Ministro vai ouvir Santa Maria

Nov 10 2004
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Diario de Santa Maria

Diario de Santa Maria, 10/11/2004
Ciência e Tecnologia –
Ministro vai ouvir Santa Maria
Cientistas locais terão até dia 25 para contestar relatório de Centro Espacial
CARLOS DOMINGUEZ

Dezesseis dias. Este é o prazo que o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, deu para que a comunidade santa-mariense entregue um documento contestando o relatório da comissão de avaliação do Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (CRSPE). O relatório foi divulgado ontem, com exclusividade, pelo Diário.

Em reunião com os deputados Paulo Pimenta (PT) e Beto Albuquerque (PSB), o ministro aceitou a sugestão de ouvir a cidade antes de bater o martelo sobre o que vai ser feito, a partir de 2005, com as instalações do Centro no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Também estará em jogo o futuro do Observatório Regional Sul, em São Martinho da Serra.

Após receber o documento de Santa Maria, Campos ouvirá novamente a comissão de cinco cientistas. E no dia 6 de dezembro, anunciará sua decisão.

No relatório, os cientistas se dizem favoráveis a uma das quatro propostas de gestão. Nela, duas das três principais reivindicações da cidade ficaram de fora: a autonomia do Centro Espacial em relação ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a instalação de uma estação terrena de monitoramento de satélites.

Já a reativação dos convênios entre o Inpe e a UFSM – parados desde 2001, e que garantiriam a pesquisadores da universidade atuar no Centro Espacial – foi considerada uma necessidade emergencial pelos cientistas.

– O ministro não tem posição sobre o relatório. Conseguimos que a comunidade científica da cidade questionasse o relatório, que não é definitivo. Há dois debates: um técnico e um político sobre a questão. Vamos batalhar por uma unidade o mais ampla possível, com maior possibilidade de trabalho e com a gestão o mais autônoma possível – disse Pimenta, por telefone, logo após a reunião.

Unidade do MCT é bem-vinda

Logo que a notícia chegou em Santa Maria, começaram as reuniões para alinhavar o documento a ser enviado ao ministro.

Ontem, o chefe da unidade do Inpe em Santa Maria, Nelson Schuch, reuniu-se com pesquisadores do Laboratório de Ciências Espaciais da UFSM para analisar o relatório. Segundo Schuch, o importante é que a criação de uma unidade do ministério na cidade tenha sido contemplada.

– O ministro terá bons subsídios para bater o martelo. É hora de sermos humildes. A comissão priorizou uma proposta. O que Santa Maria, o Estado e a Região Sul querem é outra. É hora de trabalhar pelo desenvolvimento – afirmou Schuch.


Perdas e ganhos
A comissão de avaliação fez quatro propostas ao ministro e indicou uma como a mais viável. Se Eduardo Campos aceitasse a proposta da comissão, veja como ficaria a pesquisa espacial em Santa Maria
O que a cidade e a região Sul querem
A criação, em Santa Maria, de um instituto de pesquisa ligado diretamente ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que absorveria toda a estrutura do Centro Regional Sul de Pesquisa Espacial (CRSPE) e do Observatório Espacial Sul
A instalação de uma estação terrena de controle e monitoramento de satélites para trabalhar com imagens sem a intermediação do Inpe em São Paulo
A renovação dos convênios entre a UFSM e o Inpe, rompidos pela direção do instituto em 2001 e que permitiriam que pesquisadores da universidade usassem os laboratórios para o prédio do Centro Espacial
Fim do boicote financeiro da direção do Inpe com o Centro Espacial local. Desde 2001, R$ 9,6 milhões foram retidos pelo instituto, impedindo o funcionamento do pleno do Centro
Descentralização da pesquisa espacial no Brasil, monopolizada hoje em São Paulo, sede do Inpe
Concurso público e bolsa de estudos para o Centro Espacial e para o Observatório Espacial
Desenvolvimento científico e tecnológico da região Sul do país
O que a comissão propôs
Não parece viável devido aos altos custos de implantação pelo MCT e à competição por recursos com outra unidades do ministério. Segundo o documento, o Inpe considera que a independência da unidade regional prejudicaria a pesquisa que já é feita
Não há como estabelecer uma estrutura de controle de satélites, e o rastreio está sujeito a existência de equipamento e recursos humanos e financeiros.
A renovação dos convênios com a UFSM deve ser imediata
Apesar de a comissão recomendar que sejam investidos recursos para finalizar o prédio do Centro Espacial e aperfeiçoada a infra-estrutura do observatório, não há referência aos recursos retidos pelo Inpe
A comissão cita que o Inpe não tem interesse em estabelecer estruturas regionais de pesquisa e que investirá todos os recursos em São José dos Campos, Cachoeira Paulista e Cuiabá
Favorável a concurso para o observatório. Não há referência ao Centro Espacial
A UFSM está capacitada para criar empreendimentos tecnológicos com a iniciativa privada e instituições públicas
Pontos de consenso
É prioridade a manutenção das atividades em ciências espaciais por meio de cooperação do Inpe e da UFSM no Observatório Espacial de São Martinho da Serra e no sistema de monitoramento (instalado ou a ser instalado) no campus da Federal
A UFSM possui um alto potencial para ampliar a sua atual capacidade para a formação de recursos humanos e desenvolver pesquisas na área de ciências espaciais e nas aplicações em sensoriamento remoto (uso de dados de sensores em satélites), geoprocessamento e geomática e metereologia
O Centro Espacial reduziria as desigualdades regionais com a promoção das atividades de ciência e tecnologia espaciais
Pontos obscuros e políticos
Uso de emendas parlamentares para atividades de pesquisa – A comissão é contra. Para o reitor da UFSM, esta é apenas uma opinião sobre um assunto político. O deputado Paulo Pimenta vai pedir que os deputados da bancada gaúcha incluam recursos em suas emendas para o Centro Espacial. O governador do Estado, Germano Rigotto, também vai conversar com os deputados
Dinheiro para a conclusão do Centro Espacial – O prédio no campus da UFSM não tem mobiliário, equipamentos, elevadores, um auditório. Embora não fale em valores, a comissão recomenda a conclusão
Boicote – Desde 2001, a direção do Inpe, em São Paulo, reteve R$ 9,6 milhões destinados por emendas ao Orçamento da União para Santa Maria. Não há referência ao boicote político econômico
Descentralização – Em 2001, o Inpe mudou a posição sobre a descentralização da pesquisa espacial e a necessidade de reduzir as desigualdades regionais. Hoje, todo o monitoramento de imagens de satélites está monopolizado na sede do Inpe. O ministro Eduardo Campos declarou ao Diário, no dia 3/7/04 ser favorável à descentralização da pesquisa em Ciência e Tecnologia no Brasil