Mais um que está lá e não devia estar

Feb 14 2009
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Blog Doe Vida, 14/02/2009

Como diriam alguns, "mais um anjo no céu". Mais um que está lá e não devia estar. Falo de Pietro Alburquerque, filho do deputado federal gaúcho Beto Albuquerque (PSB), um dos mais conhecidos entre nós, que perdeu seu filho de 19 anos na semana passada. Vítima da leucemia, à espera do transplante de medula óssea. Não comentei o assunto antes porque esse certo tipo de assunto eu não gosto comentar. É difícil às vezes lidar com a morte, falar de morte. Mas como eu já discorri aqui várias vezes, falar de morte é falar de vida. Só fala de morte que está com pouca vida, e quer mais vida.

E é lamentável ver uma notícias dessas e não poder fazer nada. Imagine a resigniência desse pai, que porventura é um ilustre, e tem que levar a vida adiante com tamanha perda, um filho de 19 anos. Pensei em cometer a indelicadeza de perguntar para minha mãe como seria me perder, e só de pensar em ficar no lugar dela, não ter a mim, eu me estremeci, fiquei pensando o quanto meu pai e minha mãe, tanto como tantas pessoas na minha volta que gostam e convivem comigo, quanto elas iriam sofrer, pois sei que elas gostam de mim.

Minha vó uma vez me disse que os pais não deviam enterrar os filhos. E quando isso acontecia a vida toda ficava um pouco desregulada. Falta alguma coisa nela. Vejamos no caso de Pietro, seu pai, sua mãe viram esse rapaz crescer, desenvolver-se física e mentalmente, tiveram o curso natural da vida interrompido, têm que agora lidar com perdas no dia-a-dia, as perdas de ter que readaptar aqueles momentos bons, e os ruins também, com o filho. É lamentável, lamentável.

Vai aí mais um alento meu para que alguém faça alguma coisa, ou que pelo menos alguém se sensibilize. A sensibilidade é o primeiro passo para que a nossa sociedade mude essa questão referente à doação de órgãos, de sangue e medula óssea. Ainda mais esses dois últimos que podem ser feitos pelo doador em vida. Como esse caso, todos dias pessoas morrem por faltar de doadores. Quantas pessoas ainda vão ter que morrer para termos a sensibilidade de doar?

Por  Luís Fernando Kalife Júnior faz Letras na UFRGS, tem 22 anos, adora escrever e é apaixonado por literatura. Também é paciente da lista de espera para transplante duplo de pulmão, e aqui irá relatar suas experiências e falar sobre transplantes, doação de órgãos, sangue e medula.