Governo prevê conclusão da obra ainda este ano

Mar 09 2006
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Jornal do Comércio – Porto AlegreJornal do Comércio – Porto Alegre, 9/3/2006
Governo prevê conclusão da obra ainda este ano

Rodovia será alternativa para entrada e saída do Rio Grande do Sul

A utilização da Rota do Sol beneficiará os veículos que entram e saem do Estado por Santa Catarina e também motoristas que trafegam por outros caminhos. O professor de Rodovias da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Sul (Ufrgs), João Fortini Albano, explica que a Rota do Sol servirá para desafogar rodovias como a RS-118, BR-116 e a Freeway.

“A Rota do Sol permitirá um acesso mais direto aos veículos que chegam e saem do Estado através da BR-101”, enfatiza Albano. O professor da Ufrgs também destaca que a nova estrada melhorará a viabilidade de escoamento da produção de setores exportadores da Serra através de portos catarinenses. Os possíveis alvos dos exportadores serão os complexos de São Francisco do Sul, Itajaí e Imbituba. Albano diz que isso não significa que o Porto do Rio Grande sofrerá um grande impacto com a Rota do Sol. “O porto gaúcho tem uma tradicional vocação para escoar a safra do Rio Grande do Sul e manterá esse serviço”, aponta o professor da Ufrgs.

Quanto ao turismo, Albano diz que será consolidada uma integração entre o Litoral gaúcho e cidades como Gramado, Canela, São Francisco de Paula e municípios do Vale dos Vinhedos. Outros pontos que Albano defende como fundamentais para que o sistema rodoviário do Estado atenda as necessidades dos motoristas é a pavimentação dos acessos aos municípios, a duplicação da Tabaí-Canoas e, principalmente, a recuperação e manutenção das estradas gaúchas.

Como Albano, o professor de Engenharia de Trânsito da Fundação Irmão José Otão, Mauri Panitz, também destaca a ampliação da Tabaí-Canoas como uma obra fundamental para o Rio Grande do Sul no futuro. “Estamos à beira de um caos rodoviário nessa região”, adverte Panitz. Sobre a Rota do Sol, Panitz defende que é necessário um grande investimento para não haver arrependimentos posteriores.

Ele argumenta que apesar de implicar um tempo maior e mais investimentos, a construção dos túneis na Rota do Sol é necessária. “É um terreno muito escarpado que sem os túneis ocasionaria curvas sinuosas e rampas muito inclinadas. Melhor investir agora do que sofrer os prejuízos de acidentes no futuro”, defende Panitz. Ele calcula que a Freeway verifique um tráfego médio anual de 20 mil veículos ao dia. Com a Rota do Sol, Panitz espera que cerca de 10% desse fluxo se desloque para a nova rodovia. “Isso ajudará inclusive a atenuar os engarrafamentos verificados na Freeway em feriados como o carnaval”, prevê Panitz.

Jefferson Klein

O governo do Estado assegura que as obras da Rota do Sol estarão concluídas até o final deste ano. A reivindicação por essa rodovia é histórica. Em 1931, comerciantes gaúchos se reuniram para tratar da “estrada de rodagem de Caxias do Sul a Torres”, e em 1972 a rodovia começou a ser construída, projetada para ligar São Borja, no oeste do Estado, ao Litoral Norte.

Conhecida como Rota do Sol, a estrada atravessa o Rio Grande Sul no sentido leste-oeste. Começa no entroncamento com a Estrada do Mar (RS-389) e, a partir dali, estende-se 12,5 quilômetros entre Curumim e Terra de Areia, de onde a rodovia segue pela Serra no eixo da RS-486, até encontrar a RST-453. Passa depois pelo Vale do Taquari, chegando ao Vale do Rio Pardo, em Venâncio Aires, onde encontra a RST-287 e até Santa Maria. De lá, continua pela BR-287 e alcança São Borja. Ao todo, são 749,5 quilômetros.
Em fevereiro, durante vistoria às obras da Rota do Sol, o secretário estadual dos Transportes, Alexandre Postal, reafirmou o compromisso do governo do Estado em entregar a rodovia até o final de 2006. O secretário conferiu o andamento dos trabalhos, destacando que a construção dos túneis está em fase de conclusão, faltando somente 150 metros para o encontro com a rodovia. Postal também recebeu da construtora Mac Engenharia o projeto para a construção do trevo de acesso à BR-101.

No mês passado, o governador Germano Rigotto e o secretário Postal inauguraram o trecho da Rota do Sol (RS-486) entre Itati e Terra de Areia. Com 12 quilômetros de extensão e construída pela empresa Camargo Corrêa, a obra teve o custo de R$ 30 milhões. Rigotto lembrou que, no mesmo período do ano passado, havia feito a inauguração de outro trecho da rodovia, que ligava Terra de Areia a Curumim. Esta obra, compreendendo os 12,482 quilômetros que separam os entroncamentos da BR-101 e da Estrada do Mar (RS-389), em Curumim, nos quais foram investidos R$ 8,26 milhões, não constava do projeto original elaborado em 2001 e só foi incluída por decisão de Rigotto, que argumentou que os aspectos de logística econômica e de segurança aos usuários lhe conferem o caráter de obra de fundamental importância para todo o Rio Grande do Sul.

Na opinião do governador, a conclusão da Rota do Sol interfere de maneira positiva no fluxo da produção interna, no fortalecimento da atividade turística, na campanha pela atração de novos investimentos e no processo de geração de emprego e renda.

Após a conclusão do segmento inaugurado em fevereiro, ficaram faltando apenas os 4 quilômetros da variante ambiental (o local onde estão sendo implementadas as obras de maior complexidade para reduzir o impacto na mata Atlântica da região) e outros 5 quilômetros para a conclusão da Rota do Sol. O governador afirma que esta obra se une a outras diversas que estão sendo realizadas e concluídas pelo governo do Estado. Segundo ele, a Rota do Sol é uma importante ligação da Serra gaúcha com o Litoral e a BR-101, facilitando o escoamento da produção de regiões por onde ela passa.

“O prazo de término da rodovia até o final de 2006 é devido a obras estruturantes e mais complexas como as dos túneis, viadutos e paredões. Mas acredito que temos a boa perspectiva e o sonho de ver até o final do ano a rodovia concluída”, ressalta Postal. Ele também salienta que a construção dos túneis está em fase final, restando apenas 150 metros para o encontro com a rodovia.

Cerca de R$ 100 milhões ainda serão investidos

Para concluir as obras, o Estado ainda precisa realizar um investimento significativo. O coordenador do Distrito Operacional do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), com sede em Osório, César Garcia, calcula que para terminá-la serão necessários mais R$ 100 milhões aproximadamente.

Até o momento, durante o governo Rigotto, foram investidos cerca de R$ 85 milhões de recursos do Tesouro do Estado por meio da Contribuição sobre Investimentos do Domínio Econômico (Cide). Garcia informa que 70% da terraplenagem do trecho fora da variante ambiental já foram concluídos. A expectativa é de que a terraplanagem dos 5 quilômetros restantes seja finalizada até julho.
Entre as obras mais complexas que precisam ser feitas para concluir a Rota do Sol, Garcia cita a construção de dois túneis de 450 metros de extensão e de dois viadutos de de 80 metros de extensão. O coordenador do Distrito Operacional do Daer informa que as construtoras envolvidas com o trecho final da Rota do Sol são a Sultepa, Camargo Corrêa, Toniolo Busnello e a Mac Engenharia.

Estado usou recursos próprios para suprir atraso de repasse do Prodetur

O governador Germano Rigotto destaca que o governo do Estado usou recursos próprios na construção da chamada variante ambiental, porque a verba que seria repassada pelo Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur) atrasou. Além disso, recursos que viriam de bancos internacionais não chegaram. A variante ambiental é a mudança de traçado de uma estrada que já existia, para encurtar o percurso e preservar a fauna e a flora do lugar. O trecho da variante começa no quilômetro 10,5 e vai até Arroio Limoeiro.

Para a construção do viaduto de Tainhas, tiveram de ser detonados 250 mil metros cúbicos de rochas. Em Arroio Limoeiro, estão em construção dois túneis, por dentro de rochas, que deverão estar prontos em maio deste ano. No orçamento do Estado para este ano, estão previstos R$ 70 milhões para a Rota do Sol, além dos R$ 30 milhões da Cide – imposto sobre combustíveis, que tem valores repassados pela União aos estados para custeio de obras de infra-estrutura. Rigotto também lembra que foram necessárias muitas obras de arte na Rota do Sol entre São Francisco de Paula e Curumim.

O deputado federal (PSB) Beto Albuquerque afirma que torce pela conclusão das obras na Rota do Sol ainda este ano, mas acha difícil o cumprimento dessa meta. Albuquerque foi secretário estadual dos Transportes durante o governo de Olívio Dutra. “Essa estrada, além de trazer benefícios para o turismo, é muito importante para a economia gaúcha”, concorda Albuquerque.

O ex-secretário relata que foram investidos em torno de R$ 53 milhões em recursos próprios do Estado na Rota do Sol durante a gestão do governo anterior. “O governo atual conta com o repasse de R$ 100 milhões anuais provenientes da Cide para investir em infra-estrutura. Nós não tivemos essa possibilidade”, diz o deputado.

Ele lembra que o governo anterior, em quatro anos, pavimentou 34 quilômetros da Rota do Sol. A intenção era terminar as obras ainda durante a gestão de Olívio Dutra, mas a demora em obter recursos do Prodetur impediu que fosse obtido sucesso nessa questão. O programa permitiria o financiamento que seria contratado pelo Banco do Brasil junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Banco do Brasil faria subcontratos com cada um dos Estados. “A Cide supriu essa carência”, argumenta o deputado.