Petista prepara rolo compressor

Feb 01 2007
(0) Comments

Correio Braziliense, 1/2/2007

Chinaglia monta estratégia para isolar aliados de Aldo e ocupar as presidências e relatorias de 11 comissões. “Blocão” governista trabalha para vencer adversários no primeiro turno

“Placa tectônica”: presidentes e líderes de partidos que apóiam Chinaglia oficializam a formação de bloco governista

Perdendo ou ganhando a eleição pela Presidência da Câmara, o bloco parlamentar que apóia o petista Arlindo Chinaglia (PT-SP) para o cargo, formado por oito partidos que agregam 273 deputados, definiu como estratégia a ocupação das presidências e relatorias das 11 comissões mais importantes da Casa. O objetivo é isolar os 70 parlamentares do PDT, PSB, PMN, PAN, PHS e PCdoB, que também formaram um bloco parlamentar e defendem a reeleição do atual presidente Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A ocupação desses 22 cargos é possível porque o regimento interno da Câmara prevê a ordem das escolhas segundo o tamanho das maiores bancadas ou blocos.

Esta é, ao mesmo tempo, a mais nova arma da candidatura Chinaglia para tentar definir a disputa ainda no primeiro turno na eleição de hoje e uma vingança pela formação do bloco dos partidos com pequenas bancadas em torno da candidatura de Aldo. “Eles deram um tiro no pé ao formar um bloco, tentando reverter a maioria natural das maiores bancadas na Câmara”, explicou o deputado Luciano Castro, líder do Partido da República (PR), formado pela fusão de PL, Prona e PSC .

O bloco parlamentar que apóia Aldo terá direito a indicar o presidente e o relator de uma comissão somente na décima terceira rodada de escolhas, depois, inclusive, do agrupamento formado pelo PSDB, PFL e PPS, que está no décimo segundo lugar. A estratégia do “blocão”, apelidado pelo deputado Geddel Vieira Lima de “placa tectônica”, é passar como um rolo compressor sobre a dissidência do setor da base parlamentar de apoio ao Palácio do Planalto que resolveu aderir à candidatura de Aldo.

O bloco liderado pelo PSB, PCdoB e PDT terá direito a indicar dirigentes de apenas três das 20 comissões permanentes. Esses cargos são muito disputados porque eles ditam o ritmo de tramitação e o enfoque político e ideológico dado ao texto final das leis. A comissão mais importante é a de Constituição e Justiça. Ela funciona como uma espécie de crivo jurídico por onde passam todos os projetos de lei. Depois dela, a preferência tradicional dos parlamentares é pela Comissão de Finanças e Tributação, Fiscalização e Controle, Educação, Transportes, Minas e Energia e Educação.

Interesses do Planalto
Segundo avaliação dos governistas, a formação do “blocão” permitirá ao presidente Lula uma certa folga na aprovação dos projetos de interesse do Planalto. Com 273 votos, os aliados de Chinaglia podem aprovar projetos de lei simples e até de lei complementar, sem depender do PSB, PDT e PCdoB, que também fazem parte da base de Lula, mas optaram pela reeleição de Aldo.

Um dos primeiros sinais do aprofundamento do racha na base parlamentar governista na Câmara foi a declaração de ontem do ex-ministro da Integração Ciro Gomes (PSB-CE), deputado eleito para esta legislatura. “Há feridas insuperáveis nessa briga. Nunca mais vão cicatrizar”, disse. Segundo ele, a divisão na aliança partidária pró-Lula foi incentivada por “um cérebro de minhoca que está tangendo as coisas na Esplanada e no Congresso”. Apesar de ressaltar que vem tentando acalmar os ânimos entre governistas, as declarações de Ciro Gomes terminaram esquentando ainda mais as divergências.

Sobre a possibilidade de o bloco formado pelo seu partido, o PCdoB, o PDT e outros partidos menores não conseguir ocupar comissões importantes na Câmara, Ciro minimizou a importância dessa estratégia. “Acho ótimo ficar sem esses carguinhos. Esse negócio de cargos me anoja”, avisou. O ex-ministro preferiu argumentar que o bloco formado pelos apoiadores de Aldo Rebelo foi articulado porque os partidos são vizinhos ideológicos e aliados históricos. O ideal, para ele, seria se o PT se integrasse ao bloco de esquerda. “Mas a marcha da insensatez continua”, concluiu.

O ex-ministro, cotado para ser candidato à Presidência da República em 2010, previu ontem que as desavenças entre os partidos da base de apoio de Lula terão outras rusgas ao longo dos próximos quatro anos. “A história será contada pelo vitorioso que vai procurar curar as feridas dos vencidos propondo paz. Quem perdeu as eleições pode até aceitar a derrota, mas vai esperar a hora certa para dar o troco”. O vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS), sintetizou o clima entre os partidos da base de apoio ao Planalto: “Quem ganhou a eleição foi o presidente Lula, e não o PT”.