Governo joga tudo para comandar Câmara

Sep 23 2005
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Estado de MinasEstado de Minas, 23/09/2005
Governo joga tudo para comandar Câmara

Perspectiva de um oposicionista na presidência leva presidente Lula a entrar na disputa e trocar nome de Arlindo Chinaglia pelo de Aldo Rebelo, que também pode ter de ceder

Brasília – O Palácio do Planalto não quer repetir o erro cometido na eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara – quando permitiu que um deputado considerado pouco confiável surpreendesse os dois candidatos petistas –,e promete jogar pesado para garantir que o substituto do pernambucano seja um nome mais alinhado com o governo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu entrar para valer na disputa pela sucessão de Severino Cavalcanti. Destacou para a difícil missão seu ex-ministro da Coordenação Política Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O martelo foi batido ontem à noite, na liderança do governo na Câmara dos Deputados. Arlindo Chinaglia (SP), candidato oficial do PT, retirou seu nome, que havia sido indicado pela bancada no dia anterior. Imediatamente, o líder do PT, Henrique Fontana (RS), sugeriu Aldo. O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), disse que o candidato do partido, Beto Albuquerque (RS), também se retirava em favor de Aldo. O líder do PMDB, Wilson Santiago, pediu um prazo para discutir com seus liderados, já que o partido lançara um dia antes o seu presidente, Michel Temer (SP). O mesmo fizeram os representantes do PL, do PP e do PTB.

A decisão foi o produto de um longo dia de negociações. Antes, na quarta-feira, Lula havia confirmado ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que iria participar do jogo. “Eu aprendi a lição. Não vou ficar neutro como da outra vez”, disse Lula a Renan, referindo-se à sucessão de João Paulo Cunha (PT-SP), quando a divisão do PT e da base governista levou à vitória de Severino. Agora, um quadro de dispersão, com o surgimento de vários candidatos, leva ao risco de um outro resultado imprevisível. Diante dessa possibilidade, a troca de Chinaglia por Aldo é apenas o primeiro passo, já que se não conseguir consenso em torno do seu nome também pode ver sua candidatura ser retirada em favor de um candidato que assegure apoio suficiente para barrar a pretensão dos oposicionistas.

O encarregado da operação que levou ao resultado da noite foi o ministro Jaques Wagner. Ontem, ele reuniu-se com o próprio Aldo, com o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), com Henrique Fontana e com os deputados Eduardo Campos (PSB-PE) e Paulo Rocha (PT-PA). Antes de Aldo, o governo ensaiou convergir para o nome de Temer. O presidente do PMDB é do grupo que se opõe ao Planalto, mas conquistou o apoio do presidente do Senado pois o candidato da aliança PFL-PSDB, José Thomaz Nonô (PFL-AL), é o principal adversário político de Renan em Alagoas.

As conversas em torno de Temer esfriaram depois que os ex-governadores Orestes Quércia (SP) e Anthony Garotinho (RJ) vetaram ontem qualquer entendimento com o governo.PMDB, PL, PTB e PP mantêm boas relações com Aldo. Durante um ano e meio como ministro, ele travou longa e sangrenta luta com o PT para ampliar o espaço político dos aliados no governo. Renan é seu devedor desde que Aldo evitou que o governo patrocinasse a emenda constitucional que permitiria a reeleição de João Paulo Cunha (PT-SP) e José Sarney (PMDB-MA). Fora do governo, reconciliou-se politicamente com o ex-ministro da Casa Civil e deputado federal José Dirceu (PT-SP), quando aceitou ser testemunha dele no processo que corre no Conselho de Ética por causa do escândalo do suposto mensalão.

Entre os petistas, porém, a impressão que ficou é que Lula optou por Aldo somente depois de ter percebido que Chinaglia não teria chances. Na reunião em que o PT optou por Chinaglia, na terça-feira, houve quem visse ali o dedo de Lula. “Você é o candidato do Planalto, ou não tem explicação. Você é o líder do governo”, disse, na ocasião, o deputado Paulo Delgado (PT-MG), que tentou se colocar como uma opção independente no partido, mais palatável às oposições.

CANDIDATOS PT, PSB e PC do B somam 118 votos. José Thomaz Nonô, é sustentado pela aliança PFL-PSDB, com 108 deputados. Tem o apoio informal do bloco PPS-PDT-PV-Prona (39) e deve estar em um provável segundo turno, pois um candidato só vence se conseguir 257 votos. Para o governo, a presença de um deputado do PFL no comando da Casa pode ter efeito devastador no período pré-eleitoral.

Nesse cenário, também aparece com boas chances o pepista Francisco Dornelles (RJ). Natural de Belo Horizonte, o deputado foi ministro da Indústria, Comércio e Turismo e do Trabalho e Emprego no governo Fernando Henrique Cardoso. No governo Lula, foi indicado para relatar a polêmica MP 232, que reajustou as tabelas do Imposto de Renda Pessoa Física mas previa, em sua versão original, o aumento da carga tributária para prestadores de serviço e profissionais liberais. A seu favor pesa o bom relacionamento com o PFL, partido ao qual foi filiado entre 1987 e 1993 e com o PSDB, além do perfil moderado.

"Eu aprendi a lição. Não vou ficar neutro como da outra vez" Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República

Articulações acirram disputa

BRASÍLIA – Um dia após a renúncia do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), a disputa se afunilou e o número de prováveis candidatos caiu, mas a disputa começa a se acirrar. Já se apresentaram como candidatos José Thomaz Nono (PFL-AL), Arlindo Chinaglia (PT-SP), Michel Temer (PMDB-SP), Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP), Jutahy Magalhães Júnior (PSDB-BA), Francisco Domelles (PP-RJ), Ciro Nogueira (PP-PI), Beto Albuquerque (PSB-RS) e João Caldas (PL-BA). Para o líder da minoria, deputado José Carlos Aleluia (PFL), o grande número de candidatos, se confirmado na eleição prevista para quarta-feira, pode levar a um segundo turno a definição do novo presidente da Câmara. Ele não descarta "uma grande influência do acaso, da roleta e do improvável".

A base aliada ainda não se uniu com a candidatura do petista Arlindo Chinaglia (SP). Na noite de ontem, os líderes da base se reuniram para discutir uma alternativa ao nome de Chinaglia, líder do governo, à presidência da Câmara dos Deputados. A candidatura alternativa em debate, e que pode tornar-se oficial, é do ex-ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PC do B-SP). A escolha de Chinaglia para disputar o controle da Casa agrava a polarização entre governistas e oposicionistas na avaliação de petistas, como Paulo Delgado (MG). "Na condição de líder do governo, a escolha pelo Chinaglia ampliou o confronto", afirmou o deputado.

Aldo Rebelo, mesmo sendo ex-ministro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seria mais "palatável" na opinião líderes da base por não ser petista. Haveria, portanto, mais chances para uma candidatura de consenso na base aliada, enfraquecida pela crise gerada pelos casos de corrupção. "Nossa idéia é fecharmos um nome de consenso, não necessariamente do PT", afirmou o líder do PSB, Renato Casagrande (ES),

Apesar da busca de consenso, a base está bastante dividida. 0 próprio Casagrande é defensor do nome de Beto Albuquerque. O PTB lançou o nome de Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) e o PP, o de Francisco Dornelles (RJ), embora o corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), também queira ser candidato. O PMDB, que tem um grupo que apóia o governo e outra que faz oposição, tenta emplacar o nome de seu presidente, Michel Temer (SP).

O presidente do PSB, deputado Eduardo Campos (PE), iniciou um movimento em favor da candidatura de Rebelo, com o apoio de setores do PMDB que não conseguiram viabilizar a candidatura do deputado Michel Temer (PMDB-SP) entre os partidos aliados. Depois que o PSDB fechou com o PFL para apoiar o deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), os peemedebistas ainda tentaram em vão um acordo com os tucanos, falando inclusive com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas foi em vão.

O PMDB reúne hoje, em São Paulo, as principais lideranças nacionais do partido para discutir a escolha do novo presidente da Câmara e sobre a posição do partido em relacão às eleições de 2006. Entre os presentes estarão o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia e o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, que já anunciou que vai disputar as prévias que indicarão o candidato do partido a presidente da República. Garotinho diz que apoiará a candidatura do deputado Michel Temer (SP) para substituir Severino Cavalcanti na presidência da Câmara. Outro governador que mostrou simpatia ao nome de Temer foi o tucando Geraldo Alckmin (SP), que, embora tenha manifestado apoio a Nonô, ele elogiou Temer e o considerou com um dos "bons nomes" para suceder Severino.

CAMPANHA Enquanto a base discutia uma alternativa, o deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), presidente em exercício, iniciou o corpo-a-corpo na tentativa de vencer a disputa pela presidência. "Vou procurar por telefone todos os 512 deputados", afirmou. E adiantou o primeiro ato, caso vença a eleição: "Se eleito, o primeiro gesto será pedir uma audiência com o presidente Lula para procurarmos uma maneira de fazer funcionar a casa com a colaboração do Executivo".

O deputado disse ter ligado para lideranças do PT na tentativa de fechar um acordo para a eleição. Nonô ficaria com a presidência e negociaria a vaga da vice-presidência para um deputado petista. Assim, o partido do governo garantiria uma vaga na Mesa Diretora da Casa.