Governo muda de posição e endurece com controladores

Apr 04 2007
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A Gazeta – Espírito Santo, 4/4/2007

O governo endureceu a negociação com os controladores de vôo. A posição oficial, agora, é de que a desmilitarização do setor vai ter de esperar. Também foi montado um plano de emergência, caso haja paralisação de controladores no feriado de Páscoa.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, recebeu nesta terça-feira (30) oito representantes dos controladores de vôo: civis e militares. Ele disse que o governo permanece disposto a dar a gratificação e iniciar o processo de desmilitarização, mas, por enquanto, sem prazos, nem valores.

"Isso ficaria para um segundo momento. Agora é a questão da disciplina , da insubordinação e da hierarquia militar",  afirmou o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), líder do partido na Câmara.

Para que o diálogo prossiga, o governo quer garantias de que o controle de tráfego aéreo vai voltar ao normal. "Exigimos que haja condição de absoluta normalidade no funcionamento do sistema. Ou seja o governo quer ouvir todas as partes, nós vamos negociar, mas nós não podemos fazer isso com faca no pescoço", disse Bernardo.

O dia foi tranqüilo nos aeroportos nesta terça-feira, apesar do fechamento de Congonhas, provocado pelo mau tempo. A Infraero registrou entre 0h e 18h, atrasos em 5,8% dos vôos. Dos 1.336 vôos programados em todo o país, 77 atrasaram mais de uma hora.

Semana Santa

O ministro disse aos controladores que, se houver nova paralisação, o regimento militar será aplicado, o que significa prisão para quem abandonar as funções. Depois de falar com o presidente Lula, Paulo Bernardo avisou aos representantes dos controladores, por telefone, que uma nova conversa depende do que acontecer na Semana Santa.
 
Os representantes dos controladores disseram que estão decepcionados, mas garantem que não vão fazer nenhum protesto no feridão.

Caso haja um novo protesto, a Aeronáutica afastará os controladores envolvidos e chamará substitutos.

Fontes dos operadores informaram que o ambiente nos Cindactas é de muita tensão e irritação. Um deles enviou mensagem por celular dizendo que os controladores estão proibidos de ficar com os telefones enquanto trabalham. Só podem entrar no Cindacta os operadores que estão na escala.

O comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, disse que as punições aos controladores dependem da investigação do Ministério Público Militar. O Comando da Aeronáutica já designou os oficiais que vão acompanhar os trabalhos. Saito disse que a Semana Santa será tranqüila nos aeroportos.

O governo começou a pôr em prática o projeto de contratação de estrangeiros. Os contatos já começaram a ser feitos com outros paises. A contratação está prevista na medida provisória encaminhada na semana passada. A ordem da Aeronáutica é clara: se algum controlador resolver fazer protesto, será imediatamente afastado.

Comando das negociações

Nesta terça-feira, o governo devolveu para a Aeronáutica o comando das negociações com os controladores. A nova posição foi comunicada pelo presidente Lula, durante reunião do conselho político do governo. O presidente Lula disse aos líderes e presidentes de partidos da base aliada que considera a situação gravissíma.

Na véspera, comandantes da Força Aérea, Marinha e Exército tinham advertido para o risco de uma grave crise nos quartéis. Eles alertaram para o perigo de propagação de quebra da hierarquia, caso os sargentos controladores de vôo não fossem punidos e ficassem subordinados a um novo órgão civil.

Na reunião do conselho politico, o presidente disse que "é preciso primeiro restaurar a normalidade sob a coordenação do comando da Aeronáutica e, depois, cuidar de eventuais medidas adminitrativas".

"A partir desse momento o assunto apagão aéreo é de competência exclusiva do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, e é com eles que o brigadeiro haverá de tratar e desde já dizendo que não haverá qualquer tipo de vacilo por parte do governo de negociar com militares amotinados", afirmou o deputado Beto Albuquerque (PSB/RS), vice-líder do governo.

Acordo

As negociações com os controladores, na sexta-feira (30), foram conduzidas pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que chegou a fechar um acordo com a categoria.

"O governo precisava garantir na sexta-feira que a normalidade dos vôos retomasse, que o país não pode ficar refém de uma situação de negociação com os controladores", afirmou o deputado Henrique Fontana, vice-líder do governo.

Com a mudança de posição do governo, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, saiu fortalecido. Nesta terça-feira (3), ele particiou de uma solenidade militar. E foi aplaudido de pé por oficiais quando disse que não é possível tergiversar, ou seja, voltar as costas, para os princípios da hierarquia e da disciplina.

No meio da tarde, o presidente Lula recebeu os novos oficiais generais da Marinha, Exército e Aeronáutica. Pediu que eles garantam que as Forças Armadas continuem sendo exemplo de orgulho para o país. Sem mencionar a crise, prometeu buscar recursos.

"Não medirei esforços para continuar buscando os recursos e as condições necessárias para fazer avançar o reaparelhamento das três forças", disse Lula.