Lúcia: administradores têm medo de CPIs

Apr 30 2007
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Correio do Povo – Porto ALegre, 28/4/2007

Lúcia Hippólito

O excessivo número de manobras do governo federal para evitar a instalação de comissões parlamentares de inquérito (CPI) no Congresso Nacional, como a tentativa de barrar a investigação dos problemas do setor aéreo, reflete o medo dos administradores de terem a gestão exposta e de não controlarem o que acabará apurado. A análise foi feita neste sábado pela cientista política Lúcia Hippólito. Para ela, todos os governos, mesmo os mais corretos, sempre apresentam alguma irregularidade. 'Apesar de ter tema específico e definido, a investigação de uma CPI sempre pode descobrir coisas desagradáveis e que atinjam a conduta do gestor, muitas vezes sem ele saber. Por isso, há sempre extremo receio com CPIs', explicou.

Lúcia ressaltou que a máquina administrativa do Brasil é extremamente grande e, em parte, burocratizada. Isso, segundo ela, impossibilita que os gestores tenham conhecimento de tudo o que ocorre no governo. Outro fator negativo que a criação de CPI possui, destacou, é a falta de controle da investigação. 'A gente sabe como ela começa, mas não como vai terminar. No meio da apuração da CPI dos Correios, em 2005, por exemplo, surgiram outras denúncias, como o mensalão', lembrou. Sobre a instalação da CPI do Apagão Aéreo, disse esperar que, diferentemente de outras oportunidades, os deputados consigam apresentar resultados à sociedade. 'As pessoas estão cansadas de ver as discussões e não as conseqüências e as punições devidas', afirmou.

Ao avaliar a razão que leva o governo federal a tentar barrar a instalação de CPIs, o líder da minoria na Câmara, deputado Júlio Redecker, do PSDB, afirmou que, geralmente, o Executivo tem conhecimento das irregularidades praticadas em sua administração e sabe que os parlamentares podem descobrí-las.

O deputado federal Beto Albuquerque, do PSB, um dos vice-líderes do governo na Câmara, destacou que o maior receio do Executivo é que as investigações tenham o foco desviado. Outra preocupação, disse, está ligada ao uso do espaço como palanque eleitoral.