O senador equilibrista

Jun 09 2005
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Zero Hora – Porto Alegre

Zero Hora – Porto Alegre, 09/06/2005
O senador equilibrista

Para espanto geral, o senador Paulo Paim (PT-RS) tentou ontem, no programa Atualidade, erigir-se como o grande paladino petista em favor da CPI dos Correios.

Quem tivesse ouvido o senador Paim na entrevista de ontem talvez fosse convencido a acreditar que ele assinou a favor da instalação da CPI, antes daquele fatídico prazo de até meia-noite da antepenúltima quarta-feira, quando o documento que requeria a CPI restou sem a assinatura do senador petista.


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Além de não assinar a favor da CPI, o senador Paim criticou acerbamente o seu colega de bancada no Senado Eduardo Suplicy (PT-SP) por tê-lo assinado.

Ninguém exige que o senador Paim assine requerimento a favor da CPI, é do seu direito e pertence à sua consciência ser a favor ou contra a CPI.

O que no entanto é inaceitável é que o senador Paim não assine o requerimento da CPI e depois venha tentar fazer a opinião pública crer que ele foi um dos mais ardentes e combativos parlamentares a favor da CPI, quando na verdade essa condição pertenceu unicamente a Suplicy, que, enfrentando a ira dos seus colegas petistas, de quase todo o PT e do governo, que ameaçaram retaliá-lo pelo gesto corajoso, foi o único senador do PT que assinou a favor da CPI naquela noite de prazo fatal.


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A glória e o prestígio de assinar a favor da CPI naquela dramática noite é um monopólio de Suplicy.

Ele correu o risco de vir a ter sua candidatura à reeleição para o Senado cassada pelo PT.

Se a Suplicy pertenceu o ônus por sua invulgar atitude corajosa, deve agora pertencer o bônus, por ter mostrado a quase todo o PT que o certo era naquela noite assinar a favor, tanto que agora todo o PT e o governo se declaram a favor da CPI. Suplicy teve a lucidez e a sensibilidade política e ideológica de cometer um ato pelo qual pagou o preço de ameaças, desprezo e injúria, que só 15 dias mais tarde foi imitado por todo o PT e pelo governo.

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No Atualidade de ontem, o senador Paim posou de ativo combatente em favor da CPI, quando em realidade ele lutou contra a instalação da CPI, tanto que foi amargo na censura a Suplicy por ter "roído a corda" e assinado na última hora a favor.

Quando recusou-se a assinar pela CPI, o senador Paim optou pelos "cafunés e pão-de-ló" do poder, na expressão do deputado Beto Albuquerque (vice-líder do governo na Câmara).

Era seu direito, cada parlamentar vota contra ou a favor de qualquer tema, de acordo com sua consciência e/ou intelecção.

Mas assombra que o senador Paim queira também obter "cafunés e pão-de-ló" da opinião pública, o que seria injusto e desigual até mesmo com seus colegas do PT que também corajosamente negaram-se a assinar a favor da CPI e hoje curtem em silêncio o desfavor popular e a desvantagem de terem sido obrigados a voltar atrás 15 dias depois.

Por não assinar a favor da CPI, o senador Paim deveria se conformar com os "cascudos e pão torrado" da opinião pública, restrição a que ficaram sujeitos todos os petistas que não quiseram assinar. Como pode o senador Paim, em outra manobra de prestidigitado equilibrismo, mais uma vez querer ficar bem com Jeová e Lúcifer?

Nesses tensos episódios, os parlamentares escolhem entre o bônus e o ônus, é impossível ficar com os dois.

Só o senador Paim pretende bater o escanteio e ao mesmo tempo correr para cabecear contra o gol na pequena área.

A regra do futebol e a ética na política não o permitem.

Coluna Paulo Santana