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Zero Hora – Porto Alegre, 18/8/2007
“PSDB e PT querem impor um radicalismo provinciano ao país”
Entrevista: Ciro Gomes, deputado federal (PSB-CE)
LEANDRO FONTOURA
Deputado federal proporcionalmente mais votado do Brasil, Ciro Gomes (PSB-CE) optou por uma posição estratégica: não participa do governo Luiz Inácio Lula da Silva – do qual foi ministro da Integração Nacional no primeiro mandato – e não ocupa cargos institucionais no Congresso.
Como ele mesmo define, é um parlamentar avulso. O objetivo é ficar livre, mesmo pertencendo à base do governo, e manter acesa a candidatura à Presidência. Ciro, 49 anos, é o principal nome do bloco formado por PSB, PDT, PC do B, PMN, PRB e PHS. Ele permanece no Estado até hoje participando de encontros políticos.
Zero Hora – A oposição diz que o governo é ineficiente e usa como exemplo o caos aéreo. O senhor concorda?
Ciro Gomes – O governo não tem ingerência instantânea sobre todos esses elementos. Sobre aqueles que tem, não teve um bom desempenho. A oposição, porém, abandona sua tarefa relevante de mergulhar nos problemas e identificar ineficiências e joga a culpa pelas mortes sobre a pessoa do presidente. Do outro lado, governistas passam a fazer relativizações estúpidas, como a de que é a minoria que usa avião. Embora seguido de um pedido de desculpas, o “relaxa e goza” (frase da ministra do Turismo, Marta Suplicy) foi uma indelicadeza que revela desrespeito à crítica. Não é possível que o debate se resuma a isso.
ZH – Por que o PT não lhe vê com a mesma simpatia já demonstrada por Lula?
Ciro – Tenho a estima, a amizade e o respeito da maioria esmagadora no PT, como tenho na maioria dos partidos. É natural que o PT tenha candidato a presidente. Também é natural que algum açodado me veja como eventual rival quando Lula dá sinais de estima.
ZH – O PT abrirá mão da cabeça-de-chapa em 2010?
Ciro – Duvido que faça, e não há nada de errado nisso. A vocação de qualquer partido é se apresentar para o julgamento popular em todos os planos. Essa também é a nossa pretensão. O PSB está em um bloco que tem o mesmo tamanho do PT do ponto de vista parlamentar. O PT tem muito mais base social e sindical, mas estamos avançando. Só que nosso olhar é para alianças. Não buscamos a hegemonia. O PT tem de pensar se essa hegemonia em todos os planos é justa com os aliados de sempre, que somos nós.
ZH – Haveria possibilidade de o senhor ser vice numa chapa com o governador Aécio Neves (PSDB), depois de ter passado anos criticando Fernando Henrique Cardoso?
Ciro – Fui fundador do PSDB, governador tucano e rompi com o partido por causa de sua contradição insuperável entre o que disse e prometeu e o que Fernando Henrique fez. Foi um desastre nacional. Sou amigo de Aécio e de Tasso Jereissati (presidente do PSDB), mas não acho que exista a menor probabilidade, do ponto de vista de onde estou e da percepção que tenho do país, de eu me associar a um projeto do PSDB.
ZH – Em 2002, a candidatura do senhor ficou marcada por um tom intempestivo. Como evitar que isto se repita?
Ciro – Aos 45 anos eu tinha aversão aos políticos de Brasília e acabei revelando isso em muitas ocasiões. Fui muito agredido e perseguido. Em São Paulo, havia um grave desequilíbrio na imprensa, e não tive a malícia necessária para conviver com isso com habilidade. Fui reagindo de forma grosseira e agressiva. Acabei me transformando numa figura que nunca fui. Apanhando, ganhei experiência e aprendi com meus erros.
ZH – O senhor considera que o poder está muito concentrado em São Paulo?
Ciro – São Paulo é um resumo do Brasil, mas tem uma elite política na atual conjuntura que é dramaticamente provinciana. Não tem percepção de Brasil. O príncipe disso é Fernando Henrique, que fez de tudo para destruir a política do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais. Ele sabe o que representou a coalizão desses dois Estados na Revolução de 30.
ZH – Essa elite paulista está no PT e no PSDB?
Ciro – Com exceções, creio que sim. PT e PSDB em São Paulo são a mesma coisa e se alternam no poder. Sonham para o Brasil o bipartidarismo que fizeram lá. São a mesma gente, têm os mesmos valores e concepções e apenas brigam pelo poder. PSDB e PT querem impor um radicalismo provinciano ao país, o que faz um mal tremendo ao Brasil. Quando o PSDB chega ao poder, o PT nega o diálogo e obriga os tucanos a confraternizar com a escória da política. Quando o PT chega ao poder, o PSDB nega o diálogo e obriga o PT a fazer o mesmo. E ambos dizem que fazem isso em nome da governabilidade. A gente precisa continuar assim?
( leandro.fontoura@zerohora.com.br )