Plano federal definirá alianças nos estados
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Jornal do Comércio – Porto Alegre, 13/10/2009
por Gisele Ortolan
O cientista político Luis Gustavo Mello Grohmann projeta que a posição do PMDB nacional definirá o quadro da disputa eleitoral de 2010, inclusive no Rio Grande do Sul. Por enquanto mais próximo de apoiar a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o PMDB, segundo o especialista, ainda precisa vencer a disputa entre as suas lideranças nacionais para, depois, tratar dos arranjos estaduais.
Vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Grohmann também avalia a conexão das candidaturas do PSDB no País e no Estado. Observa que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), está cauteloso na construção de seu nome para disputa e que, diante do desgaste político da governadora Yeda Crusius (PSDB), a cúpula tucana poderá preferir outro candidato no Estado. “Se ela recuperar apoio e crescer, pode vir a ocupar esse lugar. Do contrário, é melhor para a candidatura do PSDB que o PMDB libere os estados e lance logo seu candidato ao Piratini.”
Jornal do Comércio – Qual é o cenário das eleições do próximo ano?
Luis Gustavo Mello Grohmann – A questão para a definição das eleições 2010 é que arco de coligações será construído. A eleição nos estados vai depender dos candidatos no plano federal. A partir deles é que serão definidas as coligações estaduais e suas limitações. O quadro não está determinado. De um lado, há forte tendência de que o PT confirme a candidatura de Dilma Rousseff. De outro, indicativos da candidatura de José Serra, com vantagem em relação a do (governador de Minas Gerais) Aécio Neves (PSDB).
JC – O PSDB vai optar por Serra?
Grohmann – A fatura não está liquidada, não se sabe o que pode acontecer no ano que vem. Serra está construindo com cautela a sua indicação. Tudo indica que será o candidato do PSDB. A partir disso, a incógnita passa a ser o PMDB. Lança ou não candidato? Vai ser vice? Pesa a disputa entre as próprias lideranças peemedebistas sobre estas indicações e também como vão ficar os arranjos estaduais, como nos casos de Rio Grande do Sul e São Paulo.
JC – Aqui no Estado, a crise política na gestão de Yeda Crusius pode afetar candidatos dos partidos da base aliada, caso do próprio PMDB?
Grohmann – Depende da campanha. A governadora sofreu um imenso desgaste. As pessoas dizem que o eleitor não sabe votar, não se lembra e não tem envolvimento. Mas isso não passa de exagero retórico. A oposição deve ter sucesso ao fazer conexão entre lideranças, deputados e políticos que estão apoiando a governadora.
JC – Por quê?
Grohmann – Porque o eleitor se lembrará e irá fazer a ligação entre uma coisa e outra. Toda vez que um candidato está bem situado na majoritária, ele se encarrega, nas proporcionais, da coligação eleitoral que lhe apoia. Da mesma forma, um candidato que está mal prejudica o seu partido. Nesse sentido, há uma previsão de diminuição de votos desses políticos de apoio ao governo. Mas, desde que a oposição ou os adversários de Yeda consigam trabalhar isso na campanha.
JC – O candidato do PT, ministro Tarso Genro, irá explorar isso?
Grohmann – Não diria ele, pois é menos da chapa majoritária do que do partido. Não é coisa para o candidato majoritário, embora essas questões sempre surjam em debates.
JC – Yeda diz que será candidata. Qual é o cenário com e sem ela na disputa ao Palácio Piratini?
Grohmann – Do ponto de vista nacional, se o PMDB confirmar apoio ao PT, a situação vai ficar ruim para o PSDB e seus candidatos no Rio Grande do Sul. Se o PMDB liberar as alianças nos estados, os peemedebistas aqui podem produzir a coalizão atual e apoiar Serra. Ainda assim, o candidato tucano à presidência enfrentará a dificuldade de ter Yeda buscando a reeleição, o que faz com que não tenha um sólido apoio no Estado.
JC – Percebe-se uma disposição da cúpula nacional do PSDB para que Yeda não tente a reeleição?
Grohmann – A denúncia que saiu em uma revista de circulação nacional (Veja) no início deste ano reativou o problema enfrentado pelo governo acerca das suspeitas de corrupção. O assunto já estava morno, controlado. Mas a reportagem reativou o processo de desgaste. O veículo tem posições antigoverno federal. Então, o que há por trás dessa denúncia temporã? É possível que houve alguém interessado em fazer a questão retornar à pauta.
JC – O PSDB nacional não veio em socorro do governo do Estado.
Grohmann – O socorro foi o possível. O quadro é complicado. A crise se inicia dentro do próprio governo. Nessas condições, fica difícil fazer uma defesa forte. Limita-se ao protocolar, como tem feito a direção do PSDB até agora.
JC – O PSDB nacional prefere um candidato do PMDB ao Piratini?
Grohmann – Seria interessante para Serra, tendo em vista os índices de rejeição da governadora. Mas, se ela conseguir recuperar apoio e crescer junto à população, poderá vir a ocupar esse lugar. Do contrário, é melhor para a candidatura do PSDB que o PMDB libere os estados e lance logo seu candidato ao Piratini, que poderá apoiar Serra.
JC – As bases do PMDB gaúcho têm pressionado para que o partido defina logo seu candidato ao governo.
Grohmann – A direção tem segurado porque não há uma definição nacional. Mas se o partido estadual mantiver a indefinição por muito tempo, corre o risco de ficar inviabilizado.
JC – O cenário nacional pode determinar a escolha entre o ex-governador Germano Rigotto e o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, pelo PMDB?
Grohmann – A escolha é mais de economia doméstica. Ambos são cordiais, com trânsito e capacidade de diálogo. Têm perfil parecido, mas com bases eleitorais diferentes. São candidatos que agregam e os dois têm viabilidade eleitoral. O que está ligado à questão nacional é a disputa entre (o deputado federal) Eliseu Padilha e (o senador) Pedro Simon pelo comando da legenda que, de certa maneira, está conexa com o quanto o partido vai aderir ou não ao plano nacional. Simon representa uma linha de mais autonomia. Padilha amplia compromissos com o plano federal.
JC – Confirmada a polarização, como projeta a disputa PMDB x PT?
Grohmann – É difícil fazer prognóstico, pois temos uma questão reversa da eleição anterior quando Lula estava muito desgastado no Sul. Agora não está. Outra questão é verificar o quanto o presidente consegue transmitir deste bom momento para o candidato que vai apoiar. Depois, cabe verificar que tipo de aliança será construída. Por isso, Tarso não pode estreitar as opções se quiser garantir viabilidade e evitar virar um obstáculo à candidatura Dilma. Uma candidatura estadual não é capaz de impulsionar uma nacional. Mas pode colocar obstáculos.
JC – Há viabilidade na candidatura do deputado federal Beto Albuquerque (PSB) como terceira via?
Grohmann – Desde a disputa entre Antônio Britto e Olívio Dutra (PT), o eleitorado tem visto uma terceira via surgindo e está aceitando. Tenho dúvidas sobre a coalização que essa candidatura terá interesse em se aliar no plano federal. Há momentos em que os partidos lançam candidaturas apenas para marcar presença. Mas a candidatura de Beto Albuquerque tem viabilidade eleitoral e pode se constituir como alternativa ao Piratini.
JC – Poderia compor com o PDT?
Grohmann – Sim, porque não precisaria se envolver em uma disputa – entre PT e PMDB, Dilma e Serra – e com a possibilidade real de ser bem-sucedido.
JC – E o PP pode se fortalecer?
Grohmann – O partido hipotecou muito do seu patrimônio com o governo Yeda. Até onde ele vai levar esse compromisso? Até a reeleição da governadora? Do ponto de vista nacional, o PP provavelmente apoiará Dilma. No Estado será liberado? O quadro é complicado para o PP.
JC – E as recentes pesquisas?
Grohmann – São preliminares, servem para testes de candidatos. São momentos e o que importa é o próximo da eleição.
JC – O PT conseguirá agregar nacionalmente os partidos de sustentação do governo Lula?
Grohmann – Nos partidos menores será relativamente simples. O problema está nos maiores, que têm capacidade de ter candidato próprio. A questão-chave, volto a dizer, é para onde irá o PMDB.
JC – E o PSDB?
Grohmann – Talvez reproduza a coalizão com o DEM.
JC – Uma coligação à direita.
Grohmann – Não coloco o PSDB na direita. É um partido de centro, suas coalizões tendem à direita. Disputa espaço com o PT, que tende a fazer alianças à esquerda. Não quer dizer que o PT não possa fazer coalizão com partido de direita. No PSDB, a agenda caminhou mais para o centro e isso faz com que a disputa fique acirrada. O PT leva alguma vantagem neste momento por ter um presidente popular. Resta saber como o seu carisma será repassado às candidaturas do PT.
JC – Como no caso de Dilma?
Grohmann – Dilma é uma página em branco eleitoralmente, nunca concorreu a um cargo eletivo. É excelente técnica, com grande capacidade. Mas ninguém sabe se o seu estilo vai ser aceito. O dilema, não diria que são os discursos, nem os programas de televisão, mas os debates.
JC – E as perspectivas de Marina Silva (PV) e Heloísa Helena (P-Sol)?
Grohmann – Heloísa não quer se candidatar à presidência. Provavelmente, concorra ao Senado, pois perdeu por não estar lá, onde dava visibilidade ao P-Sol. Marina vai tirar votos da esquerda do PT e de outros setores. Há uma incógnita: pode prejudicar a candidatura de Dilma na sua região. No resto do Brasil, não se sabe.