Panorama Político :: O PMDB nervoso

Feb 23 2007
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O Globo – Rio de Janeiro, RJ – 23/2/2007

Teresa Cruvinel

Os representantes do PSB que estiveram ontem com o presidente Lula saíram dizendo pelo menos duas coisas que enervaram muito os peemedebistas da Câmara. Há duas semanas, eles ouviram de Lula que a reforma sairia até o fim deste mês e que as escolhas não teriam relação com a convenção do dia 11. Ao PSB, disse o contrário. Metendo-se na briga do PMDB, Lula só tem a perder.

O PMDB não é o único partido estressado com a sinuosa condução da reforma ministerial pelo presidente. Todos estão, inclusive o PT. Lula os vem cozinhando no banho-maria da espera e nas contradições entre o que diz a uns e a outros. Pode ser método confundir e retardar as decisões para fazer tudo a seu modo na última hora. Mas há também o jogo de versões engendrado pelos que se encontram com Lula. Fernando Henrique já falou de seu espanto, quando presidente, com a capacidade dos visitantes de espalhar versões e de lhe atribuírem o que eles mesmos disseram nos encontros. Antes do carnaval, circularam duas versões conflitantes sobre os planos de Lula para o MEC. Por uma, ele teria dito que poria lá uma ministra. Marta Suplicy, obviamente. Segundo a outra, teria dito que não trocaria um ministro que está dando certo só para atender ao PT. Por aí se vê como é o jogo.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, mesmo tentando ser cauteloso, expressava ontem o desconforto de sua bancada com a mudança de planos e de conduta de Lula. Segundo o relato dos socialistas – o governador pernambucano e presidente do PSB, Eduardo Campos, e os líderes Beto Albuquerque e Renato Casagrande -, a reforma só sai na segunda quinzena de março, e Lula quer esperar pela convenção do PMDB.

Enquanto não ouvirmos algo diferente do próprio presidente, está valendo a conversa que tivemos. Ele nos disse que concluiria a reforma até o fim deste mês, inclusive porque a demora estava criando instabilidade em algumas pastas. E que as escolhas não teriam qualquer relação com a disputa interna na convenção do dia 11 ou com seu resultado. A bancada pode entender um atraso, por qualquer razão, mas não uma mudança de critério – diz Henrique Eduardo Alves.

Para os peemedebistas, a nova disposição do presidente equivale a dizer que ele pretende esperar para negociar com o lado vencedor da briga interna. Isso soa como uma ameaça para a bancada da Câmara, que apóia majoritariamente a candidatura do atual presidente, Michel Temer, contra a de Nelson Jobim, apoiado pelo bloco liderado pelos senadores Renan Calheiros e José Sarney. A demora na reforma seria do interesse deste último grupo, que poderia se apresentar às bases, na disputa por votos, como interlocutor preferencial de Lula. Mas é arriscado para o presidente entrar nesse jogo. Se ele dá a impressão de estar tomando partido, acaba empurrando a bancada da Câmara para uma postura desconfiada. Há votações importantes pela frente, como as medidas do PAC. O PMDB da Câmara tem 91 deputados. Formou um bloco com o PSC que lhe dá um contingente de 99 votos. Isso representa 20% da Câmara.

Os desconfiados já achavam ontem que a turma do PSB esteve com Lula a serviço do PMDB do Senado. Teriam falado na volta de Ciro Gomes à Integração Nacional, pasta supostamente destinada aos peemedebistas, para embolar mais ainda a situação. E teria sido deles, e não de Lula, a menção à convenção.

Do deputado Paulinho, da Força Sindical, sobre a escolha do ministro do PDT: “Se Lula vier com prato pronto, voltamos para a oposição”. Diz ele que só Carlos Lupi une o partido.

Ensaiando a reunião

A reunião do dia 6 entre o presidente Lula e os governadores está parecendo reunião do velho PSD. Tudo deve estar combinado antes de ela acontecer. Foi para isso que o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, esteve ontem com Lula. Tem estado no Planalto mais do que se sabe. O que os governadores estão dizendo, basicamente, é que apoiarão o PAC desde que lhes sejam garantidas condições para realizar também seus investimentos. Apresentaram uma vasta lista de reivindicações. Alguma delas terá que ser atendida. Arruda dá a entender que a conversa não vai prosperar se o governo vier apenas