorrendo ao Piratini com o PT?
Beto Albuquerque – A tendência até o momento é de não reeditar a frente popular. O congresso estadual do PSB e a reunião do diretório estadual sinalizou a perspectiva de outras alianças, mas em particular de uma candidatura própria, para que a gente vá semeando até que se possa fortalecer o partido. Afinal de contas, partido que não concorre é que nem time de futebol que não entra em campo, acaba ficando sem torcida. Tudo está sendo examinado internamente no PSB.
Mas o nome mais conhecido do PSB é o senhor. Quem poderia ser este outro candidato?
Beto Albququerque – Olha, nós já disputamos… Na última eleição nós concorremos em faixa própria e tivemos companheiros qualificados disputando a eleição, como o companheiro Caleb (Caleb Oliveira, presidente estadual do partido). Esse assunto nós ainda não colocamos em xeque, mas gostaria muito de discutir mais uma vez com o Caleb esta hipótese, para inclusive ampliar uma aliança em torno do PSB. Vamos falar com o PC do B, com o próprio Partido Liberal (PL), de maneira a fazer um conjunto de conversas e ter uma aliança em torno das propostas que vamos elaborar. O PSB vai participar deste processo eleitoral, estamos compondo um grupo para iniciar estudos e propostas para o Rio Grande do Sul.
Os partidos gaúchos trabalham com dois cenários distintos. Em um, o governador Rigotto concorre à Presidência, em outro, à reeleição. O PSB também possui um plano B?
Beto Albuquerque – Nós estamos tratando de um caminho único e seguro. Os movimentos do Rigotto não influenciarão nas nossas decisões. Eu gostaria muito que o governador Rigotto disputasse a reeleição para que o projeto até então implementado por ele no Rio Grande do Sul fosse julgado eleitoralmente. Mas a decisão do governador para nós pouco importa. O que importa é debatermos, na eleição do ano que vem, a grave crise que vive o Rio Grande do Sul, que se valeu, nos últimos períodos, de aumentos no ICMS, confisco de créditos de exportação e praticamente utilizou-se totalmente de depósitos judiciais para respirar até o fim do governo. O PSB, se puder, vai contribuir com este debate.
Em cima de sua resposta: como o senhor avalia o governo Rigotto?
Beto Albuquerque – É um governo sem muitas realizações. Nem fez reformas estruturais, nem expressou criatividade para o enfrentamento da crise. Apostou desde o começo na terceirização da solução dos problemas para os outros, muito especialmente para o governo federal. Isto não é uma crítica simples. Eu, como gaúcho, adoraria que este governo estivesse tendo sucesso. Mas eu não posso aplaudir um governo que elevou em 20% as alíquotas de ICMS sobre energia, telecomunicações e combustíveis, e prejudicou as empresas exportadoras ao cercear os créditos de ICMS. Não posso aplaudir um governo destes, que tem poucas obras e reclama muito dos outros, fazendo muito pouco. O governo do Rigotto é um governo cheio de medo para tomar grandes decisões e adia as soluções de problemas estruturais importantes.
O PSB tem receio de não atingir a cláusula de barreira?
Beto Albuquerque – Trabalhamos muito em nível nacional e nos sentimos preparados para este desafio. Na última eleição em nível nacional nós passamos a cláusula de barreira, fizemos 5,7% do eleitorado brasileiro, e estamos bastante preparados em todos os estados. Temos 29 deputados federais e três senadores, além de governadores e temos muitos candidatos. O PSB fez o tema de casa, se organizou e cumpre um papel importante hoje no cenário nacional. No dia 10 de dezembro estaremos dando o pontapé inicial da nossa mobilização eleitoral, quando reuniremos em Porto Alegre os nossos prefeitos, vereadores, secretários municipais, pré-candidatos a deputado e integrantes do governo federal.
Ser vice-líder do governo em um momento de crise trouxe mais dissabores ou alegrias?
Beto Albuquerque – A tarefa da política é nobre e nós não podemos gostar da política apenas quando ela rende prestígio ou facilidades. A política é a arte de se tomar decisões e eu acho que nas crises também aprendemos. Somente através das crises compreendemos os problemas, para poder superá-los. Óbvio que me entristece ver que a crise ética no Brasil tenha sido protagonizada pela alta cúpula do Partido dos Trabalhadores. Por outro lado, vejo no próprio PT as condições para superar isto. Afinal de contas, um partido de 25 anos de história, com 800 mil filiados, não pode ser fuzilado pela má-conduta de grandes quadros. A minha condição de vice-líder do governo é uma escolha do presidente Lula. O PSB decidiu no segundo turno apoiar o Lula, tem dois ministros neste governo, na área de ciência e tecnologia e de integração nacional, duas áreas que estão avançando muito e há nelas, muito provavelmente, um dos maiores investimentos que o Rio Grande do Sul está assistindo, de parte do governo federal. O Ministério de Ciência e Tecnologia está investindo R$ 150 milhões na construção de um centro tecnológico. Um centro de excelência em microeletrônica que vai elevar o Rio Grande do Sul e, especialmente, Porto Alegre como ponto referencial na América Latina na produção de chips. Este investimento tem valor econômico e político ao nível do que foi a refinaria Alberto Pasqualini no passado, ou o Pólo Petroquímico. Há dissabores na política, mas a minha condição de vice-líder é de ajudar o governo e de ajudar a governabilidade e, em nenhuma hipótese, passar a mão na cabeça de quem errou. Quem errou tem de ser punido de forma exemplar.
Falando em punição. Qual é sua posição em relação à possível cassação de José Dirceu (PT-SP)?
Beto Albuquerque – O parecer que pediu a cassação do ex-ministro José Dirceu é do deputado Júlio Delgado, do PSB. Essa, por ora, é a orientação do partido. Este será o meu voto. É uma decisão política e sabemos que falta muito conteúdo e provas objetivas no caso de José Dirceu. Mas a situação que se conformou em torno desta liderança me parece bastante intransponível.
É inegável que o governo Lula piorou a imagem que a opinião pública tem dos partidos de esquerda. Como fazer para se descolar da crise?
Beto Albuquerque – É punindo os responsáveis. Não tapar o sol com a peneira. Ser contundente e forte na relação contra isto e trabalhar pelo Brasil, que é o que um governo precisa fazer. É isto o que temos que fazer, continuar cumprindo nossa missão. Continuar duplicando a BR-101, duplicando a refinaria Alberto Pasqualini, continuar o Bolsa Família em nível nacional que chega a 8,5 milhões de famílias, desonerando setores produtivos importantes como fizemos com a cadeia produtiva do leite, com a construção civil.
Por iniciativa da deputada estadual Miriam Marroni (PT), houve a tentativa de abrir uma CPI na Assembléia para investigar os contratos de pedágios. Na hora H, muitos petistas acabaram retirando assinaturas, em um gesto não muito bem compreendido pela opinião pública. Pelos corredores do legislativo, comentou-se que o PT estaria recuando por causa de um dos aditivos do contrato de concessão, assinado pelo senhor enquanto secretário dos Transportes no governo Olívio. O que o senhor tem a dizer?
Beto Albuquerque – Primeiro, cada um deve dar suas razões para não assinar. O PSB assinou e não retirou sua assinatura do pedido de abertura da CPI dos pedágios no Rio Grande do Sul. O aditivo feito nos contratos foi aprovado na Assembléia Legislativa. Não foi um contrato isoladamente assinado pelo governador Olívio Dutra. Antes do governador assinar, houve votação e aprovação por quórum altíssimo de toda a Assembléia Legislativa, exatamente fazendo aquilo que prevê o próprio contrato, que era repor perdas em razão de praças que ficaram fechadas por decisões judiciais, por inaplicação de investimentos. O problemas dos pedágios no Rio Grande do Sul é que é um filho mal-parido. É que o governo Britto, com apoio majoritário dos partidos, e hoje inclusive muitos deles reclamam dos pedágios, iludiram a sociedade gaúcha naquela época vendendo números superfaturados de fluxo de veículos. Em todas as audiências públicas com esses números, venderam a ilusão de que as tarefas poderiam ser baixas. É como se em algum lugar do mundo, algum pedágio possa ser barato, onde você não tenha mais de 5 mil veículos trafegando sobre aquela via diariamente. Então, este embuste do passado gera as anomalias do presente. São contratos assinados no passado, referendados pelos partidos que compõem o governo Rigotto. Tenho muita tranqüilidade ao tratar deste assunto porque como deputado estadual votei contrariamente a todos os pólos de pedágio. E, como secretário, não implantei o Polão de pedágios na Região Metropolitana. Essa foi a contribuição que nós demos. A nossa posição é muito clara: assinamos o pedido de CPI e em momento algum retiramos a assinatura do deputado Heitor Schuch.