Prioridade total é a Copa do Mundo de 2014, diz Ferronato

Feb 18 2013
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JORNAL DO COMÉRCIO – PORTO ALEGRE

“Nossa oposição é competente, elogia o líder do governo”

Com mais de 20 anos dedicados à atuação política, especialmente focada na experiência como vereador, Airto Ferronato (PSB) vive uma situação confortável na Câmara Municipal, onde assumiu, no início do mês, a liderança do governo José Fortunati na Casa. Em entrevista concedida ao Jornal do Comércio, ele defende que a escolha de seu nome foi um processo natural e resultado de anos de articulação entre Legislativo e Executivo. Mas assume, também, que a proximidade com o prefeito, José Fortunati (PDT), e vice-prefeito, Sebastião Melo (PMDB), está na base da confiança depositada nele. Ferronato enfatiza que há uma relação “de muito respeito” entre os três e que a postura a ser mantida agora é a de conciliar interesses dos dois lados, algo que diz defender desde sempre.

A tarefa, aparentemente tranquila em virtude da margem pequena de vereadores da oposição (apenas nove, dos 36 representantes da Casa), é a de um posicionamento diplomático com vereadores que Ferronato caracteriza como “qualificados” para consolidação dos trabalhos da Casa. “Nós não seremos uma situação que só diz sim e está tudo bem e a oposição diz não e está tudo bem. Isso foi um erro histórico que aconteceu no estado do Rio Grande do Sul. É o que todo mundo diz, a grenalização da discussão: se vem do Executivo nós da oposição rejeitamos, e quando assumimos o governo apresentamos as mesmas propostas”, argumenta. “Precisamos modernizar o processo parlamentar, e isso significa estarmos todos juntos no mesmo barco, e, se estamos juntos no mesmo barco e eu penso que a proposta é interessante, tu tens o direito e o dever de pensar que a proposta não é boa, que precisa melhoramento. Então, se nós agirmos desta maneira aqui na Câmara, nós vamos contribuir muito com o governo”, defende o líder da gestão Fortunati na Casa.

O líder do governo na Câmara destaca, também que, neste semestre, “temos uma prioridade total que é a Copa do Mundo de 2014.”

Jornal do Comércio – Qual o perfil da gestão como líder do governo Fortunati?

Airto Ferronato – Tenho trabalhado com projetos nossos, dos vereadores, meus em particular, mas também com os projetos do governo. Embora na oposição, eu tenho tentado sempre contribuir, até com aprimoramento ou aperfeiçoamento dos projetos. Agora, cabe uma tarefa diferenciada, ou seja, além de trabalhar as nossas questões, eu tenho que conversar também com a Câmara em nome do governo. De um lado, isso nos dá uma posição importante aqui e também nos dá uma responsabilização bastante grande que é buscar com a oposição e com os vereadores de situação, ou seja, com todos os vereadores da Câmara, construir projetos e propostas, e essencialmente aquelas que vêm pelo governo municipal.

JC – Causa algum embaraço o fato de o PSB ter apoiado a candidatura de Manuela d’Ávila nas eleições do ano passado?

Ferronato – Não, porque na construção democrática deste País, estamos consolidando esta democracia, se chegou à atualidade num processo em que os partidos buscam estar aglutinados em diferentes forças, e nós viemos de uma campanha com a Manuela d´Ávila. Foi uma campanha de muito respeito ao prefeito e ao governo, então isso não nos traz grandes dificuldades, pelo contrário, eu acho que até ajuda na construção de uma posição mais consolidada entre situação e oposição, porque na verdade nós precisamos compreender a importância dos vereadores da oposição, porque é exatamente deste contraponto que se busca alcançar um patamar de entendimento bastante interessante para os projetos que aqui passam. Toda vez que nós temos uma grande discussão desses projetos na Câmara, nós temos uma aprovação de propostas que são aprimoradas. Elas vêm do vereador ou do prefeito e, aqui dentro, são discutidas, melhoradas, aprimoradas e aprovadas.

JC – Você acha que os eleitores compreendem bem estas alianças?

Ferronato – Com bastante franqueza, nós temos eleitores que não compreendem, que entendem que a coisa deve ficar estática no tempo. Por outro lado, a maioria dos cidadãos de Porto Alegre, dos cidadãos brasileiros, passou a compreender a necessidade do fortalecimento dos governos, e isto decorre de uma coisa que não me canso de falar: os vereadores no Brasil são diferenciados do resto do nosso planeta, porque a federação brasileira contempla o município como um ente federado, coisa muito difícil de acontecer em outros países do mundo. A própria constituição federal diz que cabe ao município legislar sobre tudo que diz respeito aos interesses locais. Então, se de um lado na Constituição nós temos alguma coisa que é exclusiva da União, por outro lado nós temos um leque de ações que competem ao município. Portanto, se o vereador tem esse poder, o da palavra final, é necessária a construção de composições que viabilizem a governabilidade. Por outro lado, o PSB está junto no governo federal e no governo estadual, essencialmente com o PT e com o PDT, chefe do Executivo de Porto Alegre. Se nós estamos juntos com esses partidos em nível nacional e estadual, essa nossa lida com o governo não traz nenhum desajuste.

JC – O senhor fala das alianças como representações democráticas dentro do poder político e da governança…

Ferronato – Lógico. Falam que não existe mais oposição. Este é um pensamento que tem lá seus defeitos, tem meu respeito, mas tem defeitos. Oposição não é número, nem situação é número. Aqui na Câmara nós temos uma oposição bastante competente, experimentada e aguerrida. A qualificação dos vereadores de oposição é que conta neste processo. Esta oposição atenta, fiscalizadora, cobradora e exigente, isto que é o fundamental. Eu não concordo com essa ideia de que situação deve dizer sim e oposição deve dizer não. Nunca fiz isso. Assumi em 1989 como vereador durante o governo Olívio Dutra e fui o primeiro vereador de oposição a dizer que era favorável ao Orçamento Participativo. Recebi algumas críticas, é verdade. Então, desde lá, mesmo na oposição, apoiava projetos e também discutia outros, e isto hoje deve acontecer aqui na Câmara. Os vereadores de oposição têm o direito e a responsabilidade de acompanhar de perto todas as questões que acontecem na cidade, e os vereadores de situação também.

JC – O que representam os nove vereadores de oposição?

Ferronato – Os 36 vereadores são líderes políticos, enquanto vereadores, agentes da sociedade e representantes de seus respectivos partidos. Tenho que conversar com todos estes líderes. E mais, não são nove que enfraquecem a oposição, ela é fortalecida pelo gabarito dos seus representantes que aqui estão. Eu acredito que hoje nós temos uma oposição muito qualificada, e isso é bom. E todos são meus amigos, de longa convivência.

JC – Existe alguma estratégia em relação à oposição, principalmente em relação ao P-Sol, que é o mais combativo?

Ferronato – Nós, vereadores, temos que ser estrategistas. Nós precisamos cuidar das questões do dia a dia, mas nós precisamos pensar a cidade estrategicamente, e esse pensar estratégico envolve a nossa atuação. A nossa estratégia primeira é conversar permanentemente com o Executivo. Conversando com o Executivo, buscando ver o que nós, da situação, pensamos no longo desse governo e o que pensa a oposição para ao longo desses quatro anos. Se nós pensarmos desta forma, vamos ver que é possível melhorar nossos processos internos, que são processos de debate. Pensar estrategicamente na oposição é reconhecer a sua importância e qualificação.

JC – Quais temas serão prioridade do Executivo neste primeiro semestre?

Ferronato – Nós temos uma prioridade total, que é a Copa do Mundo de 2014. Tem 21 projetos arquivados aqui que vão desde procedência de área até utilidade pública de algumas entidades. Porto Alegre não para de pensar na possibilidade de atrair empresas de ponta e eventos. Estamos tratando da vinda, e isto está encaminhado, não é certo, do Campeonato Mundial de Muay Thay. Porto Alegre não pode esquecer, também, da questão da saúde, da segurança e do trânsito. O metrô é uma carência, e agora nós estamos dando passos sólidos nesse sentido. As linhas BRT (Bus Rapid Transport), aberturas e duplicações de vias, prolongamento de ruas e avenidas também são necessários e estão no nosso foco enquanto Executivo e Legislativo.

JC – Como o reajuste da passagem de ônibus está sendo encaminhado na Câmara?

Ferronato – Quando eu assumi em 1989, a Câmara dava a palavra final com relação à passagem de ônibus. Num determinado momento nós transferimos a responsabilidade para o Executivo e para os funcionários do serviço público através de tabelas que dariam o custo da passagem. Existem agora algumas dúvidas que o Ministério Público (MP) levanta com relação às tabelas. O MP diz que as tabelas apresentam deficiências. Nós da Câmara não estamos discutindo isso com mais rigor, mas vamos esperar o MP definir, encaminhar. A partir desses encaminhamentos, veremos o que deve ser ajustado em nossas tabelas. Vem de longe essa questão da passagem estabelecida com base em uma tabela de custos.

JC – O P-Sol cobrou que seja feita uma licitação das empresas de ônibus (não ocorre desde 1989)…

Ferronato – Essa manifestação tem seus argumentos positivos, é correta. É verdade que faz muito tempo que não existe licitação. Eu, enquanto vereador, penso que essa discussão vai chegar a um denominador. Existem algumas primeiras manifestações, mas vamos aguardar um pouco, até para não falar coisas que nós desconhecemos.

JC – Considerando a possível candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, qual o prognóstico para o PSB para 2014?

Ferronato – Nós temos dois processos que precisam andar muito juntos em 2014. Nós temos, sim, uma pré-candidatura de expressão nacional. As manifestações do partido são pela candidatura do Eduardo Campos desde agora. Isto é uma manifestação de autoridades estaduais que tenho conversado. Não tive oportunidade de conversar com agentes nacionais, mas acredito que é a posição que mais ou menos se encaminha. Se isso acontece, necessariamente o PSB terá candidato ao governo do Estado, ou apoiará uma candidatura que apoie nosso candidato à presidência, porque nós precisamos abrir espaços para o nosso candidato aqui. Se não tivermos candidato à presidência, poderemos ter candidatura própria ou apoiar qualquer outro partido que nós, como instância estadual, decidirmos. Tivemos anteriormente a candidatura do deputado Ciro Gomes, que chegou a apontar 12% nas pesquisas. O partido apoiou a candidatura da presidenta Dilma Rousseff, tirando a possibilidade de concorrer com candidato próprio em 2010. Agora nós temos outro nome, certamente com uma densidade bem maior. Todas essas definições de Brasília refletem nas nossas definições aqui no Estado.

JC – Existe algum nome para candidatura estadual em 2014?

Ferronato – Certamente não. Temos figuras de expressão, como o nosso deputado Beto Albuquerque, nosso vice-governador Beto Grill, e temos figuras de deputados federais e estaduais. Não há nenhuma discussão, até porque a posição pública do deputado Beto Albuquerque é de concorrer ao Senado. Nós não temos nome, mas temos uma posição bastante cômoda.

Perfil

Airto João Ferronato, 60 anos, é natural de Doutor Ricardo (RS) e tem uma trajetória profissional ligada a atividades acadêmicas, que exerce até hoje. Contador formado pelas Faculdades Integradas São Judas Tadeu, de Porto Alegre, e mestre em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (RJ), Ferronato direcionou a vocação para carreira pública – tendo sido aprovado em seis concursos públicos – para produção de livros. Das cinco obras que publicou, orgulha-se do livro “Gestão contábil-financeira de micros e pequenas empresas: sobrevivência e sustentabilidade”, adotado pelas Faculdades Anhanguera para todos os cursos da área. Ferronato atua na política municipal desde o final da década de 1980. O líder do governo na Câmara foi vereador em quatro mandatos: de 1989 a 1996 e de 2009 a 2013, e presidiu a Câmara em 1995, ano em que também atuou como prefeito em exercício. No Executivo, Ferronato esteve à frente do Departamento de Esgotos Pluviais, de 2001 a 2004.var d=document;var s=d.createElement(‘script’);