Oposição faz base de refém, diz Lula
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O Estado de S.Paulo, 12/3/2008
Vera Rosa, Luciana Nunes Leal e Denise Madueño, BRASÍLIA
Presidente afirma que está na hora de 'medir forças com adversários' e exige votação do Orçamento hoje
Nos 25 minutos em que participou da reunião do conselho político do governo, ontem de manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou de corpo mole dos aliados no Congresso e cobrou mobilização para votar o Orçamento. Segundo os presentes, ele deu sinal verde para votar a proposta mesmo sem acordo com PSDB e DEM, dizendo que "está na hora de medir forças com a oposição". Insistiu ainda em que o governo precisa "exercer a maioria" e não pode "ficar refém da minoria".
Oito horas depois da cobrança, a base fechou acordo com a oposição para votar o Orçamento hoje à tarde. O acerto exclui do Orçamento o polêmico Anexo de Metas da Lei de Diretrizes Orçamentárias, que reúne emendas no valor de R$ 534 milhões. Agora, os recursos serão redistribuídos entre as bancadas estaduais.
Antes da negociação, Lula reclamara que a base não defende o governo dos ataques e há aliados "tomando tanto cafezinho com líder da oposição que já devem estar ficando com azia". O comentário foi interpretado como crítica ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que tem negociado à exaustão com PSDB e DEM.
No início da reunião, Lula avisou que faria um desabafo. Disse que os aliados não têm reagido com vigor para impedir que a oposição obstrua votações. E pediu aos líderes que ponham os senadores para votar, pois não dá mais para esperar.
Afirmou ainda que a fase da distribuição de cargos acabou e espera o fim dos atritos e a defesa de uma agenda positiva. "O presidente deu cartão amarelo para a base. O próximo será o cartão vermelho", resumiu o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS). "Ele estava bravo e com razão", emendou Márcio França (PSB-SP). "Disse que, a partir de agora, teremos de definir quem quer e quem não quer ser governo. Falou assim: 'Se querem espaço, terão de votar.'"
Lula repetiu no conselho que, se o Orçamento não for aprovado, editará uma enxurrada de medidas provisórias para garantir as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Lembrou que, num ano eleitoral como este, o prazo é mais curto, já que a União não pode transferir dinheiro para convênios que não estejam formalizados até junho. Ele fez um apelo pela aprovação da MP que cria a TV pública, que perderá a validade se não for votada até dia 21.
O líder do PDT na Câmara, Vieira da Cunha (RS), não participou da reunião. Segundo sua assessoria, seu vôo atrasou. Um dos presentes contou que Lula quer cobrar o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, pois está insatisfeito com a bancada do PDT.