CPI dos Cartões – Governo tenta ficar com presidência e relatoria da comissãoDepois de se unirem para esfriar a CPI mista dos Cartões, oposição e governo disputaram ontem os dois principais cargos da comissão, a presidência e a relatoria. Os aliados dizem que não vão ceder e o PMDB já indicou o senador Neuto De Conto (SC) para presidente. O PSDB pressiona para levar a relatoria ou, pelo menos, que o posto fique com um parlamentar com perfil moderado, e ameaça obstruir votações.
– Não é com faca no pescoço que vamos chegar a um entendimento – ponderou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
A maior resistência a um acordo com a oposição vem da Câmara. Ontem, o ministro José Múcio (Relações Institucionais) reuniu-se com líderes da base aliada no Planalto.
– Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém. Temos de fazer o que o regimento diz. O que vamos fazer se a oposição grita, mas não age? – ironizou o vice-líder do governo deputado Beto Albuquerque (PSB).
A base aliada diz que a ameaça de obstrução feita pela oposição não muda nada:
– Dentro da democracia temos de respeitar a vontade da opinião pública. O PMDB foi eleito com a maior bancada e o PT com a segunda. Considero um equívoco da oposição paralisar o país – disse o líder do governo, Henrique Fontana (PT). O PT já deu início às articulações para emplacar Luiz Sérgio (RJ), mas José Eduardo Cardozo (PT-SP) também é cotado e tem a simpatia de parte do PSDB. O lançamento dos nomes irritou a oposição.
– Se não houver divisão de poder na CPI, vamos começar a obstruir as votações no Senado – disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
Num almoço em uma churrascaria de Brasília, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) e o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) trocaram ofensas. Ao discursar para os colegas, Dias acusou Sampaio de ter fechado um acordo com governistas para evitar investigações da CPI sobre a Presidência.
Nervoso, Sampaio reagiu às palavras do colega de partido:
– Prefiro uma CPI mista que seja chapa-branca, mas que aconteça.
Sem alarde, a oposição trabalha para emplacar o senador Renato Casagrande (PSB-ES) ou, em último caso, Cardozo, na relatoria da CPI. Apesar de ser aliado do governo, Casagrande tem o apoio indireto dos oposicionistas por ser considerado "independente".
