Partidos formam blocos visando cargos da Câmara

Feb 01 2007
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Correio da Bahia, 1/2/2007 

Aliados de Lula se unem para assegurar seis dos 11 cargos da Mesa e a presidência da maioria das comissões

BRASÍLIA – Na guerra de nervos em que se transformou a reta final da disputa pela presidência da Câmara, os dois principais partidos da Casa, PT e PMDB, lideraram a formação de um inédito megabloco, reunindo 273 parlamentares – mais da metade da Casa –, para controlar seis dos 11 cargos na Mesa Diretora, além de 11 das 20 comissões. A formação do megabloco teve o único intuito de faturar cargos de controle da Câmara.
A eleição para a presidência e para os demais cargos da Mesa acontece hoje a partir das 15h. Além de PT e PMDB, o chamado “bloco da recomposição” é composto por PSC, PTC, PTdoB, PP, PR, PTB – as três últimas, siglas que estiveram ligadas ao escândalo do mensalão. Além do megabloco, foram compostas ontem outras duas frentes, criando um cenário nunca visto numa eleição da Câmara.

O segundo bloco é integrado por PCdoB, PSB, PDT, PAN e PMN, que tem 68 federais. A terceira frente, de oposição, tem PSDB, PFL e PPS, reunindo 153 parlamentares. Segundo os próprios integrantes dos partidos, os blocos não vão durar até o Carnaval. O regimento interno permite que as frentes sejam dissolvidas a qualquer momento. A aliança dos partidos também não garante transferência de votos na eleição, já que todos os candidatos apostam suas fichas nas chamadas “traições” – o voto é secreto e, por isso, o deputado pode contrariar a orientação partidária.

Aliados de Arlindo Chinaglia (PT-SP), de todo modo, avaliavam que a formação do megabloco os ajudará a eleger seu candidato, talvez já no primeiro turno. Consideram que os deputados indecisos das legendas que integram esta formação tendem a escolher o petista. Na partilha dos cargos, o PT apostou todas as suas fichas na eleição de Chinaglia à presidência.

Em busca de votos, a sigla cedeu os cargos a que teria direito na Mesa aos aliados. Mas a operação tem riscos: se Chinaglia perder, o PT se verá, novamente, sem vaga entre os sete titulares da Mesa. Pela divisão acertada ontem, o PMDB ficará com duas vagas na Mesa, entre elas a primeira secretaria, espécie de “prefeitura” da Câmara. A primeira vice-presidência caberá ao PSDB. O PR ficará com a corregedoria, instância responsável pela investigação dos parlamentares. O PFL levará a quarta secretaria. Restam ainda quatro suplências, que serão divididas, no voto, entre PTB, PDT, PPS e PT. O PT promete indicar uma mulher.
Quem pode ser prejudicado pela montagem dos três blocos é Aldo Rebelo (PCdoB-SP), já que o PFL, que o apóia, integrou o bloco de oposição, encabeçado pelo PSDB do candidato Gustavo Fruet (PR). O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), porém, afirmou que mantém o apoio a Aldo. “O PT criou uma confusão na instituição e, pela primeira vez, deixa claro sua natureza e sua identidade”, disse. “Esse bloco é overnight, aliás, todos são”, reconheceu José Carlos Aleluia (PFL-BA). A atração do PFL teve apoio do governador paulista, José Serra (PSDB), preocupado com um eventual domínio de governistas na Câmara. Com o bloco, a oposição garante três vagas (duas delas titulares) na Mesa.

A “guerra de blocos” começou com movimentações de PDT, PSB e PCdoB. Eles resolveram se juntar para tentar faturar mais espaço na Mesa. No entanto, foram “atropelados” por aliados de Chinaglia. Nos bastidores, líderes partidários reconheceram que a união em blocos obedece a uma função meramente fisiológica. Eles admitem que as frentes só resistirão enquanto persistir a discussão sobre a partilha de cargos, provavelmente na semana que vem, quando as comissões serão divididas.

“Como é próprio dos blocos, eles vão durar até o Carnaval”, ironizou o deputado Chico Alencar (RJ). O seu Psol não integra blocos, como o PV. Aliados de Aldo, como o PSB, negam o fisiologismo. “O nosso bloco foi uma opção política, não foi casuísmo só para compor a Mesa”, disse o vice-líder do governo, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS). “Eles (PCdoB e PSB) formaram um bloco para dar um golpe. E a gente foi forçado a reagir”, disse o líder do PP, Mário Negromonte (BA).