O veredito do Maracanã

Jul 17 2007
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Jornal do Tocantins, 17/7/2007

Alexandre Garcia

Brasília (Alô) – No estádio batizado pelo sal das lágrimas de Uruguai 2 x Brasil 1, o veredito foi forte, na sexta-feira 13 de Lula. Afinal, o que dizem as pesquisas? Que Lula está com o governo aprovado? Mas então, e a voz do Maracanã? Ah, não foi o pessoal do bolsa-família? Foi a classe média alta? Como assim? Classe média alta carioca é suficiente para encher o Maracanã? Classe média alta vai ao Maracanã? Ora, ora, claro que não vai. Foi classe média mesmo. Aquela que paga imposto, espera na fila, é assaltada e fica quieta quase sempre. Que já não agüenta mais. Foi a tal que saiu para as ruas, aos milhares, exigindo que os milicos derrubassem o Jango? Seria a direita maluca, que aplaudiu Cuba e vaiou Estados Unidos? Era a torcida do Fluminense e do Botafogo? Sei lá. Era o Maracanã, com todo o seu significado. O mesmo que aplaudia Médici de pé. Mas que vaia até minuto de silêncio (para consolo de Lula), como ensinava Nélson Rodrigues.

O presidente com certeza esperava uma ovação. Já tinha o trunfo daquela promoção não reconhecida pela Unesco, que elegeu o Cristo maravilha. E o Brasil havia conseguido organizar o Pan. Diante de 42 países, audiência nas três Américas e no mundo, era o momento de glória. Mas, quando apareceu o rosto do presidente nos telões do Maracanã, veio a primeira vaia. Poderia ser ocasional. Aí, apareceu o presidente ao lado do ministro dos Esportes e da ministra do Turismo, Marta Suplicy. E veio a segunda vaia. Então, o locutor anunciou a presença do presidente. A terceira vaia. Anunciou de novo em espanhol. A quarta vaia. Falou o cartola Mario Raña e, quando mencionou o "Excelentíssimo Presidente Lula", veio a quinta vaia. E quando o telão mostrou o presidente levantando-se, a sexta vaia. Aí, para evitar a sétima bíblica vaia, o presidente desistiu de abrir os jogos. Nuzman cumpriu o papel do presidente Lula.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá, apressou-se em explicar que é normal, que em evento esportivo é usual autoridade receber vaia. Ele teria razão se o Maracanã não tivesse aplaudido o prefeito do Rio de Janeiro, o opositor César Maria, do DEM. O vice-líder do governo, deputado Beto Albuquerque, afirma que foi claque. Lula promete não retaliar o Rio, mas deve ter imaginado que o carioca é um mal-agradecido, embora aquele estado o tenha elegido no segundo turno com 69% dos votos. O governador Sérgio Cabral ainda tentou puxar aplausos, mas eles se limitaram aos circunstantes. Os ministros estavam sem graça. Poderia ter sido pior – comentou o cientista político da Universidade de Brasília, David Fleischer. Seria pior se o presidente tivesse insistido em abrir os jogos. Suponho que a vaia não tenha sido apenas para o presidente. Também foi para o que ele representa de Renan Calheiros, Jader Barbalho, José Dirceu, José Sarney, Marta Suplicy, os aliados, os próximos, cujos nomes têm aparecido tanto nas más notícias que a classe média presente no Maracanã acompanha, sem estar alienada pelo futebol ou hipnotizada pelas bolsas doadas. Estranhei a timidez dos meios de informação, ante tão significativa manifestação política. Registraram com tanto comedimento! Imagino que na Presidência da República, logo que passar o choque, devam estar preocupados com a próxima aparição pública do presidente. Porque, se acontecer pela segunda vez, vira moda. Pelo teste do Maracanã, não passou. É bom que visite Garanhuns, antes que acabem os aplausos.