Planalto tenta acalmar PSB

Jan 25 2007
(0) Comments

Correio BrazilienseCorreio Braziliense, 25/1/2007
Planalto tenta acalmar PSB

Gustavo Krieger

Preocupado com desgaste da base aliada na eleição pela presidência da Câmara, Tarso Genro reúne-se com o comando do partido e nega que o palácio esteja oferecendo cargos em favor de Chinaglia

Tarso Genro: base governista unida contra candidatura de Fruet

O Palácio do Planalto fez mais um movimento ontem para acalmar o PSB, partido que acumula queixas do governo e do PT desde que começou a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Ontem o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, reuniu-se com o comando socialista.

Os dirigentes do PSB, que apóiam a candidatura do presidente Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à reeleição, reclamaram que o PT continua a oferecer cargos no governo Lula em troca de apoio a seu candidato, Arlindo Chinaglia. Tarso garantiu que o governo não participa das negociações. Ao final da conversa, governo e partido alinhavaram um acordo. Prometeram manter a disputa entre Aldo e Chinaglia longe dos ataques pessoais. Também se comprometeram a unificar a bancada governista na hipótese de o tucano Gustavo Fruet (PR) surpreender e entrar no segundo turno da disputa.

É um acerto típico das jogadas políticas. Na verdade, nem o governo nem o PSB levam muito a sério a idéia de que Fruet possa ser um dos nomes no segundo turno. Os socialistas esperam que o tucano obtenha entre 70 e 100 votos e fique em terceiro lugar. Já iniciaram as negociações para obter a maior parte desses votos.

Dirigentes do PSB chegaram a acenar com a possibilidade de apoiar secretamente Fruet, caso ele enfrentasse o petista Chinaglia. Era uma forma de ganhar simpatia e atrair os eleitores do tucano. Integrantes do palácio também consideram remotas as chances de Fruet aprontar uma surpresa, mas preferm não correr riscos e querem amarrar os votos do PSB e PCdoB, legendas governistas que estão com Aldo.

Impacto

O Planalto, que tentou durante muito tempo unir os partidos governistas em torno de uma só candidatura, hoje se dedica a reduzir o impacto da disputa. Não por acaso, a conversa dos socialistas com Tarso começou pela disputa na Câmara e terminou com a negociação de ministérios para o segundo mandato de Lula.

O comando do PSB estava presente na reunião. Além do presidente interino da legenda, Roberto Amaral, compareceram o líder na Câmara e senador eleito Renato Casagrande (ES), e o deputado Beto Albuquerque (RS), cotado para ser o próximo líder. Também está longe de ser uma coincidência que Casagrande e Albuquerque sejam dois dos principais integrantes da tropa de choque do governo.

Conversas

Os dirigentes do PSB cobraram do ministro uma definição sobre a reforma ministerial. Tarso respondeu que está recolhendo as demandas dos partidos para levá-las ao presidente Lula. Depois da eleição da Câmara, em 1º de fevereiro, o presidente promete uma nova rodada de conversas com os partidos. O PSB não apresentou sua pauta de cargos ontem. Vai reunir a direção partidária antes de entregar suas reivindicações. Na verdade, o partido quer esperar a eleição da Câmara. Os socialistas apostam que Aldo pode surpreender Chinaglia.

O PP quer manter a pasta de Cidades. Por falta de outros nomes que unam a bancada, pode ser até com o atual ministro, Márcio Fortes. O PR, antigo PL, luta para manter a pasta de Transportes. O PMDB, que tem uma posição estratégica, negocia com firmeza. O presidente do partido, Michel Temer, comunicou ao Planalto que sua legenda “quer uma presença no governo equivalente à sua representação parlamentar”.

Para quem não sabe, o partido tem as maiores bancadas na Câmara e no Senado. Avalia que isso pode render até seis ministérios. Terá de disputar espaço com os aliados e com o PT. Os petistas admitem perder cargos no novo ministério, mas não o poder. Querem concentrar as pastas mais importantes, as da área econômica e da área social.

Um posto poderoso

A eleição interna para o cargo ocorre a cada dois anos. Entre outras atribuições, o presidente da Câmara substitui o presidente da República caso o vice também esteja ausente do país. Apesar de receber o mesmo salário de um deputado, o presidente da Câmara exerce um grande poder — é o único que pode colocar em pauta um possível pedido de impeachment do presidente da República.

Há um detalhe no processo legislativo que merece destaque: todas as propostas de iniciativa da Presidência, dos outros poderes, de iniciativa popular e as medidas provisórias devem começar a tramitar pela Câmara, e não pelo Senado.