Para aliados e oposição, vilões são os juros altos e a meta de inflação

Jun 01 2005
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Folha de S.Paulo

Folha de S.Paulo, 01/06/2005
Para aliados e oposição, vilões são os juros altos e a meta de inflação
O governo dividiu-se ontem entre a crítica à política monetária e a responsabilização de fatores econômicos excepcionais para justificar o avanço de apenas 0,3% do PIB no primeiro trimestre.

Em tom bastante duro, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que a taxa decepcionante é consequência de uma meta inflacionária "irrealista".

"A questão central é esse nó de câmbio e juros. Estamos praticando uma política monetária muito dura, decorrente de uma meta inflacionária irrealista", afirmou.

De acordo com Mercadante, a política monetária acaba tendo um segundo efeito perverso sobre a economia: contribuir para a apreciação do câmbio, prejudicando as exportações.

O líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), afirmou que o governo continua comprometido com o crescimento. Ele admitiu a hipótese de que a economia possa estar começando a sofrer com os problemas políticos do governo, de paralisia em votações importantes. "Temos que implementar projetos com mais celeridade, como aprovar a lei das agências. Essa taxa de crescimento ainda não é reflexo do quadro político, mas pode vir a ser."

Na Câmara, o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS), culpou fatores excepcionais e a conjuntura internacional desfavorável. A taxa abaixo do esperado, segundo ele, não comprometeria a meta global de crescimento acima de 4% em 2006.
"Estamos apenas no início da curva de crescimento. O primeiro trimestre teve o impacto de oligopólios, o reflexo da estiagem no Sul e a mudança gradativa no ambiente internacional, que não é mais tão favorável", afirmou.

A oposição apontou incoerência entre um governo que promete o "espetáculo do crescimento" mas adota uma política econômica que impede que isso ocorra.

"A média do crescimento dos três primeiros anos do governo Lula deve ficar abaixo de 3%, o que é medíocre para um país com as necessidades do Brasil", afirmou o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA).

Segundo ele, culpar a situação externa é um "absurdo". "O Brasil está crescendo abaixo da média da América Latina. E o Chile, que cresce tanto, por que não tem problemas externos?"

O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), disse que a culpa é do presidente Lula e sua equipe. "O país estagnou, o país parou. A responsável é essa taxa de juros maluca e irresponsável."