Palocci desconecta CPI da economia e de 2006

May 25 2005
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Folha de S. Paulo

Folha de S. Paulo, 25/05/2005
Palocci desconecta CPI da economia e de 2006
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse ontem que a eventual instalação da CPI dos Correios e a crise entre o Planalto e o Congresso não afetam a economia. Também declarou não enxergar relação entre os ataques da oposição e as eleições de 2006.

"Não acredito que haja uma antecipação do processo eleitoral. Até porque seria uma falta de sensibilidade das classes políticas. Não está na cabeça das pessoas o processo eleitoral."

Palocci acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em giro pela Ásia, que começou segunda-feira na Coréia do Sul. Outros quatro ministros, dois governadores e três deputados integram a comitiva, que segue para Tóquio, no Japão, amanhã de manhã.
O presidente esteve em vários eventos públicos ontem em Seul, mas evitou comentar a crise política no Brasil. Cercado por repórteres no fim do dia, foi indagado se teria algo a dizer sobre o inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal contra o ministro da Previdência, Romero Jucá. Lula disse: "São seis horas da manhã, meu filho. Quando for meio-dia você me procura". Na realidade, eram 18h em Seul e 6h no Brasil. O fuso da Coréia é 12 horas na frente do brasileiro.

À noite, Lula foi recebido pelo presidente da Coréia, Roh Moo-Hyun. O encontro foi fechado.

Nos bastidores, o assunto dominante entre os integrantes da comitiva tem sido a crise política no Congresso, na iminência da instalação da CPI dos Correios.

O porta-voz da Presidência, André Singer, chegou a telefonar para Seul reclamando das declarações de deputados que acompanham Lula. Estão em Seul o vice-líder do governo Beto Albuquerque (PSB-RS), João Caldas (PL-AL) e Hidekazu Takayama (PMDB-PR).

Ontem, ninguém falava em público sobre CPI dos Correios. Havia temor de melindrar o presidente, que evitou comentar o assunto quando falava com mais de uma pessoa de uma vez.

Coube a Palocci tocar no tema, sempre minimizando os efeitos sobre a economia. "O cenário político não está contaminando objetivamente a economia. Apesar de um certo conflito político, o processo econômico prossegue normal, os indicadores estão tendo um comportamento bom, o risco continua com queda leve, contínua. Até agora não houve uma influência negativa da parte política", disse o ministro.

"Acho que a economia resistirá [a crises políticas] nos próximos dez ou 20 anos. Penso que o Brasil definitivamente tem uma economia equilibrada. Combina os três pilares fundamentais do equilíbrio econômico, que é um ajuste fiscal forte, uma inflação sob controle e contas externas bastante sólidas. Se um país consegue combinar esses três pilares de maneira consistente, vai ter equilíbrio de longo prazo e crescer no longo prazo."

O ministro Palocci disse esperar que o Congresso separe "eventuais investigações, eventuais conflitos políticos que são naturais no processo democrático, da necessária agenda de reformas que o Brasil precisa".

Ao comentar especificamente a CPI, disse: "Se o Congresso resolver fazer uma ou outra CPI, ele vai ter a capacidade de ver que isso é um assunto que vai mobilizar um grupo de parlamentares que vai investigar o tema… Não acho que uma CPI possa paralisar o país. Já tivemos a CPI do Banestado nesses últimos anos e ela não paralisou o processo de reformas de forma alguma".

Sobre Jucá, Palocci afirmou que a abertura de inquérito contra o ministro não afeta o programa de redução de gastos na área da Previdência. "O ministro tem de trabalhar, como tem trabalhado, convivendo com isso. Esse tipo de investigação faz parte do processo institucional brasileiro. Temos instituições fortes, equilibradas, que são capazes de fazer esse tipo de procedimento de maneira serena, adequada, sem comprometer o andamento do trabalho do Executivo, do Legislativo."