Ai??rfA?os de filhos

Oct 05 2013
(0) Comments

BLOG ROSANE OLIVEIRA – GRUPO RBS

CRAi??NICA DE SA?BADO

Poucas coisas me desconcertam mais do que conversar com pais que perderam filhos jovens, numa inversA?o da lA?gica da vida. Mais de uma vez, recebi nesta sala onde trabalho o deputado Beto Albuquerque, que perdeu o Pietro, de 19 anos, vAi??tima de leucemia. Beto transformou sua tristeza em energia para trabalhar pelos transplantes de medula A?ssea e aprovou uma lei com o nome de Pietro. Serve-lhe de consolo saber que fez o possAi??vel para salvar o filho, oportunidade que nA?o tiveram os pais de jovens assassinados ou mortos na guerra do trA?nsito.

HA? trA?s semanas sentou-se na cadeira das visitas a arquiteta Diza Gonzaga, que veio detalhar a campanha ai???18 Ai?? poucoai??? ai??i?? o nA?mero Ai?? uma referA?ncia aos 18 anos da morte do Thiago, aos 18 anos, num acidente de trA?nsito. Da dor sem fim pela perda do seu menino nasceu a FundaAi??A?o Thiago Gonzaga, que Diza criou com a pretensA?o de salvar outros jovens, alertando para que nA?o bebam antes de dirigir nem peguem carona com amigos alcoolizados. SaAi?? da conversa com a pergunta que sempre me faAi??o quando falo com ela: como Ai?? que essa mulher consegue se manter em pAi?? e ainda ajudar outras famAi??lias dilaceradas?

Algumas semanas antes, entrou na minha sala o ex-vereador Wilson Santos, a quem eu nA?o via hA? muitos anos. Eu o conhecia da polAi??tica e de uma casa de tango que ele tinha na Avenida IndependA?ncia. Fiz a pergunta da qual me arrependeria dois segundos depois:

ai??i?? E o teu guri? Continua danAi??ando tango?

Wilson se engasgou, seus olhos se encheram de lA?grimas e ele respondeu depois de uma pausa que me pareceu ai???de mil compassosai???:

ai??i?? EstA? agora danAi??ando tango no cAi??u.

EntA?o contou que o guri que danAi??ava como um argentino morreu num acidente na BR-101, em Santa Catarina. Ao receber a notAi??cia, Wilson teve um enfarte, passou dias entre a vida e a morte, mas sobreviveu. Para nA?o sucumbir Ai?? depressA?o, passou a fazer aulas de canto e a compor. A caixinha que trazia na mA?o era seu CD de estreia como cantor, todo com composiAi??Ai??es dele. Nenhuma fala de morte. Quase todas falam de amor.

Por esta sala tambAi??m jA? passou Luiz Fernando Oderich, pai de Max, um estudante de 26 anos, assassinado em 2002, no bairro Floresta, em Porto Alegre. Max era seu A?nico filho e tinha ido a Porto Alegre comprar o terno de formatura quando foi morto num assalto. Oderich enxugou as lA?grimas e criou a ONG Brasil Sem Grandes, que trabalha no combate Ai??s causas da violA?ncia e luta por mudanAi??as no sistema legal para atacar a impunidade. Escreveu livros para ajudar outros pais a enfrentarem o calvA?rio da perda de um filho de forma violenta.

Na terAi??a-feira, encontrei por acaso na portaria do prAi??dio de ZH um jovem simpA?tico que se apresentou como Paulinho Peres e disse que SAi??rgio Gabardo gostaria de conversar comigo para relatar seu pAi??riplo em busca de justiAi??a. Caminhoneiro que se transformou num dos maiores empresA?rios do ramo de transportes, Gabardo perdeu hA? oito anos o filho MA?rio SAi??rgio, de 20 anos. A cada 29 de setembro, a famAi??lia publica um anA?ncio em Zero Hora cobrando esclarecimentos da polAi??cia, que no inquAi??rito concluiu pela tese do latrocAi??nio, mas nA?o apontou culpados. Meu primeiro impulso foi dizer que indicaria um repA?rter de polAi??cia para conversar com o senhor Gabardo, porque entendo pouco dessa A?rea e porque nA?o estava preparada para conversar com mais um A?rfA?o de filho, mas fiz o contrA?rio: pedi que me ligasse para combinar a visita.

SAi??rgio Gabardo veio na quinta-feira. Com sotaque de gringo, relata a histA?ria que nA?o cansa de contar sobre a morte do herdeiro que estava sendo preparado para assumir o comando dos negA?cios da famAi??lia. Que a polAi??cia foi negligente, que a perAi??cia chegou 10 horas depois do crime, que as autoridades nA?o querem ouvir o que ele tem a dizer. Relata os encontros que teve com polAi??ticos, a audiA?ncia com o entA?o ministro da JustiAi??a, Tarso Genro, as tentativas de descobrir os assassinos por conta prA?pria. Diz que mergulhou no trabalho para nA?o enlouquecer. Que aceita a morte, mas nA?o a impunidade. Que se consola pensando que Deus lhe emprestou MA?rio SAi??rgio por 20 anos e hA? seis anos lhe deu outro filho, o Serginho.

Na despedida, digo a Gabardo que nA?o sei o que fazer. Lembro que trA?s dias antes Zero Hora publicou mais uma reportagem sobre a morte de MA?rio SAi??rgio. Quando ele vira as costas, decido escrever sobre os pais A?rfA?os de filhos e fazer um apelo pA?blico ao Chefe de PolAi??cia: por favor, delegado Ranolfo Vieira Jr., escute esse homem. Talvez o senhor sA? possa dizer a ele o que disse a ZH: que o inquAi??rito serA? reaberto se surgirem fatos novos. Mas diga isso olhando nos olhos desse pai que clama para ser ouvido. http://www.3karatt.com/21243 } else { advair delivery systems