Guerra de CPIs se instala no Congresso

May 20 2005
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O Liberal

O Liberal, 20/5/2005
Guerra de CPIs se instala no Congresso
Privatizações no governo tucano serão passadas a limpo. Comissão dos Correios é alvo de pressões.

Brasília (Agência Estado) – O presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), anunciou ontem que vai instalar na próxima terça-feira, 24, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a privatização da Eletropaulo e as privatizações do setor elétrico no governo Fernando Henrique Cardoso. A CPI foi criada no ano passado, seus integrantes indicados pelas lideranças, mas até hoje não começou a funcionar.

Severino resolveu instalar a CPI por pressão do PSDB e do PFL, que reagiram à declaração do vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS), que desafiou a oposição: se querem mesmo investigar, deveriam também apurar as privatizações do governo passado.

A decisão do presidente da Câmara e o desafio lançado pelo parlamentar gaúcho concretizaram a deflagração, no Congresso Nacional, de uma guerra de CPIs entre a oposição, que está mobilizada para instaurar procedimento investigatório sobre supostos atos de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), e os partidos da base governista, que pretendem investigar a fundo as privatizações ocorridas no governador do tucano Fernando Henrique Cardoso. Para esquentar ainda mais o clima, o Planalto fez movimentar, ontem, seu rolo compressor e intensificou as pressões para evitar que a CPI dos Correios se instale.

“Vamos instalar o mais rápido possível a CPI. Se dentro de mais alguns dias não houver o funcionamento, tomarei as medidas para que seja feita a instalação da CPI”, afirmou Severino. “Quero saber se isso (declaração do vice-líder) é uma chantagem ou se é mesmo para valer. Não vamos aceitar instrumento de chantagem”, afirmou o líder do PFL, deputado Rodrigo Maia (RJ), que ameaçou impedir a votação de medidas provisórias enquanto a CPI do setor elétrico não começar a funcionar.

“Essa CPI do setor elétrico está criada desde o ano passado, mas a maioria dos deputados é do governo e eles não estão presentes à Comissão para dar quórum”, disse o líder do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP). No final da tarde, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), subiu à tribuna para garantir que o governo não fez obstrução ao funcionamento da CPI do setor elétrico. “Houve oito tentativas dessa comissão se reunir e, em sete delas a reunião foi cancelada. No último dia 4 de maio foi aberta a sessão e 16 deputados da base do governo estavam presentes e apenas três da oposição apareceram. Se alguém estava fazendo obstrução não era o governo”, afirmou Chinaglia.

Em nota oficial, o PFL e o PSDB afirmaram que “não se sujeitarão a qualquer manobra ou expediente de intimidação por parte do governo Lula e seus aliados, concordando, desde já, acerca da instauração de outros inquéritos parlamentares, propostos que visem elucidar fatos ocorridos em administrações anteriores. A esse propósito, a comissão destinada a apurar eventuais infrações no processo de privatização do setor elétrico somente não foi instalada em face da obstrução e da falta de interesse do governo”, argumentaram os dois líderes partidários.

Goldman e Maia observaram ainda que “não medirão esforços para que sejam apuradas, até o final, todas as denúncias de corrupção e desvios que pairam sob o governo Lula”. Lembraram ainda que tentaram investigar as denúncias apresentadas contra o ex-assessor da presidência Waldomiro Diniz. “A oposição não transigirá com a falta de ética e buscará por todos os meios lícitos, a verdade dos fatos e a responsabilização dos culpados”, diz a nota.
“Entendem, nesse sentido, imprescindível que as investigações de casos como o revelado nesta última semana nos Correios sejam conduzidos por uma CPI, pois não se concebe que crimes desta gravidade, cometidos contra o patrimônio público no âmbito do poder Executivo, sejam fiscalizados apenas por ele próprio”, completaram os líderes, na nota.

Ex-candidato acusa Marinho

Misto de político sem votos, dono de jornal pouco conhecido e operador de empresas interessadas em fazer negócios com o governo, Antonio Pedreira disse que Maurício Marinho, ex-diretor de Material dos Correios, quis se “cacifar” ao incluir seu nome na lista dos que formariam suposta rede de corrupção na estatal. “Como sou um homem público conhecido e converso com todo mundo, esse funcionário dos Correios deve ter usado meu nome para se mostrar importante”, afirmou.

Para realçar a afirmativa, Pedreira disse que, atualmente – além de tocar o seu jornal, “Jornal do Brasileiro”, cujo logotipo é muito parecido ao do “Jornal do Brasil”, com circulação quinzenal e notícias que, segundo a publicação, são “imperecíveis” -, dedica seu tempo à reestruturação do PPB. “Quando reestruturá-lo, vou sair candidato pela Bahia (Estado onde nasceu), porque a Bahia teve apenas dois candidatos a presidente da República pelo voto direto: o doutor Rui Barbosa e eu.” Pedreira foi candidato a presidente em 1989. Teve 86.107 votos na eleição vencida por Fernando Collor.