Mistura fatal II

Feb 07 2006
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O Tempo – Belo HorizonteO Tempo – Belo Horizonte, 7/2/2006
Mistura fatal II

RAIMUNDO COUTO

Na última edição, ocupamos este espaço para relatar a necessidade da aplicação de punição severa aos que costumam misturar direção e bebida alcoólica.

Dissemos, também, que já está em poder do presidente Lula um projeto de lei do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), que sugere maior autonomia ao agente de trânsito, rodoviário ou urbano, para que ele faça valer sua autoridade e possa utilizar- se do único aparelho que consegue mensurar o grau de álcool no sangue do motorista: o bafômetro.

Segundo o projeto, que já foi aprovado pelo Congresso Nacional e espera apenas a assinatura do chefe do executivo para entrar em vigor, o policial poderá atestar se o motorista está ou não bêbado, caso ele se recuse a passar pela avaliação do bafômetro ou se negue a recolher sangue para análise.

Mas, se nós, brasileiros, ainda estamos na fase de discussão sobre a aplicação, compulsória ou não do bafômetro, nos países desenvolvidos o motorista não tem direito nem de questionar a “sopradinha” e, se não o faz de bom grado, pelo menos sabe que terá que se submeter a ela.

Assim, preventivamente, ele acaba optando por evitar a bebida alcoólica. A fábrica sueca Volvo, que hoje pertence a Ford, é a montadora que mais desenvolve pesquisas no sentido da segurança veicular.

Um protótipo em desenvolvimento pelos suecos permitirá que o motorista, ao entrar no carro, seja avaliado no que se refere ao seu estado de embriaguez. Um bafômetro instalado no painel dirá o grau de álcool no sangue e o motor só poderá ser acionado caso o índice esteja dentro do padrão mínimo de segurança.

Ainda dentro do projeto da Volvo, outro fator que impedirá o giro da chave do motor é o cinto de segurança, que terá de estar afivelado para que o carro possa entrar em funcionamento.

Apenas para que o leitor tenha uma idéia de como o assunto direção versus álcool é levado a sério no mundo inteiro, citamos alguns exemplos de como o tema é tratado em alguns países. No Japão, por exemplo, a tolerância é zero e o motorista é obrigado a submeter-se ao aparelho.

Constatado uma grama de álcool por litro, o condutor é considerado bêbado e tem a carteira suspensa. Quem está a seu lado também passa pelo exame e pode ser considerado co-responsável, em caso de acidente.

No Brasil, o limite permitido é de 0,6 g/l, que equivale a – mais ou menos – duas doses de bebida destilada ou duas latas de cerveja.

Mas na Colômbia, assim como no Japão, o código de trânsito local não permite que o motorista dirija sob efeito do álcool.Também é obrigatório o uso do bafômetro. Uma vez constatado que o condutor infringiu a lei, ele paga uma multa, fica sem o carro e pode perder por até três anos a carteira de habilitação.

Se houver uma reincidência, sua habilitação pode ser cassada para sempre. No maior mercado do mundo, os EUA, todas as unidades da federação são unânimes no que diz respeito ao bafômetro. Em todos os Estados, a licença para dirigir é cassada caso haja recusa em soprar o aparelho.

Lá é permitido até 0,8 g/l.Para finalizar, citamos a Espanha, onde é facultado ao motorista dirigir com até 0,5 grama de álcool por litro de sangue. Na hora da fiscalização, o condutor que recusar a fazer o teste – ou se ultrapassar essa quantidade – pode ser preso no momento da infração.

Agora, resta-nos aguardar a sanção de Lula e torcer para que entre em vigor rapidamente a alteração no Código Brasileiro de Trânsito. Oxalá, teremos um feriado de Carnaval com menos mortes no trânsito causadas por excesso de bebida alcoólica e maior consciência de nossos motoristas.